3/04/2011

Cromos


Os putos da minha infância faziam várias coisas idênticas àquelas que os miúdos de hoje fazem e outras que eram necessariamente diferentes. As brincadeiras como o jogo do pião, o eixo, as uvas, o berlinde, o avião, tenderam a desaparecer, embora eu acredite que algumas delas se mantenham em determinados pontos do país. É evidente que a playstation e diversíssimos outros jogos de computador eram em absoluto desconhecidos e, portanto, não existe qualquer paralelo que permita uma comparação.
Há, entretanto, algo que já assim era e que hoje ainda se mantém: a troca de cromos. Como é natural, os cromos – que, salvo erro, também se chamavam "bonecos" ("Tens bonecos p’á troca, pá?") – são hoje outros, mas a ideia do coleccionismo e de preencher cadernetas mantém-se.
O que considero mais curioso é que muitos reformados – e há milhentos por este país fora – voltaram no final da sua vida a coleccionar cromos. Desta vez não querem preencher cadernetas, nem pretendem ganhar uma bola de futebol. Mas querem ser os primeiros a apresentar cromos que espantem os outros, com quem eles os vão trocando. Estou, naturalmente, a referir-me às trocas de ficheiros por e-mail. Confortavelmente sentados numa cadeira à frente de um computador, portátil ou de secretária, há muitos reformados que se entretêm, de manhã cedo ou antes de irem para a cama, a enviar ficheiros e anexos de toda a ordem para os seus amigos, esperando que depois estes lhes enviem outros. Acaba por ser, com outra idade e outra tecnologia, a mesma troca de cromos que os miúdos faziam e fazem. Não trazem nenhum mal ao mundo, creio eu. É apenas mais um regresso às raízes da infância. Ou a entrada numa segunda infância. Grandes cromos é o que todos somos.

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