O índice de Gini, aqui já várias vezes abordado, mede o grau de desigualdade de rendimentos numa determinada região ou país. Em Portugal, foi revelado há dias algo que já se sabia, embora com números ligeiramente inferiores. Foi divulgado que os 20 por cento mais ricos têm rendimentos que são 8,2 vezes superiores aos 20 por cento mais pobres. Na União Europeia, essa diferença queda-se pelas 4,9 vezes. Portugal confirma assim o seu posicionamento de país europeu mais desigual nesta matéria. Com mais de três décadas passadas depois da ruptura com o regime anterior através do 25 de Abril, e após 20 anos de integração na União Europeia, dificilmente poderíamos encontrar um indicador pior.
Entretanto, seguindo a letra do conhecido provérbio que nos diz que "os rios correm para o mar", este dado ajuda-nos a entender melhor a corrupção que por aí grassa, os capitais não taxados, os privilégios de sectores, empresas e pessoas. Compreendemos com mais facilidade a existência de um país por demais assimétrico, onde a desconfiança dos mais desprotegidos acaba por ter toda a razão de ser e, no fundo, também a dos privilegiados porque "o bom julgador por si se julga". O que se vai sabendo pela transcrição de conversas telefónicas entre alguns poderosos leva-nos direitinho ao "banco dos favores", clube onde se espera que um favor que a um se faz seja pago com favor de outro tipo, sempre do lado de fora da lei e da democracia que nos promete tratamento igual para todos.
Quando se diz que o português é desconfiado, não se está a dizer uma mentira. Quando se diz que aqui a inveja campeia, também não. Mas não haverá motivo para se pensar que "quem tem padrinhos, safa-se; quem não tem, amola-se"? O que tem isto a ver com um real Estado de direito? Será socialmente justo que um quinto da população mais rica possua rendimentos que são superiores em mais de oito vezes à quinta parte dos mais pobres?
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