Talvez contra a corrente, lastimo a saída de Correia de Campos do seu ministério. Teve uma tarefa difícil, ousou ir contra interesses instalados, procurou gerir melhor a saúde num país envelhecido, deu a cara em variadíssimos programas televisivos respondendo a autarcas, médicos, enfermeiros e à população em geral, mostrou ter arcabouço suficiente para dar conta do recado e, sem dúvida, patenteou possuir linhas bem definidas do que pretendia para melhores cuidados de saúde através da optimização de recursos humanos e equipamento. A sua política - que é, naturalmente a do governo - foi alvo de manifestações veementes por parte de populações do interior do país, que se sentem na generalidade ignoradas pelos grandes centros, nomeadamente por Lisboa. Os media não pouparam o ministro, pois quem compra jornais e vê televisão são maioritariamente pessoas que procuram eventos populistas. Um parto numa ambulância conduzida por bombeiros era imediatamente alvo de notícia. Era bom ter um bode expiatório no qual se pudesse bater.
Não me pareceu que Correia de Campos arvorasse a arrogância e narcisismo do primeiro-ministro ou fugisse ao debate. A política da saúde e as manifestações estariam no entanto a provocar problemas à popularidade do governo, e este bem precisa dela para as eleições do próximo ano. Assim, sem que decerto se vá recuar no que já foi feito no domínio da saúde, o ministro foi apeado.
1/31/2008
1/29/2008
Uma história com barbas
Quando andei no D. João de Castro, que era então o estabelecimento de ensino de Lisboa com melhor vista sobre o Tejo, sempre que os meus colegas e eu próprio nos referíamos ao liceu dizíamos "o Barbas". A razão óbvia residia no facto bem conhecido de D. João de Castro ter numa dada ocasião empenhado a sua farta barba como palavra de homem íntegro. Ora, esse Castro foi, como tantos outros o foram antes e depois dele, um vice-rei da praça portuguesa de Goa, hoje integrada na União Indiana. Tive recentemente ocasião de visitar Goa, que há muito se divide em duas partes devido ao assoreamento do rio Mandovi: Velha Goa, onde está a esmagadora maioria das grandes igrejas que os portugueses lá deixaram e que é hoje Património Mundial; e Pangim, que substituiu a antiga Goa e está mais próximo da foz do referido rio.
Foi com agrado que visitei Velha Goa. Como Património da Humanidade, está bem cuidada no que respeita aos seus monumentos, entre os quais se encontra o túmulo do celebérrimo S. Francisco Xavier. No museu local, o governo indiano foi isento e, contrariamente ao que perversas mentes lusas poderiam julgar, não camuflou o passado dos portugueses naquelas paragens. Muito pelo contrário. Duas amplas salas têm alinhados ao longo das paredes retratos quase em tamanho natural dos vários vice-reis e governadores da colónia. Os apelidos são bem conhecidos: Tello de Menezes, Souza Coutinho, Noronha, Mello e Castro, Almeida, Mascarenhas, Lourenço da Cunha, Gama, Furtado de Mendonça, Moniz Barreto, Távora, Sampayo e Castro, Saldanha e Albuquerque, e tutti quanti. Imagino que todos os retratos foram mandados pintar pelos próprios. Possuem tamanho standard e têm algo mais em comum: todos os governadores ostentam barbas negras, bem tratadas. Afinal, não era só o João de Castro!
Foi com agrado que visitei Velha Goa. Como Património da Humanidade, está bem cuidada no que respeita aos seus monumentos, entre os quais se encontra o túmulo do celebérrimo S. Francisco Xavier. No museu local, o governo indiano foi isento e, contrariamente ao que perversas mentes lusas poderiam julgar, não camuflou o passado dos portugueses naquelas paragens. Muito pelo contrário. Duas amplas salas têm alinhados ao longo das paredes retratos quase em tamanho natural dos vários vice-reis e governadores da colónia. Os apelidos são bem conhecidos: Tello de Menezes, Souza Coutinho, Noronha, Mello e Castro, Almeida, Mascarenhas, Lourenço da Cunha, Gama, Furtado de Mendonça, Moniz Barreto, Távora, Sampayo e Castro, Saldanha e Albuquerque, e tutti quanti. Imagino que todos os retratos foram mandados pintar pelos próprios. Possuem tamanho standard e têm algo mais em comum: todos os governadores ostentam barbas negras, bem tratadas. Afinal, não era só o João de Castro!
O mais interessante para mim foi deparar, numa breve visita que fiz a cada uma das igrejas, com uma capela do Espírito Santo que me encheu de espanto: então não é que, como reproduzo na fotografia, todos os onze "anjinhos" que rodeiam a imagem central são barbudos! Mera coincidência que fica para a posteridade.
1/17/2008
Toca a fazer ginástica!
Alguém me poderá explicar o alcance da medida do Governo de baixar o IVA aos ginásios?
Por acaso alguém estaria convencido que, sem medidas reguladoras de aplicação, passíveis de serem bem controladas, os ginásios iriam mesmo baixar as suas tabelas de preços?
E…já agora: não haverá neste abençoado país categorias de cidadãos a quem acudir primeiro do que aos pobrezinhos que frequentam ginásios (e onde me incluo)?
1/16/2008
Lembrando-me de uns amigos meus que andam pelo Oriente, aqui deixo um poema da Sophia de Mello Breyner:
Vi as águas os cabos vi as ilhas
E o longo baloiçar dos coqueirais
Vi lagunas azuis como safiras
Rápidas aves furtivos animais
Vi prodígios espantos maravilhas
Vi homens nus bailando nos areais
E ouvi o fundo som de suas falas
Que já nenhum de nós entendeu mais
Vi ferros e vi setas e vi lanças
Oiro também à flor das ondas finas
E o diverso fulgor de outros metais
Vi pérolas e conchas e corais
Desertos fontes trémulas campinas
Vi o rosto de Eurydice das neblinas
Vi o frescor das coisas naturais
Só do Preste João não vi sinais
As ordens que levava não cumpri
E assim contando tudo quanto vi
Não sei se tudo errei ou descobri
(Deriva)
Vi as águas os cabos vi as ilhas
E o longo baloiçar dos coqueirais
Vi lagunas azuis como safiras
Rápidas aves furtivos animais
Vi prodígios espantos maravilhas
Vi homens nus bailando nos areais
E ouvi o fundo som de suas falas
Que já nenhum de nós entendeu mais
Vi ferros e vi setas e vi lanças
Oiro também à flor das ondas finas
E o diverso fulgor de outros metais
Vi pérolas e conchas e corais
Desertos fontes trémulas campinas
Vi o rosto de Eurydice das neblinas
Vi o frescor das coisas naturais
Só do Preste João não vi sinais
As ordens que levava não cumpri
E assim contando tudo quanto vi
Não sei se tudo errei ou descobri
(Deriva)
1/08/2008
Sem título
A realidade choca-nos. Sabermos de crianças estropiadas em África, de misérias sociais no nosso bairro, vermos na rua mulheres incrivelmente desdentadas e sem dinheiro para irem ao dentista, depararmo-nos com drogados que vagabundeiam à nossa frente e quebram parquímetros para retirar meia dúzia de moedas, tudo isso é confrangedor. A realidade choca-nos. E choca-nos porque, conjuntamente com esses aspectos, vemos óptimos automóveis nas ruas, sabemos de festas espampanantes, lemos sobre viagens de sonho a países exóticos, deparamos com zonas de esplêndidas moradias e chegam-nos aos ouvidos lucros fabulosos de empresas que, em quantidade muito apreciável, vão parar directamente aos bolsos de uns poucos administradores.
Quando se diz que a realidade nos choca, há que juntar que a realidade nos cansa. Muito. Ler o primeiro parágrafo deste post terá sido penoso para os que a isso se abalançaram. Quem é gosta de ler sobre desgraças, o caos, as diferenças sociais? Como quem lê este texto não está decerto incluído nos socialmente excluídos, vê os seus olhos esbarrarem contra uma parede pintada com cores desagradáveis, que lhe fazem desviar o olhar, tal como o desviamos normalmente de um anúncio que apresente uma mulher velha e feia, ao contrário de um outro que nos mostre uma bela jovem de sorriso atraente. É humano, dir-se-á. Concordo. E desumano ao mesmo tempo. (É aqui que em inglês se fala em human, no primeiro sentido, e em humane, no segundo).
Dado que a realidade nos choca, há que fugir dela. Os condomínios cercados de gradeamentos e com um apertado controlo à porta são uma maneira de fugir de muita dessa realidade. São também, é certo, sintoma de uma sociedade desequilibrada, pois o ideal seria podermos sair de casa e deixar a chave na porta, como ainda cheguei a encontrar em várias povoações dos Açores e, parece, ainda sucede nalgumas localidades do Canadá. Oxalá se mantenha em muitos outros locais.
Uma maneira diferente, menos física, de escapar a essa realidade é falar de futuros risonhos e ignorar ou colorir o presente. "Bem-aventurados os pobres, porque deles será o reino dos céus", uma conhecida expressão da doutrina cristã, não é, note-se, uma condenação dos ricos - embora seja "mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no (mesmo) reino dos céus". "Bem-aventurados os pobres" passou a ser visto pela maioria dos pobres unicamente como um sedativo e uma tentativa de manter as pessoas infantilizadas. Com o desenvolvimento da educação, a quebra da religiosidade e o poder de voto dos pobres igual ao dos ricos em termos numéricos, a situação alterou-se. Presentemente, quando um governante afirma que "a redução do número de pobres em Portugal será da ordem dos 50 por cento em 2020", ele já encontra um muro de indiferença. O povo encontra cada vez menos consolação nas palavras de um sacerdote. Isto torna a vida mais difícil e penosa para os excluídos, mas quanto maior for a diferença entre ricos e pobres, maior será a sua auto-justificação pessoal para crimes que normalmente não seriam cometidos se as pessoas não estivessem revoltadas contra o status quo.
Como sair daqui?
Quando se diz que a realidade nos choca, há que juntar que a realidade nos cansa. Muito. Ler o primeiro parágrafo deste post terá sido penoso para os que a isso se abalançaram. Quem é gosta de ler sobre desgraças, o caos, as diferenças sociais? Como quem lê este texto não está decerto incluído nos socialmente excluídos, vê os seus olhos esbarrarem contra uma parede pintada com cores desagradáveis, que lhe fazem desviar o olhar, tal como o desviamos normalmente de um anúncio que apresente uma mulher velha e feia, ao contrário de um outro que nos mostre uma bela jovem de sorriso atraente. É humano, dir-se-á. Concordo. E desumano ao mesmo tempo. (É aqui que em inglês se fala em human, no primeiro sentido, e em humane, no segundo).
Dado que a realidade nos choca, há que fugir dela. Os condomínios cercados de gradeamentos e com um apertado controlo à porta são uma maneira de fugir de muita dessa realidade. São também, é certo, sintoma de uma sociedade desequilibrada, pois o ideal seria podermos sair de casa e deixar a chave na porta, como ainda cheguei a encontrar em várias povoações dos Açores e, parece, ainda sucede nalgumas localidades do Canadá. Oxalá se mantenha em muitos outros locais.
Uma maneira diferente, menos física, de escapar a essa realidade é falar de futuros risonhos e ignorar ou colorir o presente. "Bem-aventurados os pobres, porque deles será o reino dos céus", uma conhecida expressão da doutrina cristã, não é, note-se, uma condenação dos ricos - embora seja "mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no (mesmo) reino dos céus". "Bem-aventurados os pobres" passou a ser visto pela maioria dos pobres unicamente como um sedativo e uma tentativa de manter as pessoas infantilizadas. Com o desenvolvimento da educação, a quebra da religiosidade e o poder de voto dos pobres igual ao dos ricos em termos numéricos, a situação alterou-se. Presentemente, quando um governante afirma que "a redução do número de pobres em Portugal será da ordem dos 50 por cento em 2020", ele já encontra um muro de indiferença. O povo encontra cada vez menos consolação nas palavras de um sacerdote. Isto torna a vida mais difícil e penosa para os excluídos, mas quanto maior for a diferença entre ricos e pobres, maior será a sua auto-justificação pessoal para crimes que normalmente não seriam cometidos se as pessoas não estivessem revoltadas contra o status quo.
Como sair daqui?
1/06/2008
O Senhor de la Palisse
Quando alguém diz que "as cidades deviam ser construídas no campo" está claramente a dizer algo que o Senhor de La Palisse subscreveria. Assim o julgamos, pelo menos. Esta história não passa, porém, de mais um caso em que o mito se superiorizou à realidade. Jacques de Chabannes, senhor de La Palice (esta grafia coexiste com a de La Palisse), foi um militar francês que, graças a bravos feitos no campo de batalha, foi promovido a Marechal. Acabou por morrer com apenas 30 anos na batalha de Pavia, em Itália. Como era bastante popular junto das tropas, a sua morte foi sentida e alvo de várias chansons. Uma dessas canções diz, a certa altura, S’il nétait pas mort, il ferait envie. Duzentos anos mais tarde, o francês B. de la Monnoye readaptou satiricamente a chanson, transformando o verso em S’il n’était pas mort, il serait en vie, o que é uma verdade óbvia. Daqui nasceu o termo "lapalissada". Da canção de La Monnoye procurei fazer um remendado arremedo em português. São lapalissadas, umas atrás das outras.
Meus senhores, oiçam a canção
Do Senhor de La Palisse.
Talvez lhe encontrem graça
Se não a acharem tolice.
La Palisse pouco tinha
Quando a este mundo chegou
Mas nada lhe faltava
Quando rico se tornou.
Gostava de viajar,
Percorrendo todo o reino.
Se hoje estava aqui
É porque não estava ali.
Adorava andar de barco
E, quer na paz quer na guerra,
Era por água que ia
Quando não ia por terra.
De manhã bebia sempre
Vinho tirado da pipa.
Para comer em casa alheia
Ia em pessoa, o catita.
Preferia às refeições
Pratos de carne à maneira
E comemorava o Carnaval
Na véspera da quarta-feira.
Com o seu cabelo fulvo,
Era uma atracção fatal,
Se não houvesse outro assim
Não teria nenhum rival.
Homem de muitos talentos
Havia alguém que dizia
Que quando escrevia em verso
Não era em prosa que o fazia.
Verdade verdadinha,
A dançar era mauzinho,
E pr’a cantar, seria melhor
Se ficasse caladinho.
Foi-se o Senhor de la Palisse.
Morreu à vista de Pavia,
Mas um quarto de hora antes
É certo que ainda vivia.
Lastimou o seu destino
Ferido por mão fatal.
Dado que morreu disso
A ferida foi mortal.
Chorado pelos seus soldados
Sua morte fez inveja
O dia em que faleceu
Foi o último, bendito seja.
Morreu numa sexta-feira
Soltando agudos ais.
Se tivesse sido ao sábado
Teria vivido mais.
Meus senhores, oiçam a canção
Do Senhor de La Palisse.
Talvez lhe encontrem graça
Se não a acharem tolice.
La Palisse pouco tinha
Quando a este mundo chegou
Mas nada lhe faltava
Quando rico se tornou.
Gostava de viajar,
Percorrendo todo o reino.
Se hoje estava aqui
É porque não estava ali.
Adorava andar de barco
E, quer na paz quer na guerra,
Era por água que ia
Quando não ia por terra.
De manhã bebia sempre
Vinho tirado da pipa.
Para comer em casa alheia
Ia em pessoa, o catita.
Preferia às refeições
Pratos de carne à maneira
E comemorava o Carnaval
Na véspera da quarta-feira.
Com o seu cabelo fulvo,
Era uma atracção fatal,
Se não houvesse outro assim
Não teria nenhum rival.
Homem de muitos talentos
Havia alguém que dizia
Que quando escrevia em verso
Não era em prosa que o fazia.
Verdade verdadinha,
A dançar era mauzinho,
E pr’a cantar, seria melhor
Se ficasse caladinho.
Foi-se o Senhor de la Palisse.
Morreu à vista de Pavia,
Mas um quarto de hora antes
É certo que ainda vivia.
Lastimou o seu destino
Ferido por mão fatal.
Dado que morreu disso
A ferida foi mortal.
Chorado pelos seus soldados
Sua morte fez inveja
O dia em que faleceu
Foi o último, bendito seja.
Morreu numa sexta-feira
Soltando agudos ais.
Se tivesse sido ao sábado
Teria vivido mais.
1/05/2008
Responsável, eu?
Na manhã do passado domingo, com um nevoeiro ultra-cerrado, registei algo que já tenho presenciado mais vezes ao longo da minha vida. Concretizando: passeava eu ao longo do Tejo, no Parque das Nações, e não se divisava nada a mais de 20 metros. Olhando do rio para o lado do Pavilhão de Portugal, tudo o que se via era névoa. Uma névoa muito densa. Não é impossível que quem estivesse na "Expo" pela primeira vez se sentisse algo decepcionado. Em dois casos, notei que casais estrangeiros que estavam com amigos ou conhecidos portugueses receberam da parte destes desculpas pelo nevoeiro que fazia. As desculpas foram do tipo "Desculpem este nevoeiro. Não é vulgar!"
É uma reacção muito engraçada. De facto, já vi - e, naturalmente, quem lê estas linhas também - vários portugueses assumirem perante estrangeiros como que uma responsabilidade pelo (mau) tempo que num determinado dia faz. O caso é tanto mais curioso quanto é certo que os portugueses não costumam declarar-se responsáveis por coisas que correm mal, atirando geralmente as culpas do que eventualmente sucede para cima de uma outra pessoa, do Estado ou do inevitável "sistema". Será que, relativamente ao tempo, sentem que deveriam estreitar mais os laços com os deuses que o comandam? Serão reacções do povo-eleito cantado por Camões, com resquícios de uma forte costela judaica?
É uma reacção muito engraçada. De facto, já vi - e, naturalmente, quem lê estas linhas também - vários portugueses assumirem perante estrangeiros como que uma responsabilidade pelo (mau) tempo que num determinado dia faz. O caso é tanto mais curioso quanto é certo que os portugueses não costumam declarar-se responsáveis por coisas que correm mal, atirando geralmente as culpas do que eventualmente sucede para cima de uma outra pessoa, do Estado ou do inevitável "sistema". Será que, relativamente ao tempo, sentem que deveriam estreitar mais os laços com os deuses que o comandam? Serão reacções do povo-eleito cantado por Camões, com resquícios de uma forte costela judaica?
1/04/2008
Folhetim
Se o folhetim BCP estivesse a passar como tema central de uma telenovela da TVI, haveria decerto quem nele visse a mão do guionista tendencioso que procurava envenenar a sociedade mostrando casos que são do puro domínio da ficção. Infelizmente para nós, não estamos perante uma telenovela. Os personagens são reais e figuras mediáticas da nossa sociedade. Aqui é a realidade que se abre, revelando muito dos seus jogos ocultos. Vários ingredientes habituais da ficção estão à vista de todos: negócios ilícitos, negócios legais mas não necessariamente éticos, compadrio político, banco de favores, hipocrisia social, poder. Faltarão as costumeiras histórias de amor, mas essas cada um poderá ficcionar à sua maneira. Acresce que ainda não se conhece o final do folhetim, o que só faz aumentar o interesse do público pelos próximos episódios.
Numa sociedade que gosta de falar de transparência, democracia, valores éticos, parece que afinal vale tudo. E, se vale tudo, é porque não há valores que valham.
Numa sociedade que gosta de falar de transparência, democracia, valores éticos, parece que afinal vale tudo. E, se vale tudo, é porque não há valores que valham.
1/02/2008
Serviço de Atendimento Permanente (SAP)
O fecho de variadíssimos SAP por todo o país, encerramento que por vezes se limita ao horário nocturno, tem levado a previsíveis manifestações de veemente protesto contra esta medida governamental. Em época de constrangimentos financeiros e de necessidade de seguir a disciplina monetária preconizada pela Eurolândia, a medida pode ser compreensível no mundo dos números. Mas num país em que o número de idosos tem crescido a olhos vistos – e o idoso é, juntamente com a criança, quem mais carece de eventuais e urgentes cuidados médicos – este retrocesso tem necessariamente de ser impopular. A este propósito, dois ditos bem conhecidos são ambos acusatórios. Um deles diz-nos que “Quem dá e torna a tirar, ao inferno vai parar”; o outro “A rico não devas e a pobre não prometas.”
Politicamente, para o partido do governo, é uma situação muito negativa do ponto de vista eleitoral.
Politicamente, para o partido do governo, é uma situação muito negativa do ponto de vista eleitoral.
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