6/13/2009

To write in English, ou só em português?



Há dias, o leitor de um jornal queixava-se do elevadíssimo número de palavras estrangeiras que encontrava na leitura do periódico: "Queria chamar a atenção para a pouca vergonha como os jornalistas estão a tratar a língua portuguesa." E listava mais de uma dezena de termos franceses que encontrava frequentemente no jornal, v.g. réveillon, tournée, rentrée, lingerie, foie-gras, boutique, prêt à porter, atelier e bricolage.
O que diria esse mesmo leitor se deparasse com o anúncio publicitário da TAP acima reproduzido e que está numa série de mupis?
Pessoalmente, não acho nada mal nem o anúncio nem o uso de palavras estrangeiras. Se estes termos que são originários de outros idiomas receberam acolhimento no nosso por alguma razão foi. É o povo falante de uma língua quem determina aquilo que é aceitável e o que não é. Já aqui abordei este assunto há anos. Quantos portugueses aceitariam dizer Worcester sauce? Com a dificuldade que há em pronunciar a primeira destas palavras, nunca a população utilizadora do idioma a acolheria. É por isso que, embora o produto seja relativamente popular, ele foi simplesmente denominado "molho inglês". Mas os termos franceses foie-gras, chantilly, rentrée, boutique, lingerie, soutien, collants, abat-jour, naperon, crochet, que trazem eles de mal ? Só enriquecem a nossa língua. Por vezes até evitam alguns embaraços. Há quem não goste de falar em cuecas e prefira usar o termo slips. Outros falam em boxers. Os shorts, as T-shirts, o tamanho XL e tantas outras coisas deste género foram igualmente aceites, tal como o spread, o software, fazer um delete, ou fazer um ou dois clicks. Que mal vem daí? Há palavras portuguesas que substituem estes termos? Óptimo! Quem quiser que as use, quem preferir alterná-las com o uso de termos estrangeiros que o faça!
Só que o anúncio da TAP tem muito mais do que um vocábulo não-português: tem uma oração inteira em inglês! E se houver quem não perceba? Quem não percebe, não estará possivelmente interessado em ir a Nova Iorque sem ser numa excursão organizada porque tem receio de não entender nada nem conseguir fazer-se entender na cidade. Ponto final. Mas para quem entenda inglês – e a frase, coloquial, é bastante fácil – aquela expressão constitui um incentivo. É já meio caminho andado para um segundo pensamento ("Se calhar, vale mesmo a pena!"). A TAP faz a sua parte, pondo os bilhetes a baixo preço. Agora, a decisão é sua. O copy que escreveu o texto pensou direito.

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