7/11/2007

A questão dos exames. Rigor é valor.

Há dias, chamou-me a atenção o título de uma reportagem: "Em 150 minutos, um aluno foi destruído." Uma professora de Desenho desabafava que um aluno seu, estudante exemplar, tinha tirado seis na prova. "Teve toda certa a parte do exame que fez, mas depois bloqueou." A prova era do 12º Ano.
Estou em crer que muitas pessoas que terão lido a notícia possivelmente reagiram com um "Coitado!". Outras terão dito: "É nisto que os exames dão. Mesmo os bons alunos às vezes bloqueiam." Não estou cem por contra qualquer dos comentários, que são decerto bem-intencionados, mas devo admitir que colidem com a minha forma de ver a educação.
Educar é preparar estudantes para a vida. Para a vida profissional, e também para saber viver em sociedade, saber competir, saber confiar em si próprios. Instruir é fazer rapazes e raparigas crescerem para entender melhor o mundo e serem particularmente aptos num determinado ramo. Saber ser forte é uma das características para o sucesso. Haverá com certeza quem não o consegue, mas não é por causa dos que não conseguem que deveremos baixar o nível do ensino. Pelo contrário, os mais fracos deverão ser incentivados a esforçar-se mais, motivados para conseguir alcançar patamares mais altos. Se isso não for de todo possível, existem outras vias que não a continuação de estudos em que esses indivíduos poderão ser úteis à sociedade.
Frases como a do título acima citado como que encobrem uma crítica à existência de exames. Mas então, em que ficamos? Procura-se, através da escola, que as crianças se mantenham crianças, fomentando por assim dizer o infantilismo, ou esforçamo-nos todos por atingir objectivos elevados? Esta definição é crucial. A política do "coitadinho" não nos leva a lado nenhum.
Daí que a eliminação do antigo sistema de exames tenha contribuído decisivamente para aviltar o nível da educação em Portugal. Possuímos hoje meios de ensino - e, consequentemente, de aprendizagem - muito superiores aos de antigamente, mas ao descurarmos uma política de rigor e de exigência abastardamos a educação. O trabalho e o esforço, que deveriam ser a normalidade, são olhados de soslaio. Ora, falar em exames é exactamente falar em esforço e trabalho. Provavelmente por isso, ninguém quer crivos de passagem ou reprovação. Defendo, como outras pessoas, a continuação dos exames nacionais do 12º Ano, mas apoiaria qualquer movimento que fizesse campanha pela re-instauração de exames no final do 1º ciclo (4ª ano), assim como no 6º e no 9º anos. Não são os exames em si que são importantes, mas sim o trabalho que eles implicam para que possam ser facilmente ultrapassados.
Na vida empresarial, nos quadros do Estado, nas profissões liberais, há vencedores e perdedores. Seria bom que a escola preparasse os alunos para esta realidade e não apaparicasse artificialmente os estudantes. Quando fracassamos, que não procuremos encontrar culpas fora de nós próprios. Fortalecer os estudantes, ensinar-lhes que a auto-responsabilidade está no fulcro de uma pessoa bem-formada, é uma postura essencial. A vida não é um passeio através de uma play-station. Os colegas de emprego não são nossos pais para nos proteger. Temos de saber defender-nos encontrando dentro de nós energia e vontade de nos esforçarmos para nos superarmos. Uma escola que fomente os "coitadinhos" está condenada ao fracasso. Repare-se, se queremos exemplo mais frisante desta realidade, nas numerosas famílias de imigrantes dos países de leste que insistem em fazer os seus filhos voltar ao país de origem para lá fazerem ou continuar os seus estudos. Queixam-se, justificadamente na minha opinião, de o nosso sistema ser na generalidade demasiado fácil e permissivo.
Enquanto não arrepiarmos caminho e enveredarmos pelo rigor e pela exigência, o país não avançará. Pior: cada ano que passa será um retrocesso para Portugal neste sentido, já que a maioria dos países com os quais competimos se vão apetrechando melhor. É pena que isto suceda. E a culpa, se é que ela pode ser assacada a alguém em particular, não é necessariamente da matéria-prima. Parafraseando Camões: "Fracos reis fazem fraca a forte gente."

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