10/23/2006

TLEBS

Se hoje consigo escrever num português mais ou menos escorreito, devo-o em grande parte às boas bases que recebi na instrução primária. A compreensão da estrutura do português contribuiu enormemente para a minha fácil aprendizagem de línguas estrangeiras. Como já possuía o software afinado e consolidado, bastou proceder a alguma adaptação. Entretanto, não me falem muito em crases, apócopes, aféreses, metalinguagem e outros nomarecos esquisitos. Existem, mesmo assim, categorias que são verdadeiramente basilares: substantivos, adjectivos, artigos, preposições, pronomes, advérbios, conjunções, verbos, orações com sujeitos, predicados, complementos directos e indirectos.
Como sabemos, posteriormente ao 25 de Abril, veio uma nova vaga de terminologia com a gramática generativa, o que fez com que os professores tivessem que aprender muito de novo. Houve quem o fizesse com relutância. Criou-se uma notória confusão na terminologia a usar. Devo confessar que os alunos que me apareceram no ensino superior provindos do ensino secundário não mostravam grandes conhecimentos da estrutura da língua. A sua preparação era, no geral, pouco consistente.
Eis que, presentemente, estamos em vias de ensaiar uma nova terminologia. Dão-lhe o nome de TLEBS (Terminologia Linguística para o Ensino Básico e Secundário). Tlebs ou não tlebs eis a questão. Consultei a Net sobre o assunto e, para começar, encontrei vários professores com sérias dúvidas. Incluo-me nesse grupo.
Li a Portaria nº 1488/2004, que inclui o essencial sobre a TLEBS. Encontrei diferenças muito significativas relativamente àquilo que aprendi. Se fosse para melhor, não estaria mal, mas admito que não gostei muito do que vi.
Os substantivos deixam de existir, substituídos que são pelos nomes. Não tenho nada contra esta mudança, até porque sempre falámos em pronomes (e nunca em prosubstantivos). Os pronomes mantêm-se. Assim como se mantêm os artigos definidos e indefinidos, os adjectivos, os verbos, os advérbios, as preposições e as conjunções. As famosas orações é que vão praticamente desaparecer, ficando unicamente reduzidas às relativas. A partir de agora, as orações do passado serão frases, o que se torna bastante confuso. E estranho. Lembremo-nos de que uma frase pode conter mais do que uma oração.
Mesmo assim, até aqui não parece existirem grandes dificuldades. Elas surgem, porém, ou pelo menos a mim causam sérias dúvidas quando encontro temas adjectivais, modificadores do nome apositivo, verbos abundantes, palavras lexicalizadas, nomes epicenos, verbos auxiliares aspectuais, quantificadores universais, advérbios disjuntos restritivos da verdade da asserção, frases subordinadas substantivas relativas sem antecedente, frases não finitas infinitas, modificadores do nome restritivo, sujeitos nulos expletivos e actos ilocutórios declarativos.
Estaremos mesmo a mudar para melhor? Se esta terminologia não é nem lógica nem fácil para professores, como será para os alunos? Sente-se que quem preparou esta TLEBS está tão próximo da modernidade linguística quanto está longe da realidade das nossas escolas básicas e secundárias.

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