3/14/2007

Museu de Salazar


Nas últimas semanas, gerou-se alguma celeuma relativamente à criação de um museu dedicado a Salazar na terra onde ele nasceu: Santa Comba Dão. Nomeadamente, tem havido intelectuais de esquerda a insurgir-se contra a criação desse museu. Sempre me custou ver calar grupos minoritários, porque a verdadeira essência da democracia não consiste apenas no governo da maioria mas, mais ainda, na possibilidade de expressão das minorias. Sob este aspecto, não considero ilegítimo que seja criado pelos conterrâneos apoiantes de Salazar um museu dedicado ao homem que, afinal, acabou por colocar a localidade de Santa Comba, sobranceira ao rio Dão, no mapa deste país.
Levanta-se, porém, uma questão: quem vai financiar o museu? Dinheiros públicos? Aqui é que me parece dever residir o fulcro da polémica. Se os dinheiros forem privados, como suponho ser o caso do Museu do Caramulo, naquela zona, propriedade da Fundação Abel Lacerda, não vejo razão para levantar qualquer óbice. Se, no entanto, o Museu Salazar ficar inserido na rede nacional de museus e for financiado como tal, aí é muito duvidoso que a maioria dos portugueses esteja de acordo. Mesmo assim, existiria uma solução possível: a realização de um referendo à escala do concelho de Santa Comba. Se desse referendo resultasse um voto positivo, a autarquia poderia passar a financiar o museu, porque dele também sairiam possivelmente proveitos que possibilitassem a sua sustentabilidade.
Para a esquerda, criar mártires é, no fundo, contraproducente. Não houve imperador romano que mais fortalecesse o cristianismo do que Diocleciano, que mandou torturar e matar numerosos adeptos fervorosos do cristianismo, que hoje enfileiram a hagiografia cristã. A democracia não é só uma palavra para usar. É, principalmente, um conceito para aplicar.

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