7/05/2007

Uma escapada ao centro do país (II)




Conforme prometido no post anterior, estas são apenas mais umas breves linhas sobre uma recente ida à Beira. Vão basicamente abordar dois pontos: um, os incêndios; o outro as torres eólicas.
A Beira tem sido das zonas mais afectadas por incêndios nas últimas décadas. A constatação da existência de vastos pinhais na zona visitada causou-me grande alegria. Quando vejo pinheiros, não sou capaz de imaginar a terra seca, desgastada e inútil passados alguns anos, muito ao contrário do que sucede com as plantações de eucaliptos após terem cumprido o seu papel económico. Os pinheiros mantêm a terra, crescem em matas, como crescem os carvalhos, os castanheiros e as nogueiras. Não estiolam tudo à sua volta. O eucalipto, quando integrado em matas como as que refiro no meu último texto, é uma bela árvore, imponente por vezes no seu grande porte. Infelizmente, não é esse o eucalipto que ultimamente temos tido. Na ressaca de incêndios, chegam as novas plantações, com crescimento fácil, rendimento avultado, mas esgotamento do solo passados poucos anos. Sucede que, mais ou menos nas mesmas alturas onde encontrei os rebanhos de cabras, se me depararam zonas ardidas há poucos anos, agora já plantadas com eucaliptos em elevado número. Entretanto, tocou-me encontrar ainda alguns pequenos tufos de pinheiros chamuscados, que lograram resistir ao fogo (posto) e se mantiveram obstinadamente de pé. Não longe dos novos eucaliptos, como a foto mostra.


Se esta foi uma nota negativa - pelo menos do meu ponto de vista - não posso deixar de saudar toda uma outra movimentação que por aquelas bandas se vê: um (possivelmente) vasto conjunto de torres eólicas que está a ser montado. As torres não vão decerto causar perturbação de monta nem às isoladas aldeias nem às centenas de cabrinhas a que me referi, que ainda ficam a uma distância razoável. Vão, por outro lado, contribuir com a sua quota-parte para a diminuição da factura de importação de energia do país. Foi interessante assistir à chegada e montagem dos quatro tramos para cada torre (cerca de 80 metros de altura) e das pás. Foi também um espectáculo que constituiu um tremendo efeito contrapontal, relativamente ao primitivismo e à virgindade daqueles locais, ver as encumeadas estarem a ser equipadas com o state-of-the-art em matéria de tecnologia de aproveitamento do vento para produção de electricidade. Tudo com a devida bênção de S. Macário, que é ainda o santo que mais manda em todas aquelas paragens através de uma pequena capelinha que, ao que me disseram, é ainda hoje alvo de uma animada romaria.

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