4/14/2009

Escândalo inédito?

Que a política raramente é limpa, já todos o sabemos. Aliás, é daí que advém o termo "poluítica". Entre o governo e os principais partidos da oposição desenvolvem-se frequentemente guerras sujas, das quais, na cena internacional, o famoso Watergate do Presidente americano Richard Nixon (o tricky Dickie) terá sido o mais badalado. De qualquer forma, em inúmeros países não é nada raro que governo ou oposicionistas lancem campanhas de descrédito dos seus adversários. Para que essas campanhas possuam material consistente, vasculham-se segredos inconfessáveis de elementos relevantes do partido que se procura deitar abaixo a fim de, na altura conveniente, se intoxicar a opinião pública por via dos media. O timing é essencial. Os snipers, "atiradores furtivos", estão munidos das balas convenientes mas só as disparam quando o inimigo está a uma determinada distância. Aqui não se trata de distância física, como sucede em batalhas reais, mas sim de distância temporal das eleições, pois é nessa altura que o impacto do escândalo pode ser maior.
Desta vez não estou a falar de Portugal, embora estes parâmetros tenham eventualmente também a sua aplicação no nosso país. De momento, estou apenas a abordar o que se passa na Grã-Bretanha. Não é brilhante a situação do partido trabalhista do Primeiro-Ministro Gordon Brown. Para todos os efeitos aparentes, a bomba que se destinava a ir gradualmente explodindo através dos media rebentou ainda no bolso dos seus mentores. De acordo com a imprensa, a campanha que estava a ser orquestrada para desacreditar os conservadores liderados por David Cameron foi descoberta ainda antes de ser verdadeiramente lançada. O jogo limpo que Gordon Brown prometera está a comprometê-lo seriamente, embora o partido trabalhista faça agora o possível para proteger o seu líder, para tanto exigindo a demissão dos autores do plano.
É muito curioso o que se está a passar na democrática Inglaterra, onde, segundo alguns (minoritários) historiadores modernos, teve lugar no início do século XVII (1605) um acto dos mais bem sucedidos de todos os que foram forjados para derrubar inimigos políticos ou religiosos. Um blogue que presentemente está muito em foco no Reino Unido tem o nome de Guido Fawkes. Sintomaticamente, o seu nome indica que está especialmente atento ao que se passa no Parlamento britânico, na medida em que se refere a alguém mais popularmente conhecido como Guy Fawkes, que terá pretendido fazer explodir o edifício do Parlamento a 5 de Novembro de 1605, se possível com o rei James I lá dentro. Este Guy Fawkes terá sido não o cérebro mas o executante da manobra que pretenderia restaurar o poderio dos católicos na Grã-Bretanha. A história é demasiado longa para ser contada aqui, mas tem o interesse de possuir também defensores da tese de que Guy Fawkes - que trabalhava para uma abastada família católica - teria, afinal, sido manipulado por protestantes para o lançamento de uma campanha de descrédito dos católicos e consequente maior poder para os protestantes, o que de facto veio a suceder. Conspiração real ou inventona? Tenha sido uma coisa ou outra, o certo é que a actual situação de manipulação da política inglesa está longe de ser novidade.

P.S. Já agora, aproveito a deixa para lembrar um facto linguístico relacionado com o referido Novembro de 1605. Por volta do 5 de Novembro ainda hoje se comemora em diversos lugares do Reino Unido a Bonfire Night (noite das fogueiras) ou Guy Fawkes Night. Relembram-se assim os explosivos que felizmente não chegaram a rebentar. A miudagem britânica ganhou como costume fazer bonecos de trapos, atafulhados de papéis, a representar o "mau" Guy Fawkes, que na altura só não foi enforcado porque se atirou das alturas da forca cá para baixo para o chão, onde se estatelou e morreu. Os bonecos de trapos são depois queimados nas fogueiras. Dessas mal-amanhadas figuras resultou que no século XIX um homem mal vestido ganhou a designação de guy. Depois, no século passado e com continuação até aos nossos dias, o termo guy passou a aplicar-se a qualquer indivíduo do sexo masculino. By the way, is Gordon Brown a good guy?

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