Uma notícia da semana passada fez-me rir. Como é sobre sentido de humor, acabou por cumprir a sua missão. O conceituado Journal of the International Neuropsychological Society inclui no seu último número um artigo que sugere que as piadas podem estar em vias de extinção. Quem ler até aqui poderá pensar que o artigo se baseia na recente experiência portuguesa de reprimir severamente algumas graçolas - em si uma boa anedota -, mas não é naturalmente esse o caso. Segundo os autores do artigo, a diminuição do sentido de humor acompanha a idade. Neste sentido, como a população mundial está claramente a envelhecer em muitos países, as anedotas tenderão a extinguir-se.
Aqui está um campo em que acho que a ciência não se devia meter, porque é extremamente difícil chegar a conclusões exactas. Mas analisemos a coisa por partes. É ou não verdade que nos rimos menos de uma piada que já conhecemos? Para mim, isso parece-me óbvio. Uma anedota, tal como um automóvel ou uma casa ou uma caneta, ou, ou, é sempre melhor em primeira do que em segunda mão. Chegados aqui, é natural que os mais velhos se riam menos de piadas que para eles já têm barbas (o próprio humor envelhece através das suas barbas). Recordo-me que já no liceu, quando algum de nós se punha a contar uma anedota que julgava nova, havia muitas vezes um dos ouvintes que começava a cofiar o queixo como que a acariciar a barba, levando à eterna pergunta: "Já conheces?" À resposta afirmativa havia uma interrupção, logo seguida dos protestos dos outros que ainda não conheciam a piada. E porquê esse interesse em ouvir até ao fim? Porque rir é bom! "Dia não rido é dia não vivido." Toda a gente gosta de rir. Quem não gosta, está doente. "Weine, und Du weinst allein! Lache, und die Welt lacht mit Dir!" diz-se em alemão (Chora, e chorarás sozinho. Ri, e o mundo rirá contigo!)
Ora bem, o que tenho notado é que os meus amigos mais velhos se pelam por boas piadas. Ainda há dias, num jantar, lamentou-se a não-presença de um habitué, que é um grande contador de anedotas. E é mais ou menos tudo velhada que gosta de comer e beber! ("Quando nada mais há para dar, ainda resta o paladar!")
Não me venham, pois, com essa de que com o envelhecimento da população diminui o caudal de anedotas. É evidente que alguém que está com os pés para a cova não tirará grande prazer nem da melhor piada; o seu mal-estar não lho permite. Mas quando se está de boa saúde, não é a idade que rouba às pessoas o sentido de humor. Pode até refiná-lo.
Continuo a dizer que o sentido de humor é uma das grandes características que distinguem o homem dos outros animais. Se o Muttley ri à maneira humana, é porque é um boneco inventado pelo homem. Idem para o Jerry. Idem para o Speedy. Mas até seria interessante que os animais se rissem com gosto de uma piada. Faziam-nos mais companhia. Entretanto, uma verdade é certa: a educação de uma pessoa e o seu esprit de finesse contam bastante para a forma como ela não só cria humor como entende o humor dos outros. A faceta educação é bem mais importante do que a idade, creio. Digo "creio" porque, feliz ou infelizmente, certezas não tenho; para essas é melhor consultar a revista da Sociedade Internacional de Neuropsicologia.
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