4/21/2007

Isolamento ou abertura?

Quando abandonei uma pacatíssima vila onde vivi os meus primeiros dez anos e vim estudar para Lisboa, apanhei vários tipos de abanões. Encontrei pela frente um mundo bem diferente daquele que conhecia. Quando, alguns anos mais tarde, trabalhei durante cerca de um ano como assistente (para trabalhos de tradução e secretariais em línguas estrangeiras) do Presidente de um congresso médico mundial, obtive as minhas melhores notas na Faculdade. Quando, logo a seguir, fui trabalhar para a Alemanha aproveitando as longas férias da universidade portuguesa, regressei com a visão de um mundo bem diverso, mais avançado. Posteriormente, a estada em África durante a guerra colonial proporcionou-me o contacto com imensas coisas novas. Novos conceitos e aprendizagem real têm resultado do meu viajar bastante regular por vários países do mundo.
No entanto, durante a minha actividade profissional em escolas privadas e públicas, encontrei grande resistência a muito do que eu tinha entrevisto como novidade. (Mesmo assim, devo admitir que essa resistência foi menor nas instituições privadas do que na pública.)
A que virá agora este arrazoado? Vem a propósito da necessária maior abertura do país. Por muito que não queiramos aceitá-lo, a propalada ideia do "jardim à beira-mar plantado" dá mais a noção de isolamento do que de contactos múltiplos. O "orgulhosamente sós" do regime do Estado Novo já não pega, mas o conceito deste "nosso cantinho" mantém-se em grande parte. É verdade que a situação geográfica do país para isso contribui, mas não nos esqueçamos que também contribuiu para a expansão marítima, de que, no sentido de empreendedorismo, justificadamente nos orgulhamos.
Portugal terá apreciado tempo demais uma paz monolítica de conferir poderes excessivos a quem manda, de ter o Estado e a Igreja num conluio que noutros países foi, em vez disso, de luta, de possuir minorias elitistas e fechadas em si mesmas a dominar e a conduzir os destinos da maioria.
Num recente concurso televisivo que deu bastante que falar, não foi muito referido que os dois primeiros lugares foram, afinal, ocupados por figuras totalitaristas. E não por acaso, creio eu. Assim como totalitária tende a ser entre nós a Igreja católica, que vê com maus olhos a presença de outras religiões nesta "fidelíssima" nação. O mesmo se poderá dizer da atitude tipo-monobloco dos aqui-nascidos versus os vindos de fora.
E, no entanto, a experiência mostra-nos que os grandes saltos são os dados através do nosso contacto com o exterior. As já referidas viagens de exploração marítima de um pequeno país então com escassos dois milhões de habitantes são disso o melhor exemplo, tanto quanto o pior foi a expulsão do corpo estranho dos judeus, aliás detentor de formação muito superior à do português comum.
A grande viragem tentada e conseguida na nossa História com os filhos meio-estrangeiros de D. João I (D. Henrique, D. Pedro, Isabel) são um óptimo exemplo. O Marquês de Pombal, com o seu conhecimento in loco da vida na Inglaterra e na Áustria, o Verney com a sua experiência do mais avançado que se fazia lá fora no domínio da educação, o inteligente e culto Abade Correia da Serra que acabou repudiado pelos governantes portugueses, são outros bons exemplos do que poderia ter sido mudado e não foi. Existe uma contínua resistência à mudança, uma protecção encarniçada ao status quo, uma política de acomodação que faz com que, através do avanço de outros povos, nós acabemos por ficar para trás. Como dizia alguém (cito de cor): "Desenganem-se os que se vangloriam com as descobertas do Gama. Nós somos descendentes não dos que foram à Índia, mas dos que ficaram."
É por isso que a notícia da colaboração do MIT com universidades portuguesas tem de ser recebida com muito apreço. É claro que eles vêm cobrar e ganhar dinheiro. Mas o que importa é que se faça uma revolução na mentalidade. A recente parceria com um importante centro germânico de investigação científica é outro ponto a favor. Os nossos típicos in-breeding, política de círculo fechado e olhar para o umbigo só dão mais do mesmo. Congratulo-me com o facto de muitos portugueses fazerem mestrados, doutoramentos e pós-graduações avançadas em países mais desenvolvidos. Se há muito que aprender com outros, que se aprenda. Com gosto, vontade, e não com base na lei do menor esforço. O país precisa de dar o salto mais difícil, que é o da mentalidade, tanto a nível individual como em termos de nação.

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