Por mero acaso, estive no outro dia com um indivíduo beirão com quem já tinha estado uma vez. A certa altura, da sala do 2º andar onde nos encontrávamos vi-o atirar pela janela fora (para o quintal que fica na parte de baixo) o cigarro que ele tinha estado a fumar. Lembrei-lhe que o cigarro aceso podia acertar nalguma pessoa ou num cão. "Se for num cão, não faz mal." A dureza do discurso impressionou-me - estamos num tempo em que falar contra os animais se tornou altamente incorrecto.
Ele explicou-me que não era tanto assim. Tinha um ódio tremendo a gatos e cães. Desde miúdo. Contou-me então a vez em que, gaiato ainda, tinha ido trabalhar para o campo com a mãe. À hora do almoço, não encontrou a sopa que levara no farnel exactamente intacta. Nem dava para meia tijela. "O gato andou por aí", disse-lhe a mãe. "Se calhar foi-te à sopa." Com a fome a apertar e o odiozinho aos bichos a martirizá-lo, o puto não esperou muito. Apanhando a mãe distraída a trabalhar, agarrou numa corda, filou o gato e enforcou-o. Assim! "Para que servem os gatos? Aquilo é bicho que não interessa!"
Se essa era uma história antiga, agora que o indivíduo já é quase avô, tinha entretanto uma outra fresquinha para contar. "Este fim-de-semana fui à terra por causa de uns terrenos que lá tenho e uma hortinha. Então não é que apanhei quatro cães a darem-me cabo das cebolas e do tomate que eu tinha plantado! Espojados a dormir e a esborrachar-me aquilo tudo, que me custou uma nota!" Perguntei-lhe de quem eram os cães. "Ninguém me disse quem era o dono. Mas hoje já não estão cá." "Não me diga que você os enforcou como fez ao gato quando era miúdo?" "Não. Não matei os cães. Eles é que foram gulosos! Foram comer o frango que eu tinha cozinhado com uma boa dose do produto que usamos nos terrenos. Garanto-lhe que nunca mais vão às cebolas nem a mais nada. Foi remédio santo!"
Santo é que o homem não é, caramba!
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