6/20/2010

A morte serve para que possamos continuar a viver


A frase acima é de José Saramago, cuja morte nos trouxe a inevitabilidade da surpresa que todo o desaparecimento de um criativo muito conhecido nos causa. Alguém que cria e recria um mundo que é também o nosso, que reflecte provocatoriamente sobre aspectos da nossa cultura tradicional, faz com que muitos de nós levemos para a nossa própria casa exemplares das suas notáveis criações. É lá que queremos desfrutá-las em paz, saboreá-las na quietude de um recanto que costumamos reservar para o nosso prazer de leitura. Relativamente aos pintores e aos escultores, o escritor tem a vantagem de produzir obras que, pela acessibilidade do seu custo, se tornam facilmente parte do espólio de cada um e se distribuem por muitos lares e bibliotecas de diversas comunidades. Quando, para além do deleite natural da sua leitura, a esse escritor devemos o orgulho nacional de um Prémio Nobel, partilhado não só por toda a larga comunidade de língua portuguesa como, or razões circunstanciais, igualmente pela vastíssima comunidade de língua castelhana, sente-se um vazio tremendo com a sua morte. O criativo deixou de criar. A realidade, porém, é que o seu legado não é pequeno e possui um inegável valor. Para a nossa geração e para as que a seguem.
No que me diz respeito, relembro aqui, de entre muitas outras, as páginas introdutórias do Levantado do Chão. Comoveram-me verdadeiramente, de tão bem escritas que estão. Ao lê-las, senti tudo tão fluido, fluente e natural como se as palavras brotassem da nascente puríssima de um rio. Não me esqueço dos minutos de enorme prazer, nem do local – diferente dos habituais – em que fiz essa leitura.
Há aspectos que marcam e identificam as pessoas. A liberdade de pensamento, a irreverência da escrita e o frequente diálogo com o leitor encontram-se certamente nesse número relativamente a José Saramago. Merece certamente todas as homenagens que lhe forem prestadas.

Sem comentários:

Enviar um comentário