11/22/2009

A outra face oculta

Bem, esta face oculta, devo desde já dizê-lo, nada tem a ver com aquela outra que faz vender jornais há algum tempo e que tem ocupado montes de noticiários nos media ultimamente. Mas aqui existe também uma face oculta, como veremos.
Para a descobrirmos, temos de recuar a tempos já antigos do turismo em Portugal, até ao início dos anos 70 do século passado, numa altura em que os autocarros de turismo ainda eram conduzidos por motoristas de cultura reduzida em matéria linguística, embora fossem não só bons profissionais como excelentes mecânicos. Recordo-me que, dentro da sua boa-vontade de aprender línguas à pressa, houve um motorista, experiente e delicado com os turistas estrangeiros que, depois de ter passado bem mais do que uma década a conduzir autocarros de carreira, se viu tentado a aprender as suas primeiras palavras na língua inglesa. Goodbye, ele aprendeu bem. Thank you, também, mais ou menos. Só o Good Morning é que não lhe saía muito bem. Dizia só morning e de uma maneira tal que havia turistas, algo surpresos, a darem-lhe dinheiro perante o seu sorriso e a palavra: é que a pronúncia dele não fazia grande distinção entre morning e money. Como era um erro rentável, ele ainda insistiu na má pronúncia durante algum tempo.
Mas a história da face oculta vem de outro caso e de um outro motorista que, tal como o seu colega do morning!, era um bom profissional. Só que... Quando os radares apareceram nas estradas a controlar a velocidade dos veículos, os motoristas tiveram que aprender a afrouxar um pouco em determinados locais para não serem autuados. Ora, na recta de Carcavelos estava frequentemente instalado um radar escondido, com polícias à coca. Ao entrar nessa recta, vindo do Estoril para Lisboa depois de fazer o costumeiro tour de Sintra, Cabo da Roca e Cascais, eis que o motorista em questão surpreendia o guia-intérprete que acompanhava o grupo. Tirava o boné que usava em serviço e, com ele, tapava o velocímetro do tablier. "Porquê?" perguntaram-lhe um dia. "Para eles não me tirarem a fotografia ao tablier." "Mas a polícia não tira fotografias dentro do carro!" "Tira, tira! Não sei como é que eles fazem, mas eu já vi um colega meu a ser multado e lá estava a rodinha com o ponteiro a marcar a velocidade a que ele ia. Por causa das coisas, tapo sempre o mostrador com o boné..."
Era a face oculta. Um pouco à maneira da outra, se ele de um lado tapava, do outro continuava a ver-se tudo.

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