1/06/2008

O Senhor de la Palisse

Quando alguém diz que "as cidades deviam ser construídas no campo" está claramente a dizer algo que o Senhor de La Palisse subscreveria. Assim o julgamos, pelo menos. Esta história não passa, porém, de mais um caso em que o mito se superiorizou à realidade. Jacques de Chabannes, senhor de La Palice (esta grafia coexiste com a de La Palisse), foi um militar francês que, graças a bravos feitos no campo de batalha, foi promovido a Marechal. Acabou por morrer com apenas 30 anos na batalha de Pavia, em Itália. Como era bastante popular junto das tropas, a sua morte foi sentida e alvo de várias chansons. Uma dessas canções diz, a certa altura, S’il nétait pas mort, il ferait envie. Duzentos anos mais tarde, o francês B. de la Monnoye readaptou satiricamente a chanson, transformando o verso em S’il n’était pas mort, il serait en vie, o que é uma verdade óbvia. Daqui nasceu o termo "lapalissada". Da canção de La Monnoye procurei fazer um remendado arremedo em português. São lapalissadas, umas atrás das outras.

Meus senhores, oiçam a canção
Do Senhor de La Palisse.
Talvez lhe encontrem graça
Se não a acharem tolice.

La Palisse pouco tinha
Quando a este mundo chegou
Mas nada lhe faltava
Quando rico se tornou.

Gostava de viajar,
Percorrendo todo o reino.
Se hoje estava aqui
É porque não estava ali.

Adorava andar de barco
E, quer na paz quer na guerra,
Era por água que ia
Quando não ia por terra.

De manhã bebia sempre
Vinho tirado da pipa.
Para comer em casa alheia
Ia em pessoa, o catita.

Preferia às refeições
Pratos de carne à maneira
E comemorava o Carnaval
Na véspera da quarta-feira.

Com o seu cabelo fulvo,
Era uma atracção fatal,
Se não houvesse outro assim
Não teria nenhum rival.

Homem de muitos talentos
Havia alguém que dizia
Que quando escrevia em verso
Não era em prosa que o fazia.

Verdade verdadinha,
A dançar era mauzinho,
E pr’a cantar, seria melhor
Se ficasse caladinho.

Foi-se o Senhor de la Palisse.
Morreu à vista de Pavia,
Mas um quarto de hora antes
É certo que ainda vivia.

Lastimou o seu destino
Ferido por mão fatal.
Dado que morreu disso
A ferida foi mortal.

Chorado pelos seus soldados
Sua morte fez inveja
O dia em que faleceu
Foi o último, bendito seja.

Morreu numa sexta-feira
Soltando agudos ais.
Se tivesse sido ao sábado
Teria vivido mais.

Sem comentários:

Enviar um comentário