7/18/2007

Água em embalagens de plástico

Ao ler na semana passada um breve apontamento da revista americana Newsweek sobre água em embalagens de plástico, pensei que esse seria um tema interessante para o blogue, uma vez que em Portugal o consumo de águas em garrafa já atingiu quase mil milhões de litros no ano passado, com mais de 717 milhões de embalagens de plástico (na Europa, Portugal é o oitavo país em termos de água engarrafada per capita: 92 litros em 2006). Dias depois, vinha um artigo desenvolvido no Público sobre este tópico. A sua origem era também americana. É sinal de que algo está a mexer.
Sempre conheci águas minerais e de nascente. Porém, durante muitos anos e sem quaisquer problemas, só bebia água da torneira. Entretanto, nas últimas décadas começou a desenvolver-se entre nós, provavelmente devido à melhoria do nível de vida e à publicidade, o hábito de beber água embalada (em garrafas ou em garrafões). Admito que em minha casa tem sido essa a água que bebemos. Errado? Muito possivelmente.
Alguns engenheiros que escrevem sobre a água de Lisboa não deixam de elogiar a sua qualidade, criticando basicamente o facto de esta água, que ao sofrer tratamentos de vária ordem se torna dispendiosa, ser, incrivelmente, usada também para lavar ruas e viaturas, além de servir para a rega de jardins. Protestam contra a não-existência de um sério aproveitamento de águas pluviais que permita o seu uso para esses fins.
Há cidades no mundo onde não se recomenda o uso de água da torneira. A cidade do México é um bom exemplo. Em Lisboa, porém, se é certo que há alturas em que, devido a eventuais chuvas muito intensas, a água que corre nos canos vem barrenta, temos que reconhecer que esses são momentos ocasionais e excepções à regra. A água da cidade é boa. Então por que motivo desprezamos essa água e preferimos água engarrafada, gastando muito mais com essa nossa preferência?
As câmaras municipais de várias cidades dos Estados Unidos aperceberam-se há muito de que a sua água acabava por ser vendida sob designações exóticas, como a Dasani, da Coca-Cola e a Aquafina, da Pepsi, com lucros fabulosos. É aqui que entra o factor ambiental. Hoje em dia, os municípios despendem largos milhões com a qualidade do ambiente. Ora, grande parte dessas despesas tem que ver com a remoção e tratamento do lixo. E muito desse lixo provém de embalagens de plástico (30 milhões de garrafas de plástico acabam, diariamente, nas lixeiras de Nova Iorque). Para cúmulo, muitas dessas embalagens de plástico contiveram água fornecida por esses municípios, água que foi depois submetida a um tratamento adicional para lhe alterar o sabor, foi embalada segundo as melhores técnicas de mercado e originou os já mencionados lucros colossais. Depois, enquanto as empresas recolhem os lucros, os municípios recolhem as garrafas. É o ciclo da água, desta vez um pouco diferente daquele que estudámos na escola secundária.
A maioria das marcas de água embala o seu produto num plástico derivado do petróleo (polietileno). Segundo os técnicos, o fabrico deste plástico liberta para a atmosfera vários metais tóxicos, como o níquel e o benzeno. As garrafas ou garrafões são depois transportados em camiões que vão queimando gasóleo pelas ruas e pelas estradas para efectuarem a respectiva distribuição. Em duas palavras: para se vender água que é publicitada como sendo símbolo de excelência, polui-se o ambiente de várias maneiras. Por outro lado, é bem sabido que os plásticos quando sujeitos a grandes variações térmicas podem afectar a qualidade dos seus conteúdos.
Este conjunto de factores leva-nos a pensar que está certamente na altura de reconsiderarmos, pararmos um pouco para pensar e vermos como tudo funciona em cadeia. Na minha família mais próxima, só a minha filha e respectivos familiares não bebem água engarrafada. Usam conscientemente a da torneira. Eu vejo-me a transportar para o ecoponto da minha rua talvez umas vinte garrafas de dois litros todos os meses. Tomando tudo em linha de conta, é natural que vá reduzir o meu transporte de água engarrafada para casa. Hoje, para começar, vou só beber água da torneira. E vou encher uma das embalagens de plástico que tenho em casa com água da Companhia. Se notarem a diferença, fico mal. Se não notarem, é sinal de que o líquido passou no teste.

P.S. Entretanto lemos que Portugal, a fim de cumprir a legislação europeia sobre reciclagem de plásticos, enviou 14 mil toneladas de embalagens de plástico para operadores chineses. E se, em vez disso, bebêssemos menos água engarrafada?

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