6/19/2009
Não é apenas uma questão linguística
Um anúncio que podemos ver por aí em vários outdoors mostra-nos um macaco a levantar um automóvel. Num jogo publicitário de palavras que faz parte do conceito usado para uma série de anúncios relativos ao mesmo produto, exalta-se o portuguesismo e conclui-se que só na língua portuguesa é que encontramos macacos a levantar carros. Na realidade, na nossa língua os macacos não só levantam automóveis quando precisamos por exemplo de substituir um pneu, como também são macacos o que frequentemente tiramos do nariz como-quem-não-quer-a-coisa. São igualmente macacos, carinhosamente chamados "macaquinhos", que povoam o sótão da nossa cabeça quando nos preocupamos antecipadamente com determinadas coisas. Por estas e por outras, os macacos acabam por fazer macaquices e serem o fim da macacada. Em inglês ou noutras línguas, os macacos terão outras funções. Não são usados para estas.
Como se sabe, traduzir de uma língua para outra palavras que têm uma série de conotações diferentes pode ser complicado. Mas há quem forçadamente tente, até porque macacos de imitação há muitos.
Este blá-blá introdutório vem a propósito do uso da palavra "sexo". Em português sempre se disse sexo masculino e sexo feminino. Hoje, na sequência do inglês e eventualmente já de outras línguas, tornou-se politicamente correcto dizer "género". Os falantes de língua inglesa dizem "gender". Ora bem! "Gender" não é exactamente uma palavra polivalente para traduzir o "género" português, embora esteja correcta para casos gramaticais, v.g. the gender of a noun is whether it is masculine, feminine or neuter. É um facto que em português sempre se disse, por exemplo, que "casa é uma palavra do género feminino". Noutros casos, porém, o "gender" inglês corresponde a uma das conotações do português "sexo", como a person’s gender is the fact that they are male or female.
Ora, sucede que em português a palavra "género" tem vários outros significados. "Que género de música é que preferes?", "Que género de perguntas é que te fizeram no exame?" Este uso de "género", que é o mais comum entre nós, nada tem a ver com o gender inglês. Será algo como What kind of questions were you asked? ou What sort of answers did you give? E temos mais: "O Rui pode ser muito bom tipo e ter carradas de dinheiro, mas não é o meu género de homem", dirá uma mulher a quem tentam impingir o Rui. Além disso, temos o plural da palavra – "géneros" – que tem outra conotação completamente diferente, como em "géneros alimentícios".
Num formulário português clássico, vinham sempre alíneas como Nome, Filiação, Sexo, Data de nascimento, Estado civil, Morada, etc. Será que agora passaremos a eliminar o Sexo e a substituí-lo por Género? Forçar a entrada do género em vez do habitual sexo pode ser muito in mas, em minha opinião, devia ficar out. Deixem lá ficar o sexo, que está muito bem, senão qualquer dia não há meninos.
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