3/23/2006

Terreno aplanado

Contaram-me há muitos anos uma história verídica sobre o empreendedorismo americano, que agora me permito recordar. Um empresário do Arizona pretendia construir nos seus vastos terrenos um complexo turístico, no qual queria colocar água e arranjar algo como chamariz especial. Tendo sido informado de que uma das mais antigas pontes sobre o Tamisa, em Londres, ia ser retirada, deslocou-se a Inglaterra e comprou a já enferrujada ponte. Depois, com autorização das autoridades locais e a suas custas, construiu um desvio do rio que passava perto da sua propriedade. Construiu assim um amplo e longo canal. Foi sobre esse braço de rio que colocou a velha ponte londrina, devidamente pintada e impecável no seu aspecto. Ainda hoje lá está. O caso tornou-se célebre por ter sido possivelmente a primeira vez no mundo que alguém teve uma ponte construída antes de o rio existir.
Lembro-me por vezes desta história quando penso no novo colonialismo americano. Os americanos têm negócios em todo o lado, como sabemos. Governantes e empresários americanos deslocam-se com regularidade à Índia, ao Iraque, a Israel, à Nigéria, à África do Sul, às Filipinas, Paquistão, Bangladesh, China, Japão, Afeganistão, Angola, etc. Para além do facto de os seus conhecimentos e a sua tecnologia serem geralmente superiores, a vantagem de que dispõem hoje em dia face aos antigos colonizadores é colossal. Já têm uma ponte construída. Entram a falar a sua própria língua. Todos sabemos como a língua é um factor relevante. Ao contrário dos espanhóis e portugueses nas Américas, nas Áfricas e noutras partes do mundo, onde tiveram que obrigar ou simplesmente ensinar os nativos a falar o seu idioma para que a colonização pudesse ser eficaz, presentemente os americanos têm toda a papinha feita. Por um lado, herdaram o efeito da colonização britânica, que espalhou o inglês por meio mundo. Por outro, usufruem do verdadeiro privilégio de o inglês ser hoje a língua franca do globo.
Sob o ponto de vista da colonização, este é um trunfo de carpete vermelha à chegada. O pior é o comportamento por vezes desastrado dos colonizadores.

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