6/01/2009

Destrua um, construa três!



O escritor Fernando Dacosta, estudioso da personagem de Salazar e da época em que aquele político viveu, conta-nos num dos seus livros que quando o Hotel Estoril-Sol foi construído numa das zonas turísticas portuguesas mais conhecidas internacionalmente houve quem protestasse contra a sua volumetria. Salazar, que durante o Verão residia num forte junto ao mar, a poucos quilómetros da nova unidade hoteleira, não resistiu a vir ver o edifício da Estrada Marginal. Na altura, terá comentado jocosamente para as pessoas que seguiam consigo: “Como vêem, não mando em tudo em Portugal!”
Mandava em muita coisa, de facto, até de mais. Mas não podia obviamente superintender em todo e qualquer projecto que fosse lançado no país. Presentemente, em casos como este são basicamente os autarcas quem manda. Há uns tempos, num contexto que decerto envolveu intrincados pormenores, surgiu a notícia de que a Câmara de Cascais considerava que o Hotel Estoril-Sol possuía na realidade uma volumetria que não se coadunava com o local onde estava implantado. A prevista implosão de um hotel que entretanto já se tornara um ex-libris da zona ocupou as páginas dos jornais. O hotel veio finalmente abaixo, passando para a opinião pública que a melhoria do local constituía a finalidade número um da "morte" do Estoril-Sol.
Poucos anos passados e certamente após mais alguns conspícuos montes de burocracia, eis que todos começamos a ver a verdadeira melhoria que se prevê para a zona. Desculpando os inevitáveis congestionamentos de trânsito que a construção de novos edifícios no local ocasiona, verificamos que ao bota-abaixo do Estoril-Sol corresponde, afinal, a construção de três novos edifícios que estão ainda longe de se encontrar terminados – inclusive em altura - mas já denotam avantajadas proporções, como uma das fotos acima ilustra (a outra foto relembra como era o antigo Estoril-Sol).
Dos meus apontamentos de ética respigo uma frase tipo-máxima: "Uma sociedade na qual vale tudo é uma sociedade que pouco vale." Rejeito chamar desenvolvimento e progresso a uma agressão imobiliária deste género. Como fonte de receitas para o município, os imóveis de grandes dimensões têm provocado em grande parte do país genuínos atentados contra a celebrada qualidade, quando não "excelência", que os autarcas não se cansam de prometer será a sua forma de actuação se forem eleitos. Apesar de já termos visto este filme, sinto que é importante não o deixar passar em claro mais uma vez.

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