6/28/2009

Democracia?

Desde miúdo que me questiono relativamente a determinado tipo de preces religiosas. Se alguém pedir a Deus ou a um santo a cura de uma doença grave que o aflige, não me custa admitir que, se a pessoa aumentar o seu grau de esperança após a prece, tudo estará correcto. Não vem mal nenhum ao mundo por isso. Se, porém, uma prece diferente envolver terceiras pessoas e solicitar determinados benefícios para quem a faz, em óbvio detrimento de outros, tudo me cheira a uma forma encapotada de cunha. Se, ainda, nesta mesma prece envolvendo terceiras pessoas, o rogante fizer uma determinada promessa no caso de a sua oração ser atendida, tudo me surge como chantagem e falta de ética perante os outros indivíduos que constituem a sociedade.
Ano após ano, eleição após eleição, o país vai aprendendo um número cada vez maior de manhas que o afastam daquilo que tradicionalmente se considera a verdadeira democracia, em jogo limpo e transparente.
Sempre vi como errado o financiamento de partidos feito por empresas.Dentro da linha do conhecido conceito de que não há almoços grátis, as empresas contribuintes esperam ser bondosamente contempladas quando o partido em que apostaram estiver no governo. Depois, tudo será legal graças à própria feitura da legislação – algumas empresas chegam a dar uma olhadela aos decretos antes de eles serem aprovados – e o investimento terá valido a pena. Legal? Sim. Ético? Não. Altamente reprovável, mesmo.
Estas coisas têm sequências fora do mundo das empresas. Vou transcrever o essencial de uma pequena notícia que encontrei no Público de há dois dias: "Depois do PSD e do CDS-PP, os movimentos de professores APEDE, MUP e Promova apresentaram ontem à deputada do Bloco de Esquerda Ana Drago, durante um encontro na Assembleia da República, a sua proposta para um "contrato público" com vista à próxima legislatura. Este Compromisso Educação, que está a ser proposto à oposição, tem como ponto de partida a rejeição das principais reformas implementadas pela actual equipa do Ministério da Educação. O site da Promova, que tem sede em Vila Real indica o seguinte: "Os professores não votam em candidatos ou em partidos políticos que não assumam, publicamente, o seu compromisso de rejeição da divisão da carreira docente e a suspensão do actual modelo de avaliação. (...) À semelhança do que já acontecera com a distrital do PSD, os professores do distrito de Vila Real têm igualmente no BE uma opção eleitoral."
Joaquim Aguiar escreveu, e eu concordo, que o corporativismo é a doença mortal da democracia. Ora, aqui temos um caso típico de corporativismo. É uma parte da corporação dos professores a dizer que só entrega o seu voto a quem lhe conceder aquilo que ela considera serem benesses suas. Assim, tout court. Sendo que a função governamental é vasta e inclui áreas tão importantes como a saúde, a segurança social, as finanças, a defesa, o ambiente, a habitação, os transportes, as relações internacionais, etc., estes professores-educadores aparentemente desprezam todas as ideologias e preocupam-se apenas com o seu bem mais directo – a educação -, sendo que, dentro deste sector, estão unicamente preocupados consigo mesmos e não com a educação propriamente dita. É um belo exemplo este que os referidos professores estão a dar ao país!

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