9/07/2008

A raiz dos conflitos

Tomemos o recente caso da Geórgia ou, numa escala infinitamente menor, disputas entre irmãos, discussões entre colegas, guerrilhas num casal, quezílias entre miúdos. Será possível encontrarmos algum ponto que seja comum aos conflitos que se geram? Existirá algo que, coincidentemente, seja presença constante na origem dos conflitos?
Creio que, se deixarmos o nosso pensamento fluir sem peias, acharemos uma resposta que será satisfatória pelo menos para alguns. Essa "descoberta" reveste-se da vantagem de, através do seu conhecimento, podermos evitar o deflagrar de discussões que por vezes acabam por ir mais longe do que o desejável, ou até de uma guerra que pode atingir proporções totalmente fora de controlo.
De qualquer forma, tudo depende muito da natureza e do bom-senso das pessoas envolvidas. Estas são passíveis de ser divididas em dois grandes grupos com enormes gradações entre si e forte probabilidade de variância: os pacíficos e os belicosos, ou, como na gíria militar se costuma dizer, as pombas e os falcões.
Quando é que duas adoráveis criancinhas se guerreiam? Quando uma delas entra no espaço da outra, v.g. quando se quer apoderar de um brinquedo, uma bola, uma bicicleta, etc. que não são propriamente seus.
Quando é que dois adolescentes se travam de razões? Quando, por exemplo, um pretende roubar ao outro a namorada, ou fabrica mentiras para o deitar abaixo, quedando-se ele, assim, por cima.
Quando é que dois (ou mais) familiares adultos entram em guerra? Quando, por exemplo numa questão de partilhas, não se entendem cordialmente quanto à divisão do território que cada um deve ocupar e discutem acaloradamente quem fica com quê, o que os leva frequentemente a incompatibilizarem-se - não raramente para o resto das suas vidas.
Quando é que um colega de trabalho se incompatibiliza com outro? Quando esse outro penetra no seu espaço e se insinua perfidamente junto das chefias para lhe ocupar o lugar.
Quando é que dois países se guerreiam? Quando um deles não respeita o espaço do outro, físico ou espiritual, i.e. quando um deles quer fazer valer os seus direitos sobre algo que não lhe pertence. Podem ser as águas de um rio, uma fronteira, uma região, um sistema de governo ou mesmo uma religião. Aí inicia-se um conflito, que é geralmente ganho pelo mais forte. O mais fraco pode chamar os seus amigos, que neste caso são designados como "aliados", e estes acudir-lhe-ão ou não, mediante os seus próprios interesses.
De qualquer forma, quando um conflito estala, existe geralmente um acumulado de situações anteriores que contribuem para a sua deflagração. Antagonismos enraizados, rivalidades mais ou menos ancestrais e ressentimentos do passado estão frequentemente por detrás de guerreamentos entre nações e pessoas: aspectos sociológicos e culturais que não são de modo nenhum despiciendos.
O mais curioso de tudo é o facto de a partilha do território do outro - sem invasão! - poder ser, pelo contrário, o início de uma longa amizade ou de um amor duradouro. Aí temos a comunhão de interesses comuns, com uma invasão pacífica e consentida por cada um dos intervenientes do seu próprio território, tanto física como espiritualmente. Essencial, depois, é que nenhum dos parceiros se proponha roubar a liberdade do outro, sendo prepotente, i.e. se lhe invadir o território, estala o conflito!
A conclusão desta despretensiosa e básica cogitação é que um conflito resulta essencialmente da ocupação indevida de um espaço ou território. A intromissão, que é tão vulgar entre os humanos, ocorre entre cidadãos comuns e entre países. É aqui que reside o cerne de qualquer conflito. Se os territórios individuais de cada um, do espaço físico à crença religiosa e à ideologia de uma maneira geral, forem respeitados por outros, haverá paz. A ânsia de conquista, de enriquecimento ou uma noção de superioridade sobre o outro levam à violação do espaço e à consequente conflitualidade.
Poderá e deverá questionar-se se uma paz constante, sem quaisquer conflitos de permeio, é conveniente. Poderá perguntar-se se a natural ambição do homem não traz mais benefícios do que desvantagens e, se por mor dela, os conflitos não acabam por ser benéficos. Estas são outras questões, a que cada um responderá da maneira que melhor entender e mais se coadune com o seu carácter e temperamento. De qualquer forma, a conclusão acima parece-me importante e útil como chamada de atenção. Pedir a outrem para "dar espaço" ou "dar tempo" faz bastante sentido.

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