3/16/2011

Comprador compulsivo

Nesta era de consumismo, em que a crise desgasta aquilo que o comprador gostaria de despender em compras, o comprador compulsivo torna-se um perigo maior. Mesmo assim, ele não é comparável ao jogador de casino que se deixa arrastar pelo jogo e pode ir até à hipoteca do carro e da casa. O comprador compulsivo é diferente. Quanto ao seu sexo, tanto pode, obviamente, ser homem como mulher, embora a vida nos mostre que existe uma maior tendência aquisitiva de pequenas coisas por parte da mulher.
Como seria previsível, o comprador compulsivo não reconhece que o é. É um pouco como a história do passarinho hipnotizado pela cobra que voa direitinho à boca da bicha e repete para si próprio "não estou enfeitiçado, não estou enfeitiçado". O termo "compulsivo" que conota esse tipo de comprador vem exactamente daí. Existe um impulso quase irresistível que o leva a comprar uma pequena prendinha que seja para ficar mais satisfeito e apresentar aos outros, familiares e amigos. A prendinha tanto pode ser para si próprio como destinada a outrem. Por vezes, se a outra pessoa a quem a prendinha é destinada for adulta, o comprador acaba por ficar com o objecto comprado. Mudou de ideias. Noutras ocasiões, oferece-o, de facto.
Dentro da linguagem tipicamente usada pelo comprador compulsivo surge frequentemente a palavra "coisinha" para amenizar o custo da coisa. "Baratucho", "uma pechincha" e termos do género são também utilizados. E por que razão comprou? Se alguém pergunta, o comprador justifica-se: "estava a um preço absolutamente incrível", "há muito tempo que eu andava atrás de uma coisa destas", "acabei por comprar embora não precisasse muito neste momento, mas estas coisas desaparecem num instante e esta já era a última peça – aborrece-me não comprar na altura e depois quando volto à loja o artigo já não está lá".
E quando há crise? Bem, aí existe um argumento imbatível: "é também para ajudar a economia. Se ninguém comprar nada, nem mesmo aproveitar estes preços mais baixos, o que sucede à nossa economia?". De mero comprador o compulsivo passou a benemérito, ou mesmo a mecenas de uma economia que se encontra em estado de coma.
Verdade seja que quando as compras são de dimensão reduzida o orçamento familiar não sofre muito. Há compradores compulsivos que são suficientemente conscientes do facto de que as suas contas bancárias não comportam determinados devaneios e se abstêm de adquirir isto e aquilo que, no entanto, lhes ficou "debaixo de olho", como gostam de dizer. Numa primeira oportunidade, numa baixa de preços ou numa rebaixa, existe sempre o perigo de o impulso ser mais forte do que a consciência.

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