7/07/2009

Uma questão que tenho comigo mesmo

Retiro de um dos clássicos estudos do Prof. Jorge Dias sobre o carácter nacional português uma passagem relativamente breve que considero oportuna: "Ao contrário do que muitos disseram, o português não degenerou; as virtudes e os defeitos mantiveram-se os mesmos através dos séculos, simplesmente as suas reacções é que variam conforme as circunstâncias históricas. No momento em que o português é chamado a desempenhar qualquer papel importante, põe em jogo todas as suas qualidades de acção, abnegação, sacrifício e coragem e cumpre como poucos. Mas se o chamam a desempenhar um papel medíocre, que não satisfaz a sua imaginação, esmorece e só caminha na medida em que a conservação da existência o impele. Não sabe viver sem sonho e sem glória. Esta maneira de ser torna particularmente difícil a tarefa dos governantes, sobretudo em períodos históricos em que as circunstâncias não permitem desempenhar uma acção que lhes agrade e desencadeie as energias."
Estamos aqui? Quando dizem que Sócrates mudou após os resultados das últimas eleições (e portanto tudo o que diz agora soará a falso), o que dizer das extraordinárias mudanças que se notam em Manuela Ferreira Leite – mais alegre, sorridente e confiante – alterações de que ninguém parece interessado em falar? Serão o sonho e a glória a falarem mais alto?
A Sócrates a generalidade dos media trata presentemente como na conhecida fábula do leão moribundo: o antigo rei da selva é alvo do ataque de outros animais, inclusive do burro que, depois de alguma hesitação temerosa, chega mesmo a dar um coice no corpo que está prestes a perder a vida.
Será que ele foi leão? Será que está moribundo? Ou estaremos basicamente a ver os mesmos portugueses que, poucos dias antes do 25 de Abril de 1974, saudaram vibrantemente Marcelo Caetano num estádio de futebol e, logo após a revolução feita pelos militares, deliraram com a sua deposição?

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