Enquanto escrevia um comentário ao texto acerca da junção ou não de palavras inglesas na língua portuguesa , veio-me à cabeça um de entre umas boas dezenas de nomes que, para mim, são os grandes obreiros da beleza da nossa língua: Eugénio de Andrade. Daí a pegar num dos seus livros foi um curto passo. Quase ao acaso (porque a escolha é difícil), aqui deixo uma boa razão pela qual tanto gosto de ler em português:
Tu és a esperança, a madrugada.
Nasceste nas tardes de Setembro,
quando a lua é perfeita e mais doirada,
e há uma fonte crescendo no silêncio
da boca mais sombria e mais fechada.
Para ti criei palavras sem sentido,
inventei brumas, lagos densos,
e deixei no ar braços suspensos
ao encontro da luz que anda contigo.
Tu és a esperança onde deponho
meus versos que não podem ser mais nada.
Esperança minha, onde meus olhos bebem,
fundo, como quem bebe a madrugada.
(Eugénio de Andrade)
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