9/01/2011

Mês com R

Relativamente à sardinha, é famoso o ditado que nos aconselha a não a comer nos meses com –r-. Digamos que Junho, Julho e Agosto são, pelo menos em princípio, bons meses para comer sardinha. Que o –r- , para além da sua componente gastronómica, também tem uma faceta política, vemo-lo bem através da enorme diferença entre evolução e revolução. Enquanto uma agrada mais a quem prefere o statu quo, a outra mostra a incontida raiva de uns tantos e a vontade de tudo alterar.
Setembro, que hoje se inicia, contém um –r-. Como amargo. É o mês no qual, depois das ameaças feitas pelo governo em Junho, Julho e Agosto, se começam a concretizar uma série de medidas ditas de austeridade que vêm complicar a vida a muitos que, quanto a responsabilidades que tiveram no cartório, pouco ou nada se lhes pode assacar. Já o mesmo não acontece com os maiores culpados, que, apesar de sofrerem um beliscão, sofrem isso mesmo: apenas uma leve beliscadura.
Os substanciais aumentos nos transportes, na electricidade, no gás e na água causam mossa a muita gente. Outros aumentos, nomeadamente nas prestações a pagar aos bancos por empréstimos contraídos para compra de habitação, diminuem igualmente os rendimentos de muitas pessoas. Em certos casos fazem mesmo esticar a corda. Também Setembro vê mais alunos no ensino público do que habitualmente, e menos no privado. A saúde está mais cara, por menos comparticipada. As rendas, especialmente as mais antigas, podem sofrer um aumento substancial nos próximos meses.
Falando desses próximos meses – Outubro, Novembro e Dezembro, todos com –r- - não deixou de ser curioso verificar o sentido de oportunidade em marketing do supermercado Continente ao sugerir aos seus clientes possuidores de cartão que não levantem ainda os descontos que lhes vão sendo concedidos pelas suas compras. Se os guardarem até ao Natal, poderão fazer render os euros entretanto acumulados para parcialmente substituirem no Continente aquilo que gostariam de comprar com o subsídio de Natal que este ano vem bastante mutilado.
Interessantemente, austeridade também contém um –r-.

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