11/14/2010

Desemprego

"O desemprego são os ócios do ofício" é uma das frases mais cínicas que conheço. Embora aprecie o sentido de humor de algumas pessoas, considero que há determinados assuntos que são tão sérios que não devem ser alvo de jogos de palavras. É que o desemprego pode dar a um homem ou a uma mulher ainda jovem a sensação de rejeição total que o mundo faz de si. Entenda-se bem o que isso significa!
Ouvi uma vez um homem de quarenta e tal anos, desempregado e com pouca esperança de voltar a arranjar emprego na sua terra, onde vivia com mulher e dois filhos, dizer em voz baixa: "O dia-a-dia de um desempregado é como estar preso em liberdade." Impressionou-me muito a frase e a forma como sincera e lancinante como foi dita. Mas não discordei.
Calcula-se, dizia Fernando Dacosta em 2003, "que de cada cinco crianças que nascem hoje, três jamais irão arranjar emprego. O trabalho que se desenvolverá é o trabalho para os pobres, para os jovens, para os imigrantes, para os de meia-idade e meia-indiferenciação, gerando-se situações comparáveis às do século XIX. É a miséria que se mundializa, não é a riqueza." Talvez sejam palavras demasiado pessimistas, mas são pelo menos produto daquilo que tem vindo a suceder em resultado da transferência maciça de empregos do hemisfério norte para o hemisfério sul, basicamente em resultado dos custos de produção, que na Ásia são substancialmente inferiores, como todos sabemos. O que qualquer negociante fundamentalmente pretende é ganhar dinheiro. Ora, conseguir comprar a preços da China e lograr vender a preços da Europa representa uma maquia muito considerável de margem de lucro – que possivelmente será depois encaminhada para uma conta num centro offshore.
Do regozijo do negociante ao desespero do desempregado ocidental vai um abismo de distância. Contudo, pode suceder que ambos vivam na mesma cidade e passem um pelo outro sem se conhecerem. Pensando bem, é de crer que nem um nem outro gostassem de travar conhecimento entre si.

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