9/13/2010

Um por um

Nos anos de grande prosperidade dos Estados Unidos, dois multimilionários juntaram-se para trocarem opiniões sobre negócios. Almoçaram e conversaram no restaurante do melhor hotel de Nova Iorque. Depois da refeição, deslocaram-se ambos a um stand de automóveis. Um deles ia comprar um carro. Decidiu-se por uma belíssima máquina topo de gama. Quando ia a pagar, o seu amigo adiantou-se e passou o cheque ao vendedor. "Não pode fazer isso!" "Porque não? Lembre-se que foi você que pagou o almoço", respondeu-lhe calmamente o amigo.
Embora não a este nível, vêem-se muitas pessoas a fazer, consigo próprias e em seu benefício pessoal, permutas desta ordem. Um por um. "Almoçámos em casa hoje. Já poupámos. Vou agora ali a umas boutiques. Já sabes! Se vir alguma coisa de que goste muito..." dirá a mulher para o marido. É uma auto-indulgência, uma oferta a si própria que não está exactamente mal em alguém que já fez o sacrifício de cozinhar uma refeição.
Ou então o homem compreensivo que não quer privar a família de férias mesmo neste tempo de crise. "Temos infelizmente que adiar a nossa viagem à Austrália e Nova Zelândia para uma outra altura. Entretanto, já reservei um apartamento para nós em Tavira. Tenho a certeza de vão adorar!" Um por um.
Num plano diferente, o empresário chega perto do fim do ano e é alertado pelo contabilista de que está na altura de mudar de carro, que ficará naturalmente registado em nome da firma. O empresário agradece a sugestão. O seu Audi4, também em nome da empresa, vai já fazer cinco anos. De resto, a ocasião vem mesmo a calhar: vai dá-lo de presente à filha, que está a precisar de um carro maior para a família, agora que nasceu a Teresinha. O empresário vai-se manter fiel à marca. Irá apenas fazer o upgrading e comprar o último modelo Audi6. O preço será abatido nos lucros da firma, uma tranche cada ano. É melhor fazer assim do que entregar ao Estado de mão beijada tanto dinheiro para impostos! Entretanto, não se julgue a priori que o empresário não é patriota por adquirir uma viatura estrangeira. Digam lá qual seria a marca nacional que ele podia comprar! Aliás, o seu patriotismo está bem patente, por exemplo, quando ele pede à empregada para trazer uvas da praça. "Traz uvas nacionais, que já as provei este ano e estão óptimas. Não estou para dar dinheiro aos espanhóis por uvas que até são inferiores às nossas. Quero uvas por-tu-gue-sas!"
Um Audi6, cujo valor antes de impostos vai direitinho para a Alemanha, por um quilo de uvas portuguesas até parece bem. Afinal, é um por um!

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