3/03/2010

Espiões mais ou menos célebres

E agora, como os Monty Python diriam, algo completamente diferente. E curtinho. Começo pelo R.B. De entre os muitos professores de Inglês que admiti no instituto em que trabalhei ao longo de dezenas de anos, destaco o R.B. Não um que foi meu colega durante mais de vinte anos e de quem ainda hoje sou amigo, mas outro R.B. que, após uma entrevista para o lugar de professor que iria dentro em breve ficar vago, entrou pelas melhores razões. Tinha boa cultura, alguma experiência de ensino, possuía um curso de uma boa universidade inglesa e falava com grande clareza, numa pronúncia de que todos os alunos gostam. O seu português não era por aí além, mas fazia-se compreender. Pois, o R.B. não desiludiu. Os alunos apreciavam-no. Quando aos seus colegas, atentavam nele principalmente pela sua extraordinária capacidade de controlo de meditação. Na sala de professores, conseguia invariavelmente descansar de olhos fechados durante os cerca de dez minutos de pausa. Notável. Pouco após ter renovado o seu contrato por mais um ano, digamos um mês ou dois depois, o R.B. subitamente desapareceu. Deixou-me uma breve nota, que não dizia muito mas era suficiente: um compromisso inadiável obrigava-o a sair do país. Ia para a Ásia. Mais não disse. Através de um amigo comum, consegui confirmar aquilo de que não só eu por vezes suspeitava: o R.B. era um secret agent. O lugar de professor de Inglês era uma maneira de encobrir o seu verdadeiro papel. Estava ao serviço de Sua Majestade britânica, qual James Bond.
O R.B. foi o primeiro e único agente secreto que conheci pessoalmente. O curioso é que durante as nossas conversas calhámos a falar de Ian Fleming. Este, como todos sabemos, foi um famoso escritor inglês. Terá sido baseado num outro espião (de nome Popov)que, nos tempos da 2ª Grande Guerra, frequentava tal como ele a sociedade ociosa mas bem informada que se juntava no velho Casino Estoril, que Ian Fleming criou a figura do mais célebre espião inglês de todos os tempos: James Bond. Ao saltar para a tela cinematográfica, Bond ganhou uma nova dimensão, que isto de ser espião tem naturalmente os seus riscos. A contra-espionagem é séria. Mas um bom espião escapa sempre; às vezes até faz jogo duplo.
Vamos conhecer mais uns nomes de espiões famosos.
Robert Baden-Powell, militar inglês que faleceu em 1941 e ficou famoso por ter sido o fundador dos Escuteiros (Boy Scouts) exerceu a actividade de espião. Com todo o gosto, ao que se sabe. Fê-lo primeiro na África do Sul. Secretamente, desenhou mapas importantíssimos para os seus superiores. Oficialmente, trabalhava como correspondente de um jornal. Depois de ter actuado como espião das actividades dos alemães e dos russos, foi nomeado responsável por toda a zona do Mediterrâneo. Dos muitos disfarces que utilizou durante a sua vida, o mais engenhoso terá sido o de coleccionador de borboletas. Era nos seus artísticos desenhos das asas das borboletas que ele lograva esconder pormenores vitais sobre fortificações e armas do inimigo.
Outro escritor bem conhecido, mais antigo, que trabalhou também como espião para a coroa inglesa foi Daniel Defoe. O nome pode dizer pouco, mas se se disser que a sua obra mais famosa foi Robinson Crusoe, o desconhecimento passa para segundo plano. E como escondia ele a sua missão? Passando por caixeiro-viajante. Estávamos no início do século XVIII e Defoe deu regularmente informações importantes ao governo de Sua Majestade, fosse ele composto por Whigs (liberais) ou por Tories (conservadores).
Um último nome para o cestinho dos espiões: Somerset Maugham. O autor de Servidão Humana, O Fio da Navalha e múltiplos contos interessantíssimos, era médico e um incansável globetrotter. A sua actividade de fachada foi sempre a de repórter free-lance que escrevia para várias publicações americanas. Faleceu em 1965, um ano depois de Ian Fleming.
Quanto a espiões portugueses, creio que pouco se sabe, embora tenha havido vários ao serviço dos nossos reis em terras de França e certamente também em Madrid. Aliás, em matéria de informadores ficámos até demasiado bem servidos ao longo do século XX...

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