Relativamente ao orçamento de Estado para 2007, o Ministro das Finanças afirma que as alterações introduzidas no funcionalismo público correspondem a 30 por cento do défice. Acredito. Com congelamento de salários, congelamento de progressão em diversas carreiras, congelamento de passagens a reforma em múltiplos casos, descontos acrescidos para a ADSE, agravamento de taxas para pensionistas, abaixamento das regalias sociais e imposição de novas taxas ditas moderadoras no capítulo da saúde e outros itens penalizadores, não custa a acreditar que sejam atingidas verbas consideráveis, as quais servirão para abater o défice.
Entretanto, o argumento mais vezes aduzido é o das condições de privilégio dos funcionários públicos relativamente aos cidadãos do sector privado. O pior é que estes são igualmente penalizados em múltiplos casos, como sucede com milhares e milhares de trabalhadores independentes relativamente à chamada escrita simplificada, que tendo desde há anos o direito de abater 35% da verba para efeitos de IRS vêem agora essa percentagem ser reduzida para 30 por cento. Será que é para que os futuros cidadãos não encarem os actuais como privilegiados?
A jogada cénica do governo, gerindo as expectativas das pessoas e criando antagonismos entre grupos - trabalhadores do sector privado contra os funcionários estatais, jovens contra idosos, pais contra professores, etc. - tem sido bem urdida mas cria, inevitavelmente, um desgosto relativamente ao mensageiro e executor, que é o governo.
Entretanto, os inacreditáveis aumentos de lucro da banca, as seguradoras, as empresas sediadas no off-shore da Madeira e, na generalidade, as grandes empresas não são taxadas de forma socialmente justa. Não há dúvida de que, entre o capital e o trabalho, é este o mais taxado. Por que razão sucederá isto com um governo que se diz de esquerda, mas que afinal, na sua política de saneamento das contas da nação, parece ser mais de direita? Haverá algum relacionamento entre esta situação e o financiamento dos partidos? Será que os lóbis dos poderosos actuam de forma a impedir que sejam tomadas medidas que os prejudiquem drasticamente? A ser assim, a esmagadora maioria dos portugueses que colocam o seu papelinho na urna eleitoral são meros cidadãos de voto; os outros, decerto uma minoria mas muito representativa tanto económica como politicamente, serão os cidadãos de veto. Entender-se-á bem porquê.
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