Cá temos mais um estudo para optimizar a solução aeroportuária na zona de Lisboa. Desta vez o trabalho foi realizado pela Universidade Católica na sequência de uma encomenda da Associação Comercial do Porto. O estudo defende a manutenção do aeroporto da Portela, apoiado por uma base na margem sul do Tejo para os voos low cost. Segundo rezam as notícias, esta solução de Portela + 1 pode representar uma poupança da ordem dos dois mil milhões de euros ao Estado e constituir uma melhor adaptação para mudanças que poderão ocorrer no futuro.
Só posso reagir favoravelmente a esta solução, que me parece perfeitamente viável e evitaria o grande desmando que o poderoso sector imobiliário português pretende: ocupar os cobiçados terrenos do aeroporto para aí construir, construir, construir. Como se Portugal precisasse continuamente de mais e mais cimento, por acaso numa altura em que algumas bolhas resultantes do boom habitacional já rebentaram noutros países. Entretanto, com a linha do Metro mais do que planeada para a zona, imagino os ataques que vão surgir contra esta opção.
11/28/2007
11/27/2007
O acordo ortográfico (II)
Finalmente, estou a encontrar mais alguma (pouca) informação na imprensa sobre o acordo ortográfico a que me referi na semana passada neste blog. Não é sem tempo. Pelo que leio, Portugal garantiu à CPLP que aplicaria o acordo quando houvesse três países que o ratificassem, o que presentemente já sucede: o acordo foi ratificado por Brasil, Cabo Verde e S. Tomé e Príncipe.
Um professor da Universidade da Bahia (Brasil) afirma que o acordo, que ele conhece, é muito simples. Acentos considerados desnecessários desaparecem, consoantes mudas são abolidas e as três letrinhas que faltavam para que o nosso alfabeto ficasse igual ao dos ingleses - k, w e y - são adicionadas.
Sobre esta última adição nada tenho a dizer e até a saúdo. Aliás, supunha mesmo que ela já se tinha verificado (os dicionários modernos incluem o k, o w e o y. )
Quanto ao resto não sei se concordo, sem ver as regras estabelecidas. Se a forma diferente de pronunciar as palavras em cada país não for respeitada só para que haja uma uniformidade artificial, estou em absoluto desacordo. Repito o que disse no meu post anterior: não faz qualquer sentido uniformizar o que é diferente. Para quê? Porquê? Aliás, a nossa sintaxe é em muitos casos tão diferente da brasileira que ter todos os vocábulos grafados da mesma maneira é algo ridículo.
Informam-me que, no total, o novo acordo mexe com cerca de 0,4 por cento das palavras usadas no Brasil e com um pouco mais de 1 por cento da ortografia de Portugal. Ora, aqui já temos uma informação quantificada: planeia-se a mudança ortográfica de cerca de 3 vezes mais vocábulos usados em Portugal do que no Brasil! O que é que isso significa?
Dando como certa a informação de Jonuel Gonçalves, o já referido professor da Universidade da Bahia, óptimo passará a escrever-se ótimo e redacção transformar-se-á em redação. Que redacção passe a redação não acho muito grave, até porque ilação, que só se escreve com -ç- em português luso, pronuncia-se como se tivesse -cç-. Tal como inflação.
Estou a imaginar que, na mesma linha, vocábulos como acção, accionar, accionista, acta, actividade, activista, activo, acto, actor, actuar, actualização, actualmente, actuar, aspecto, atracção, baptista, baptizado, característico, colectivo, correcto, detectar, directamente, directo, director, efectivo, efectuar, eléctrico, electricidade, espectador, exactamente, exacto, factor, factura, impacto, incorrecto, infractor, inspector, pactuar, protector, respectivo, sector e transacção irão passar para ação, acionar, acionista, ata, atividade, ativista, ativo, ato, ator, atuar, atualização, atualmente, atuar, aspeto, atração, batista, batizado, caraterístico, coletivo, correto, detetar, diretamente, direto, diretor, efetivo, efetuar, elétrico, eletricidade, espetador, exatamente, exato, fator, fatura, impato, incorreto, infrator, inspetor, patuar, protetor, respetivo, setor e transação.
Há umas tantas palavras que me chocam sobremaneira e que, ao não respeitarem nem a etimologia nem a pronúncia, não só surgem aparentemente como incorrectas como irão causar problemas ortográficos na escrita de quem aprende línguas estrangeiras como o inglês e o francês. Se é verdade que director e diretor se podem ler da mesma forma, há algo cultural a faltar na segunda forma - algo que nem o francês nem o inglês abandonaram. Por que razão haveríamos nós de o fazer? Entretanto, para não-europeus esse substrato cultural pode contar menos do que para os europeus. Terão eventualmente uma visão mais pragmática, mais desapegada da etimologia. Tudo bem. Já hoje no Brasil se escreve atividade, por exemplo. Que os brasileiros continuem a fazê-lo, mas que não nos obriguem a segui-los.
Quanto à abolição de acentos, o que sucederá a palavras como polémica, económico, megalómano e quilómetros? No português falado no Brasil, a pronúncia destas palavras e de muitas outras faz-se com vogais fechadas. Daí que se escreva polêmico, econômico, megalômano e quilômetros. Qual será a solução? Se é abolido o acento, as palavras deixam de parecer esdrúxulas, como de facto são. Não se queira é mudar a pronúncia do português através da ortografia. Esta é que tem de acompanhar a oralidade tanto quanto possível, não o contrário.
Entretanto, tudo isto é cozinhado sem debate, num país que se intitula democrático! Foram os cidadãos de uma maneira geral e os professores em particular chamados a pronunciar-se? Não! O governo cala-se. Parece que só os livreiros é que se têm manifestado, e mansamente. Será que um caso destes, da nossa língua, serve apenas interesses comerciais? Muito mal vai o país se o governo oculta factos como este dos seus cidadãos!
Um professor da Universidade da Bahia (Brasil) afirma que o acordo, que ele conhece, é muito simples. Acentos considerados desnecessários desaparecem, consoantes mudas são abolidas e as três letrinhas que faltavam para que o nosso alfabeto ficasse igual ao dos ingleses - k, w e y - são adicionadas.
Sobre esta última adição nada tenho a dizer e até a saúdo. Aliás, supunha mesmo que ela já se tinha verificado (os dicionários modernos incluem o k, o w e o y. )
Quanto ao resto não sei se concordo, sem ver as regras estabelecidas. Se a forma diferente de pronunciar as palavras em cada país não for respeitada só para que haja uma uniformidade artificial, estou em absoluto desacordo. Repito o que disse no meu post anterior: não faz qualquer sentido uniformizar o que é diferente. Para quê? Porquê? Aliás, a nossa sintaxe é em muitos casos tão diferente da brasileira que ter todos os vocábulos grafados da mesma maneira é algo ridículo.
Informam-me que, no total, o novo acordo mexe com cerca de 0,4 por cento das palavras usadas no Brasil e com um pouco mais de 1 por cento da ortografia de Portugal. Ora, aqui já temos uma informação quantificada: planeia-se a mudança ortográfica de cerca de 3 vezes mais vocábulos usados em Portugal do que no Brasil! O que é que isso significa?
Dando como certa a informação de Jonuel Gonçalves, o já referido professor da Universidade da Bahia, óptimo passará a escrever-se ótimo e redacção transformar-se-á em redação. Que redacção passe a redação não acho muito grave, até porque ilação, que só se escreve com -ç- em português luso, pronuncia-se como se tivesse -cç-. Tal como inflação.
Estou a imaginar que, na mesma linha, vocábulos como acção, accionar, accionista, acta, actividade, activista, activo, acto, actor, actuar, actualização, actualmente, actuar, aspecto, atracção, baptista, baptizado, característico, colectivo, correcto, detectar, directamente, directo, director, efectivo, efectuar, eléctrico, electricidade, espectador, exactamente, exacto, factor, factura, impacto, incorrecto, infractor, inspector, pactuar, protector, respectivo, sector e transacção irão passar para ação, acionar, acionista, ata, atividade, ativista, ativo, ato, ator, atuar, atualização, atualmente, atuar, aspeto, atração, batista, batizado, caraterístico, coletivo, correto, detetar, diretamente, direto, diretor, efetivo, efetuar, elétrico, eletricidade, espetador, exatamente, exato, fator, fatura, impato, incorreto, infrator, inspetor, patuar, protetor, respetivo, setor e transação.
Há umas tantas palavras que me chocam sobremaneira e que, ao não respeitarem nem a etimologia nem a pronúncia, não só surgem aparentemente como incorrectas como irão causar problemas ortográficos na escrita de quem aprende línguas estrangeiras como o inglês e o francês. Se é verdade que director e diretor se podem ler da mesma forma, há algo cultural a faltar na segunda forma - algo que nem o francês nem o inglês abandonaram. Por que razão haveríamos nós de o fazer? Entretanto, para não-europeus esse substrato cultural pode contar menos do que para os europeus. Terão eventualmente uma visão mais pragmática, mais desapegada da etimologia. Tudo bem. Já hoje no Brasil se escreve atividade, por exemplo. Que os brasileiros continuem a fazê-lo, mas que não nos obriguem a segui-los.
Quanto à abolição de acentos, o que sucederá a palavras como polémica, económico, megalómano e quilómetros? No português falado no Brasil, a pronúncia destas palavras e de muitas outras faz-se com vogais fechadas. Daí que se escreva polêmico, econômico, megalômano e quilômetros. Qual será a solução? Se é abolido o acento, as palavras deixam de parecer esdrúxulas, como de facto são. Não se queira é mudar a pronúncia do português através da ortografia. Esta é que tem de acompanhar a oralidade tanto quanto possível, não o contrário.
Entretanto, tudo isto é cozinhado sem debate, num país que se intitula democrático! Foram os cidadãos de uma maneira geral e os professores em particular chamados a pronunciar-se? Não! O governo cala-se. Parece que só os livreiros é que se têm manifestado, e mansamente. Será que um caso destes, da nossa língua, serve apenas interesses comerciais? Muito mal vai o país se o governo oculta factos como este dos seus cidadãos!
11/26/2007
Say "Money Money!"
Já experimentei várias vezes durante anos e nunca deu errado. Preparo-me para tirar a fotografia de uma ou mais pessoas e atiro-lhes com a velha frase Say cheese! Uns ainda riem, mas a maior parte já acha a frase tão batida que fica na mesma, de lábios fechados, ou ainda pior. E cheese obriga a abrir para o lado as comissuras dos lábios, sendo portanto meio-caminho andado para o sorriso!
Garantidamente porém, quando lhes peço que digam Money Money!, aí o sorriso é total. É que money money não só causa o mesmo efeito físico de cheese - e a dobrar - como também evoca o dito money. E a isso nem o mais empedernido anti-capitalista resiste.
Garantidamente porém, quando lhes peço que digam Money Money!, aí o sorriso é total. É que money money não só causa o mesmo efeito físico de cheese - e a dobrar - como também evoca o dito money. E a isso nem o mais empedernido anti-capitalista resiste.
11/24/2007
Quando o Anjo da Guarda não guarda bem
Sem mencionar nomes, o Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais acusou grandes empresas de fugirem ao fisco. Protestou Van Zeller, o presidente da Confederação da Indústria Portuguesa (CIP), dizendo que referir empresas sem especificar quais lançava um anátema sobre todas. Então, o Secretário de Estado ter-lhe-á mostrado documentos que provavam existir uma maior incidência clara sobre o sector imobiliário. Aí, o presidente da CIP descansou e até concordou com o Governo. Saltaram-lhe em cima os homens do imobiliário (a construção civil também faz parte da CIP, embora na sua actividade não tenha qualquer semelhança com indústrias químicas, metalo-mecânicas, de produtos alimentares, etc.). Se já andavam um tanto às turrras com a Confederação por esta estar a retardar o andamento das apetecíveis obras relativas ao novo aeroporto com a apresentação do projecto alternativo de Alcochete, os construtores decidiram agora agir. Se a CIP não nos defende, para que é que estamos lá? E saíram.
Sobre a fuga fiscal, nem uma palavra. Mas era esse o assunto?
Sobre a fuga fiscal, nem uma palavra. Mas era esse o assunto?
11/23/2007
Senha e contra-senha
Toda a gente sabe que, sempre que temos um ficheiro confidencial no computador podemos usar uma palavra secreta, de código, que geralmente designamos por password. Semelhantemente, nas Forças Armadas assuntos secretos podem exigir o uso de uma senha e respectiva contra-senha. Em casas-fortes de bancos usam-se chaves com códigos, sendo geralmente necessárias duas para a abertura dos cofres. Noutros locais, contra a senha Pássaro azul, o visitante terá de saber a contra-senha, v.g. Falcão prateado. Imitando o que se passa no mundo dos adultos, também filmes com crianças como protagonistas mostram o uso de senhas e contra-senhas, como se vê por exemplo na película alemã Emílio e os Detectives e numa das obras-primas de Manuel de Oliveira, Aniki-Bobó.
Esta série de situações com algum paralelo entre si traz-me, afinal, a uma história que no outro dia me contaram e que me levou na altura a uma sonora gargalhada pelo inesperado da cena. Contou-me uma divertida senhora, que há cerca de 35 anos estudou em regime de internato num colégio de freiras no Alentejo, que a disciplina que lá dentro reinava era rígida. Havia horas precisas para as refeições, para o estudo, a meditação, o jogo, etc. Até aqui tudo bem. Nada que verdadeiramente nos surpreenda. O interessante é o que se passava diariamente ao despertar, manhã ainda cedia: as raparigas que descansavam todas no mesmo dormitório eram pontualmente acordadas às sete horas pela freira de serviço que, após bater à porta, lançava do lado de fora como senha um sonoríssimo e vibrante Viva Jesus!. Pois do lado de dentro as estremunhadas moças tinham de responder de pronto e em coro, na voz mais alta que conseguissem, a contra-senha combinada: Morra o pecado! Assim mesmo: Viva Jesus! Morra o pecado! Diariamente.
Imagine-se a cena! Deo gratias, a sociedade está hoje livre destes rituais que, pelo menos a mim, parecem provir de uma longínqua Idade Média de profundas trevas, embora, quem sabe?, cheia de boas intenções.
Esta série de situações com algum paralelo entre si traz-me, afinal, a uma história que no outro dia me contaram e que me levou na altura a uma sonora gargalhada pelo inesperado da cena. Contou-me uma divertida senhora, que há cerca de 35 anos estudou em regime de internato num colégio de freiras no Alentejo, que a disciplina que lá dentro reinava era rígida. Havia horas precisas para as refeições, para o estudo, a meditação, o jogo, etc. Até aqui tudo bem. Nada que verdadeiramente nos surpreenda. O interessante é o que se passava diariamente ao despertar, manhã ainda cedia: as raparigas que descansavam todas no mesmo dormitório eram pontualmente acordadas às sete horas pela freira de serviço que, após bater à porta, lançava do lado de fora como senha um sonoríssimo e vibrante Viva Jesus!. Pois do lado de dentro as estremunhadas moças tinham de responder de pronto e em coro, na voz mais alta que conseguissem, a contra-senha combinada: Morra o pecado! Assim mesmo: Viva Jesus! Morra o pecado! Diariamente.
Imagine-se a cena! Deo gratias, a sociedade está hoje livre destes rituais que, pelo menos a mim, parecem provir de uma longínqua Idade Média de profundas trevas, embora, quem sabe?, cheia de boas intenções.
11/21/2007
Ao pé de Casco-de-Rolhas
Havia na Transilvânia,
Ao pé de Casco-de-Rolhas,
Um rei chamado Dencolhas
Imperador da Circânia;
Tinha por ceptro a catânia,
Com que cortava o presunto,
E não gostava de assunto
Que não fosse de manérea
Que aquela cabeça aérea
Se risse e sorrisse muito!
De quem são estes versinhos?
Ao pé de Casco-de-Rolhas,
Um rei chamado Dencolhas
Imperador da Circânia;
Tinha por ceptro a catânia,
Com que cortava o presunto,
E não gostava de assunto
Que não fosse de manérea
Que aquela cabeça aérea
Se risse e sorrisse muito!
De quem são estes versinhos?
11/19/2007
O pior cego
Ontem, ao comprar o Público dei uma mirada na página 1 do DN, que citava Durão Barroso como tendo agido como agiu no caso da guerra no Iraque devido a informação errada. É interessante que todas as muitas pessoas que estiveram presentes nas manifestações que ocorreram em Lisboa e outras cidades do país contra a (futura) guerra do petróleo tivessem tido melhor informação do que o primeiro-ministro do seu país.
O pior cego é aquele que não quer ver, diz a sabedoria popular.
O pior cego é aquele que não quer ver, diz a sabedoria popular.
11/18/2007
Desacordo ortográfico outra vez?
Uns anos depois de uma ampla e acalorada querela que encheu todos os media e que, felizmente, acabou em águas de bacalhau, eis que agora, sorrateira e repentinamente, é anunciado que está para breve a celebração de um acordo ortográfico entre os países lusófonos. Um acordo ortográfico? Estaremos a ouvir bem? Se há coisas que são muito necessárias neste mundo, há outras que não só são totalmente inúteis como são até nefastas e, diga-se com todas as letras, não têm qualquer razão de ser. A ânsia burocrática da parte de governantes que pretendem tudo uniformizar, ao mesmo tempo que nos seus discursos proclamam as virtudes da diversidade para taparem os olhos e os ouvidos das pessoas e baralharem-nas está a atingir proporções incalculáveis e atinge o ridículo ditatorial em países que se intitulam de democráticos.
Provavelmente na sequência do filme da Constituição Europeia que foi rejeitada em referendos para ser substituída pelo Tratado Reformador praticamente sem referendos, pretende-se agora assinar de cruz um Acordo Ortográfico entre os países lusófonos, como se uma língua fosse algo que pudesse ser alvo de tratados semelhantes, e sem debate prévio. É assim. Já está! Os senhores decidem, e todos os outros amocham.
Espero vivamente que haja intenso debate, porque o assunto é quentíssimo. Como sabemos, a língua portuguesa não é pertença de nenhum país, nem de nenhuma organização. Isto significa que o português de Portugal deu origem, há muitos anos, à língua que hoje se fala no Brasil e nos PALOP, mas que depois teve os seus desvios normais nos diferentes países. Porquê? Porque a sociedade dos diferentes países lusófonos não é igual, em razão do seu substrato e da sua evolução ao longo de séculos. Como a língua é um fenómeno sociológico, está fortemente correlacionada com a sociedade. Sendo a sociedade brasileira substancialmente diferente da portuguesa, seria previsível pela lógica que a língua apresentasse também notórias diferenças. E esse é um facto que se confirma. Dado que a ortografia deve reflectir o mais fielmente possível a forma oral das palavras, não espanta ninguém que a ortografia brasileira e a portuguesa sejam diferentes nalguns vocábulos. O contrário é que seria de admirar, pois não podemos falar de colonizados e colonizadores, em que estes impõem a sua ortografia aos outros. Assim, a língua é a mesma mas existem diferenças, e algumas dessas diferenças são reflectidas na grafia.
O inglês falado numa antiga colónia britânica, os Estados Unidos da América, é algo diferente do que se fala na Grã-Bretanha. Tão natural é esta diferença na oralidade como eventualmente na ortografia. Color, harbor, center, traveler e travel check (EUA) convivem muito bem com colour, harbour, centre, traveller e traveller’s cheque (RU). Como estas, dezenas de outras palavras. Não há problema! Nunca a Inglaterra proporia aos Estados Unidos a uniformização da ortografia, nem os americanos quereriam impor a sua grafia no Reino Unido. A língua, tal como a democracia, não se impõe. É um produto natural, cuja ortografia pode e deve ser mudada em cada país de tempos a tempos para melhor corresponder à mutante forma oral ou por razões de simplificação. Mas que os portugueses passem a escrever "fato" se dizem "facto" não faz qualquer sentido. E se nós "optimizamos" as coisas, não vamos passar a "otimizá-las" agora só porque os brasileiros, não nós, não pronunciam o "p".
Haja bom senso e, além disso, boa conduta democrática!
Provavelmente na sequência do filme da Constituição Europeia que foi rejeitada em referendos para ser substituída pelo Tratado Reformador praticamente sem referendos, pretende-se agora assinar de cruz um Acordo Ortográfico entre os países lusófonos, como se uma língua fosse algo que pudesse ser alvo de tratados semelhantes, e sem debate prévio. É assim. Já está! Os senhores decidem, e todos os outros amocham.
Espero vivamente que haja intenso debate, porque o assunto é quentíssimo. Como sabemos, a língua portuguesa não é pertença de nenhum país, nem de nenhuma organização. Isto significa que o português de Portugal deu origem, há muitos anos, à língua que hoje se fala no Brasil e nos PALOP, mas que depois teve os seus desvios normais nos diferentes países. Porquê? Porque a sociedade dos diferentes países lusófonos não é igual, em razão do seu substrato e da sua evolução ao longo de séculos. Como a língua é um fenómeno sociológico, está fortemente correlacionada com a sociedade. Sendo a sociedade brasileira substancialmente diferente da portuguesa, seria previsível pela lógica que a língua apresentasse também notórias diferenças. E esse é um facto que se confirma. Dado que a ortografia deve reflectir o mais fielmente possível a forma oral das palavras, não espanta ninguém que a ortografia brasileira e a portuguesa sejam diferentes nalguns vocábulos. O contrário é que seria de admirar, pois não podemos falar de colonizados e colonizadores, em que estes impõem a sua ortografia aos outros. Assim, a língua é a mesma mas existem diferenças, e algumas dessas diferenças são reflectidas na grafia.
O inglês falado numa antiga colónia britânica, os Estados Unidos da América, é algo diferente do que se fala na Grã-Bretanha. Tão natural é esta diferença na oralidade como eventualmente na ortografia. Color, harbor, center, traveler e travel check (EUA) convivem muito bem com colour, harbour, centre, traveller e traveller’s cheque (RU). Como estas, dezenas de outras palavras. Não há problema! Nunca a Inglaterra proporia aos Estados Unidos a uniformização da ortografia, nem os americanos quereriam impor a sua grafia no Reino Unido. A língua, tal como a democracia, não se impõe. É um produto natural, cuja ortografia pode e deve ser mudada em cada país de tempos a tempos para melhor corresponder à mutante forma oral ou por razões de simplificação. Mas que os portugueses passem a escrever "fato" se dizem "facto" não faz qualquer sentido. E se nós "optimizamos" as coisas, não vamos passar a "otimizá-las" agora só porque os brasileiros, não nós, não pronunciam o "p".
Haja bom senso e, além disso, boa conduta democrática!
11/16/2007
Infrontalidade
Numa célebre conferência realizada no já longínquo ano de 1871, Antero de Quental fala sobre os males que afligiram e na altura ainda afligiam a sociedade portuguesa, afirmando que "a hipocrisia torna-se um vício nacional." Como sabemos, uma atitude hipócrita é muito diferente de uma atitude frontal; lembra a movimentação dos Bispos no jogo de xadrez, atacando sempre de forma oblíqua.
Gostaria de estar enganado e que este intróito nada tivesse a ver com o caso de José Rodrigues dos Santos, mas, pelo que se infere dos media, a nota de culpa que lhe terá sido entregue pelo Conselho de Administração da RTP invoca questões laborais, incumprimento de horários e outras coisas do género para acusar aquele que é um dos mais conhecidos pivots da televisão portuguesa, numa tentativa de o expulsar dos seus quadros.
O tour de force não é, pois, à volta das polémicas declarações de JRS quando entrevistado pela Pública, as quais certamente exigiam uma convocatória do funcionário para exposição das suas razões perante o C.A. Suponho que isto terá sido feito. Trata-se de uma via oblíqua. É história antiga e consabida: o poder detesta que lhe pisem os calos. "Porque no te callas?"
Vamos a ver no que tudo dá.
Gostaria de estar enganado e que este intróito nada tivesse a ver com o caso de José Rodrigues dos Santos, mas, pelo que se infere dos media, a nota de culpa que lhe terá sido entregue pelo Conselho de Administração da RTP invoca questões laborais, incumprimento de horários e outras coisas do género para acusar aquele que é um dos mais conhecidos pivots da televisão portuguesa, numa tentativa de o expulsar dos seus quadros.
O tour de force não é, pois, à volta das polémicas declarações de JRS quando entrevistado pela Pública, as quais certamente exigiam uma convocatória do funcionário para exposição das suas razões perante o C.A. Suponho que isto terá sido feito. Trata-se de uma via oblíqua. É história antiga e consabida: o poder detesta que lhe pisem os calos. "Porque no te callas?"
Vamos a ver no que tudo dá.
11/13/2007
Exames de acesso à carreira docente
Foi recentemente aprovado um decreto que regulamenta a realização de dois exames para quem pretenda leccionar. Apesar das tentativas que fiz, nomeadamente na Net, não consegui ainda ter acesso ao articulado do decreto em questão, pelo que admito perfeitamente que a minha opinião possa sofrer algumas correcções após a leitura do documento.
Entretanto, os sindicatos já protestaram vivamente. Talvez seja interessante recuar umas décadas para entendermos melhor o assunto.
Pelo menos a partir dos anos 60, quando novas instituições privadas surgiram no panorama de ensino, os novos cursos - Relações Públicas e Publicidade, Secretariado, Turismo, Gestão de Empresas - tinham obviamente de ser aprovados pelo Ministério da Educação. Os requerimentos respectivos apresentados pelas escolas continham basicamente uma justificação para a abertura dos cursos, os planos de estudo em detalhe e as respectivas saídas profissionais. No que respeita a estas, a entidade requerente incluía sempre a via de ensino. Era um ponto importante para atrair alunos. Quando os requerimentos eram despachados favoravelmente, os estudantes diplomados ficavam habilitados a leccionar as disciplinas X e Y no ensino secundário com uma classificação a que correspondia uma determinada letra – algo importante para o seu vencimento. Esta possibilidade de os alunos diplomados leccionarem era sempre uma garantia importante para um emprego caso o diplomado não achasse nenhum trabalho conveniente na área principal do seu curso.
Posteriormente, com a explosão tanto do ensino superior público como do privado, estas saídas profissionais para o ensino passaram a tornar-se cada vez mais importantes, dada a real concorrência que se gerou. Em princípio, os estudantes que frequentavam os mais diversos cursos não estavam especialmente vocacionados para leccionar nem era esse o seu objectivo número 1, mas tal não invalida que não pudessem ter saído das muitas escolas que então nasceram alguns docentes com boas aptidões paradar aulas. E, para sermos justos, outros com fraquíssimas qualidades. Há sempre de tudo.
Entretanto, a massificação do ensino, o facilitismo que tem reinado em muitas instituições e o desfasamento entre o desenvolvimento da economia e a oferta de cursos conduziram à presente situação de muitos licenciados, à falta de melhor, enveredarem pela via de ensino. Nos casos de cursos tipicamente para professores, a ausência de estudos sobre as necessidades efectivas do mercado fez com que universidades e institutos formassem milhares de alunos que se debatem hoje com a falta de empregos na sua própria área.
Daqui resulta uma situação delicada. Em primeiro lugar, o Ministério, que foi quem autorizou o funcionamento dos cursos com aqueles requisitos, é pelo menos tão responsável como as instituições pelo panorama actual. A verdade é que existe um excesso de professores para os alunos que frequentam as escolas. Não será lógico que, nessas condições, se escolham os melhores?
Algumas ordens profissionais, v.g. dos Engenheiros e dos Advogados, sob pressão dos seus membros, já exigem estágios e exames a diplomados por determinadas instituições. Sabem que muitas das qualificações que os diplomados apresentam acabam por não corresponder ao nível expectável. O Estado propõe-se fazer o mesmo agora. A situação não é igual, porém. Enquanto as ordens profissionais não podem ser responsabilizadas pelo panorama da educação, o ministério pode e deve sê-lo. Daí que a situação, que em princípio se justifica, possa surgir como duvidosa do ponto de vista legal e mesmo ético. Por outro lado, a exigência da classificação de 14 valores como nota mínima necessária para aprovação nos exames é em si uma barreira intransponível para muitos candidatos. Contudo, se é igual para todos não é aí que reside o problema principal.
Será que docentes com 10 e 15 anos de bom exercício nas escolas terão que passar estes mesmos exames? A apreciação do seu trabalho prévio conta ou não para a aprovação final? Os docentes com habilitação própria serão considerados na mesma base dos que a não possuem mas têm já uma larga prática de ensino? Estamos perante uma situação que está longe de ser pacífica e onde a forma atrapalha a substância.
Entretanto, os sindicatos já protestaram vivamente. Talvez seja interessante recuar umas décadas para entendermos melhor o assunto.
Pelo menos a partir dos anos 60, quando novas instituições privadas surgiram no panorama de ensino, os novos cursos - Relações Públicas e Publicidade, Secretariado, Turismo, Gestão de Empresas - tinham obviamente de ser aprovados pelo Ministério da Educação. Os requerimentos respectivos apresentados pelas escolas continham basicamente uma justificação para a abertura dos cursos, os planos de estudo em detalhe e as respectivas saídas profissionais. No que respeita a estas, a entidade requerente incluía sempre a via de ensino. Era um ponto importante para atrair alunos. Quando os requerimentos eram despachados favoravelmente, os estudantes diplomados ficavam habilitados a leccionar as disciplinas X e Y no ensino secundário com uma classificação a que correspondia uma determinada letra – algo importante para o seu vencimento. Esta possibilidade de os alunos diplomados leccionarem era sempre uma garantia importante para um emprego caso o diplomado não achasse nenhum trabalho conveniente na área principal do seu curso.
Posteriormente, com a explosão tanto do ensino superior público como do privado, estas saídas profissionais para o ensino passaram a tornar-se cada vez mais importantes, dada a real concorrência que se gerou. Em princípio, os estudantes que frequentavam os mais diversos cursos não estavam especialmente vocacionados para leccionar nem era esse o seu objectivo número 1, mas tal não invalida que não pudessem ter saído das muitas escolas que então nasceram alguns docentes com boas aptidões paradar aulas. E, para sermos justos, outros com fraquíssimas qualidades. Há sempre de tudo.
Entretanto, a massificação do ensino, o facilitismo que tem reinado em muitas instituições e o desfasamento entre o desenvolvimento da economia e a oferta de cursos conduziram à presente situação de muitos licenciados, à falta de melhor, enveredarem pela via de ensino. Nos casos de cursos tipicamente para professores, a ausência de estudos sobre as necessidades efectivas do mercado fez com que universidades e institutos formassem milhares de alunos que se debatem hoje com a falta de empregos na sua própria área.
Daqui resulta uma situação delicada. Em primeiro lugar, o Ministério, que foi quem autorizou o funcionamento dos cursos com aqueles requisitos, é pelo menos tão responsável como as instituições pelo panorama actual. A verdade é que existe um excesso de professores para os alunos que frequentam as escolas. Não será lógico que, nessas condições, se escolham os melhores?
Algumas ordens profissionais, v.g. dos Engenheiros e dos Advogados, sob pressão dos seus membros, já exigem estágios e exames a diplomados por determinadas instituições. Sabem que muitas das qualificações que os diplomados apresentam acabam por não corresponder ao nível expectável. O Estado propõe-se fazer o mesmo agora. A situação não é igual, porém. Enquanto as ordens profissionais não podem ser responsabilizadas pelo panorama da educação, o ministério pode e deve sê-lo. Daí que a situação, que em princípio se justifica, possa surgir como duvidosa do ponto de vista legal e mesmo ético. Por outro lado, a exigência da classificação de 14 valores como nota mínima necessária para aprovação nos exames é em si uma barreira intransponível para muitos candidatos. Contudo, se é igual para todos não é aí que reside o problema principal.
Será que docentes com 10 e 15 anos de bom exercício nas escolas terão que passar estes mesmos exames? A apreciação do seu trabalho prévio conta ou não para a aprovação final? Os docentes com habilitação própria serão considerados na mesma base dos que a não possuem mas têm já uma larga prática de ensino? Estamos perante uma situação que está longe de ser pacífica e onde a forma atrapalha a substância.
11/11/2007
Doping mentiroso
O alemão Sinkewitz, Patrick de nome próprio, personalizou o caso mais recente de confissão pública de doping no mundo do ciclismo. Admitiu há dias que começou a dopar-se em 2003 quando ingressou nos quadros da Quick Step: "Quando entramos numa nova equipa como profissionais, encontramos um sistema montado. Os mais velhos ensinam-nos como é que a coisa funciona. A nossa ambição e a dureza do treino fazem com que nos desenvolvamos, mas ainda não o suficiente. Aí arranjamos uma ajuda extra, os resultados melhoram, começamos a ser mais conhecidos e todos gostam de nós. É assim que o doping se torna normal. " Acrescenta: "Quando soube que uma dose de EPO era detectável durante um período de cinco dias, deixei de usar esse dopante seis dias antes das provas. Era raro naquela altura que se fizessem controlos-surpresa nos treinos." Mais tarde, Sinkewitz passou para a T-Mobile, onde usou, para além de testosterona, cortisona e outras drogas dopantes, e ainda auto-transfusões de sangue. Num controlo antes da última volta a França, foi-lhe detectada testosterona sintética. Não pediu contra-análise e, obviamente, não participou no Tour.
Têm sido inúmeros os casos de doping noutras modalidades, como no atletismo, onde a atleta americana Marion Jones, grande campeã dos Jogos Olímpicos de Sydney 2000, protagonizou o episódio mais célebre.
Mas de longe o caso mais grave de todos, creio, foi a dopagem contínua a que antigos atletas da República Democrática Alemã foram submetidos para alcançarem os fantásticos resultados que atingiram e assim realçarem estrondosamente o valor das repúblicas socialistas face ao ocidente. Muitas pessoas se recordarão de que era sempre uma sensação impressionante encontrar a RDA entre as nações que mais medalhas recolhiam. Hoje, cerca de 200 desses atletas viram reconhecidos pelo actual governo alemão muitos dos males físicos de que padecem e que os incapacitaram para um sem-número de tarefas. Vão receber as indemnizações que o tribunal considerou adequadas. Não hesito em classificar toda a situação como uma exploração deplorável do nacionalismo, com uso e abuso de indivíduos, desprezando as consequências futuras. Louvo, entretanto, o que se está oficialmente a fazer na Alemanha. É claro que existem conotações políticas, mas o gesto é de humanidade. Por outro lado, a atitude das autoridades já conduziu a mais de uma dezena de confissões públicas de dopagem actualmente.
É mais do que natural que nos questionemos hoje em dia se o que iremos ver nos próximos Jogos Olímpicos de Pequim serão apenas pessoas bem treinadas que darão o seu máximo, ou se serão indivíduos treinados sim, mas fortemente dopados também - e de maneiras ardilosas. Dificilmente se voltará a acreditar naqueles atletas que são vistos como verdadeiras forças da natureza, capazes de arrasar tudo e todos. E sabem quem está já a preparar fórmulas mágicas para esticar o mais possível a capacidade dos atletas nos anos futuros, para que consigam atingir marcas hoje tidas como inatingíveis? Os homens e as mulheres da genética! Investigadores de vários países trabalham nesse sentido. Mais bandeiras nacionais a tremularem nos mastros, mais pódios, mais hinos. Tudo com essas máquinas por detrás. Afinal, o espelho de uma sociedade que se desejaria muito mais sã!
Têm sido inúmeros os casos de doping noutras modalidades, como no atletismo, onde a atleta americana Marion Jones, grande campeã dos Jogos Olímpicos de Sydney 2000, protagonizou o episódio mais célebre.
Mas de longe o caso mais grave de todos, creio, foi a dopagem contínua a que antigos atletas da República Democrática Alemã foram submetidos para alcançarem os fantásticos resultados que atingiram e assim realçarem estrondosamente o valor das repúblicas socialistas face ao ocidente. Muitas pessoas se recordarão de que era sempre uma sensação impressionante encontrar a RDA entre as nações que mais medalhas recolhiam. Hoje, cerca de 200 desses atletas viram reconhecidos pelo actual governo alemão muitos dos males físicos de que padecem e que os incapacitaram para um sem-número de tarefas. Vão receber as indemnizações que o tribunal considerou adequadas. Não hesito em classificar toda a situação como uma exploração deplorável do nacionalismo, com uso e abuso de indivíduos, desprezando as consequências futuras. Louvo, entretanto, o que se está oficialmente a fazer na Alemanha. É claro que existem conotações políticas, mas o gesto é de humanidade. Por outro lado, a atitude das autoridades já conduziu a mais de uma dezena de confissões públicas de dopagem actualmente.
É mais do que natural que nos questionemos hoje em dia se o que iremos ver nos próximos Jogos Olímpicos de Pequim serão apenas pessoas bem treinadas que darão o seu máximo, ou se serão indivíduos treinados sim, mas fortemente dopados também - e de maneiras ardilosas. Dificilmente se voltará a acreditar naqueles atletas que são vistos como verdadeiras forças da natureza, capazes de arrasar tudo e todos. E sabem quem está já a preparar fórmulas mágicas para esticar o mais possível a capacidade dos atletas nos anos futuros, para que consigam atingir marcas hoje tidas como inatingíveis? Os homens e as mulheres da genética! Investigadores de vários países trabalham nesse sentido. Mais bandeiras nacionais a tremularem nos mastros, mais pódios, mais hinos. Tudo com essas máquinas por detrás. Afinal, o espelho de uma sociedade que se desejaria muito mais sã!
11/09/2007
Não somos todos iguais
Cultura não é algo fácil de definir. Não vou, portanto, cair na tentação de chaterrimamente citar dez formas diferentes de definir a dita. É evidente, no entanto, que sempre que viajamos num determinado país longe do nosso nos deparamos com usos e costumes - eles próprios englobáveis no conceito cultural - que achamos estranhos só por serem diferentes dos nossos. Daí que normalmente se diga, e com inteira razão, que não há possibilidade de conhecermos bem o nosso país e o ambiente geral que nos rodeia se não conhecermos outros diferentes. A cultura X dá ênfase a um determinado aspecto, muitas vezes transformado até em lei, que a cultura Z praticamente ignora.
Esta semana, alguém da BBC Online teve a curiosidade suficiente para concatenar alguns costumes e até leis que poderão soar como um verdadeiro disparate ou, pelo menos bizarria, em certos meios culturais. Para quem não encontrou o artigo na imprensa, eis algumas dessas curiosidades, a que de caminho juntei outras que conheço.
Na Austrália, qualquer homem ou mulher pode embebedar-se. Como se esperaria, aliás. Pode até andar na rua aos tombos, se não perturbar ninguém. Porém, não pode cair. Se cair e um agente da autoridade estiver por perto, é levado preso. Por este simples motivo, que é bem conhecido dos australianos, algo que o bebedolas local aprende a fazer desde a adolescência é a agarrar-se a um candeeiro de iluminação pública. Enquanto se mantiver de pé não poderá ser levado para a esquadra!
Da antiga metrópole dessa Austrália, a Grã-Bretanha, vem uma lei que pode parecer surpreendente: é proibido morrer no Parlamento. Creio que não será o morto que vai preso nem acredito que o mesmo seja condenado a pagar uma multa. Mas a lei da proibição existe, talvez como recomendação firme para que eventuais rixas parlamentares sejam resolvidas “cá fora”.
Lembram-se do caso recente do Pacheco Pereira que, ao saber da vitória de L.F. Menezes, colocou o símbolo do PSD ao contrário no seu blog? Houve logo um correligionário que participou dele. Não sabia o denunciante, porventura, que colar numa carta um selo com a efígie invertida do rei ou da rainha é em Inglaterra considerado um acto de traição. Se o soubesse, tê-lo-ia possivelmente mencionado.
Na Escócia, se você estiver num hotel e alguém lhe bater aflitivamente à porta da casa de banho, abra. É melhor para a pessoa em questão, e também para si. A lei obriga-o a prestar esse auxílio.
Nas mesmas ilhas britânicas, embora seja proibido urinar contra paredes de prédios ou muros numa cidade, uma mulher que esteja grávida pode fazê-lo onde bem entender. Se para tal precisar do capacete de um polícia, este deverá entregar-lhe o dito. A protecção à família está acima de tudo.
Já na Suiça existe uma disposição algo diferente no que respeita a necessidades fisiológicas: nenhum homem pode urinar de pé em locais públicos a partir das 22 horas.
Dar nomes a animais, sejam eles cães, gatos ou outros, também pode ser perigoso. Em Portugal já conheci cães com nomes interessantes, como Zé Gomes, Carlinhos ou Faruk, e isso não trouxe nenhum mal ao mundo. Mas em França, por exemplo, experimente chamar Napoleão a um porco que tenha na sua quinta. A esquadra será o seu próximo posto para prestar declarações, pagar uma napoleónica multa e rebaptizar o suíno com um nome mais apropriado.
Como sabemos, em determinados países muçulmanos, o roubo pode ser punido com o corte da mão direita. É duro. Mas mais duro, parece-me, é o castigo para a masturbação na Indonésia: a morte. Esta medida poderá constituir uma maneira eficaz de controlar o número de habitantes do país, mas se o governo decidir mandar instalar câmaras de vídeo-vigilância nas casas das pessoas é capaz de passado algum tempo ficar sem alunos nas suas escolas. E, em nome da paz social e não só, desaconselha-se firmemente deixar professores no desemprego.
Esta semana, alguém da BBC Online teve a curiosidade suficiente para concatenar alguns costumes e até leis que poderão soar como um verdadeiro disparate ou, pelo menos bizarria, em certos meios culturais. Para quem não encontrou o artigo na imprensa, eis algumas dessas curiosidades, a que de caminho juntei outras que conheço.
Na Austrália, qualquer homem ou mulher pode embebedar-se. Como se esperaria, aliás. Pode até andar na rua aos tombos, se não perturbar ninguém. Porém, não pode cair. Se cair e um agente da autoridade estiver por perto, é levado preso. Por este simples motivo, que é bem conhecido dos australianos, algo que o bebedolas local aprende a fazer desde a adolescência é a agarrar-se a um candeeiro de iluminação pública. Enquanto se mantiver de pé não poderá ser levado para a esquadra!
Da antiga metrópole dessa Austrália, a Grã-Bretanha, vem uma lei que pode parecer surpreendente: é proibido morrer no Parlamento. Creio que não será o morto que vai preso nem acredito que o mesmo seja condenado a pagar uma multa. Mas a lei da proibição existe, talvez como recomendação firme para que eventuais rixas parlamentares sejam resolvidas “cá fora”.
Lembram-se do caso recente do Pacheco Pereira que, ao saber da vitória de L.F. Menezes, colocou o símbolo do PSD ao contrário no seu blog? Houve logo um correligionário que participou dele. Não sabia o denunciante, porventura, que colar numa carta um selo com a efígie invertida do rei ou da rainha é em Inglaterra considerado um acto de traição. Se o soubesse, tê-lo-ia possivelmente mencionado.
Na Escócia, se você estiver num hotel e alguém lhe bater aflitivamente à porta da casa de banho, abra. É melhor para a pessoa em questão, e também para si. A lei obriga-o a prestar esse auxílio.
Nas mesmas ilhas britânicas, embora seja proibido urinar contra paredes de prédios ou muros numa cidade, uma mulher que esteja grávida pode fazê-lo onde bem entender. Se para tal precisar do capacete de um polícia, este deverá entregar-lhe o dito. A protecção à família está acima de tudo.
Já na Suiça existe uma disposição algo diferente no que respeita a necessidades fisiológicas: nenhum homem pode urinar de pé em locais públicos a partir das 22 horas.
Dar nomes a animais, sejam eles cães, gatos ou outros, também pode ser perigoso. Em Portugal já conheci cães com nomes interessantes, como Zé Gomes, Carlinhos ou Faruk, e isso não trouxe nenhum mal ao mundo. Mas em França, por exemplo, experimente chamar Napoleão a um porco que tenha na sua quinta. A esquadra será o seu próximo posto para prestar declarações, pagar uma napoleónica multa e rebaptizar o suíno com um nome mais apropriado.
Como sabemos, em determinados países muçulmanos, o roubo pode ser punido com o corte da mão direita. É duro. Mas mais duro, parece-me, é o castigo para a masturbação na Indonésia: a morte. Esta medida poderá constituir uma maneira eficaz de controlar o número de habitantes do país, mas se o governo decidir mandar instalar câmaras de vídeo-vigilância nas casas das pessoas é capaz de passado algum tempo ficar sem alunos nas suas escolas. E, em nome da paz social e não só, desaconselha-se firmemente deixar professores no desemprego.
11/05/2007
Capitães de Abril
Há poucas semanas, tive ocasião de ouvir e falar com um capitão de Abril - de facto um dos mais importantes do movimento das forças armadas - durante o jantar de uma tertúlia de que faço parte. Ele foi o orador convidado. Gostei que ele se tivesse considerado “herói acidental”. É a propósito dessa evocação que alinhavo estas linhas, que traduzem sinteticamente o meu pensamento sobre a revolta. Aproveito o facto de se estar agora a discutir mais o problema colonial a propósito de uma óptima série na RTP.
O movimento militar do 25 de Abril de 1974 foi, como se sabe, conduzido principalmente por oficiais, na sua maioria com o posto de capitão. Para quem já não se lembra ou, eventualmente, nunca soube, é conveniente dizer que o despoletar do movimento, que levou à realização de várias reuniões entre oficiais, teve a sua origem próxima num decreto governamental de 1973 que foi considerado grave pelos capitães, muitos deles em missão de guerra em terras de África. O decreto permitia que oficiais milicianos - portanto, não de carreira - já com experiência de uma campanha nas colónias, pudessem, após um período relativamente curto, ser promovidos a capitães. Para o governo, a medida tinha como desígnio assegurar a existência de mais oficiais para comandar as tropas na guerra de África. Aos olhos dos capitães, porém, o decreto foi visto como um retardamento ao seu já demorado processo de promoção, o que os faria transitar para o posto de major muito mais tarde do que esperavam, com a agravante possibilidade de poderem ser injustamente ultrapassados por milicianos que não tinham tido a longa preparação deles na Academia Militar.
Embora este tenha sido o detonador do descontentamento militar, tem de reconhecer-se que existia latente um grau elevado de insatisfação. Eu chamar-lhe-ia "o cansaço da guerra". Um conflito que eclodira em 1961 mantinha-se sem resolução em 1973. Eram 12 longos anos, e em certos casos até mais porque antes de 1961 já havia oficiais que tinham estado na Índia, em Macau, em Timor, etc. Tomemos, em termos de comparação, o caso actual do Iraque, uma guerra que era para ter sido resolvida num ápice. Já lá vão cinco anos. Os oficiais portugueses iam em 12! Todo o militar gosta de ganhar guerras e não de perdê-las. Por outro lado, ficar sem um braço ou uma perna, com a coluna partida ou mesmo morto, era uma possibilidade não muito remota. A revolta era uma oportunidade para terminar com a palhaçada dos capitães milicianos e de um regime caquético. Esperava-se que desse certo, e certo deu. Depois de um percalço notório com uma saída fracassada de tropas das Caldas da Rainha em Março, o 25 de Abril foi um sucesso. O regime caiu de podre.
Como resultado de algo que aconteceu mesmo surpreendentemente bem - a revolução dos cravos foi feita mais com flores do que com balas - os militares deixaram de ser os perdedores da guerra colonial para se tornarem os libertadores da pátria. Deixaram de ir para África em campanhas, a sua vida voltou ao remanso dos quartéis e dos estados-maiores. Vários deles tornaram-se uma elite de heróis e membros do chamado Conselho da Revolução.
Hoje, quase trinta e quatro anos depois, os tempos são outros. O destemido plano dos capitães de Abril está algo esquecido, mas a derrota do exército no conflito de guerrilha africana não é vista como tal. Os capitães tornaram-se os libertadores de Portugal. Cumulativamente, foram elemento decisivo na libertação das colónias.
Rever, nesta ultra-síntese tipo-blogue, uma página importante da história portuguesa talvez valha a pena.
P.S. Dar uma vista de olhos a uma série de entrevistas de rua sobre o 25 de Abril, um link que me foi amavelmente enviado pelo Capuchinho Vermelho, é que vale certamente a pena.
http://www.megavideo.com/?v=QHOYAVC0
O movimento militar do 25 de Abril de 1974 foi, como se sabe, conduzido principalmente por oficiais, na sua maioria com o posto de capitão. Para quem já não se lembra ou, eventualmente, nunca soube, é conveniente dizer que o despoletar do movimento, que levou à realização de várias reuniões entre oficiais, teve a sua origem próxima num decreto governamental de 1973 que foi considerado grave pelos capitães, muitos deles em missão de guerra em terras de África. O decreto permitia que oficiais milicianos - portanto, não de carreira - já com experiência de uma campanha nas colónias, pudessem, após um período relativamente curto, ser promovidos a capitães. Para o governo, a medida tinha como desígnio assegurar a existência de mais oficiais para comandar as tropas na guerra de África. Aos olhos dos capitães, porém, o decreto foi visto como um retardamento ao seu já demorado processo de promoção, o que os faria transitar para o posto de major muito mais tarde do que esperavam, com a agravante possibilidade de poderem ser injustamente ultrapassados por milicianos que não tinham tido a longa preparação deles na Academia Militar.
Embora este tenha sido o detonador do descontentamento militar, tem de reconhecer-se que existia latente um grau elevado de insatisfação. Eu chamar-lhe-ia "o cansaço da guerra". Um conflito que eclodira em 1961 mantinha-se sem resolução em 1973. Eram 12 longos anos, e em certos casos até mais porque antes de 1961 já havia oficiais que tinham estado na Índia, em Macau, em Timor, etc. Tomemos, em termos de comparação, o caso actual do Iraque, uma guerra que era para ter sido resolvida num ápice. Já lá vão cinco anos. Os oficiais portugueses iam em 12! Todo o militar gosta de ganhar guerras e não de perdê-las. Por outro lado, ficar sem um braço ou uma perna, com a coluna partida ou mesmo morto, era uma possibilidade não muito remota. A revolta era uma oportunidade para terminar com a palhaçada dos capitães milicianos e de um regime caquético. Esperava-se que desse certo, e certo deu. Depois de um percalço notório com uma saída fracassada de tropas das Caldas da Rainha em Março, o 25 de Abril foi um sucesso. O regime caiu de podre.
Como resultado de algo que aconteceu mesmo surpreendentemente bem - a revolução dos cravos foi feita mais com flores do que com balas - os militares deixaram de ser os perdedores da guerra colonial para se tornarem os libertadores da pátria. Deixaram de ir para África em campanhas, a sua vida voltou ao remanso dos quartéis e dos estados-maiores. Vários deles tornaram-se uma elite de heróis e membros do chamado Conselho da Revolução.
Hoje, quase trinta e quatro anos depois, os tempos são outros. O destemido plano dos capitães de Abril está algo esquecido, mas a derrota do exército no conflito de guerrilha africana não é vista como tal. Os capitães tornaram-se os libertadores de Portugal. Cumulativamente, foram elemento decisivo na libertação das colónias.
Rever, nesta ultra-síntese tipo-blogue, uma página importante da história portuguesa talvez valha a pena.
P.S. Dar uma vista de olhos a uma série de entrevistas de rua sobre o 25 de Abril, um link que me foi amavelmente enviado pelo Capuchinho Vermelho, é que vale certamente a pena.
http://www.megavideo.com/?v=QHOYAVC0
11/03/2007
Brasil ou Brazil?
Ontem lembrei-me do Eusébio de há quarenta anos. Quando ele atingiu o auge da sua fama, por alturas do Campeonato do Mundo que se disputou em Inglaterra, os ingleses ensinaram a todo o globo como se pronunciava o nome daquela estrela do futebol: You-say-be-oh. E lembrei-me dele e desta atamancada transcrição fonética do seu nome quando por mim passou um rapaz brasileiro com uma T-shirt canarinha que ostentava, em grandes letras, a palavra BRAZIL. Disse para mim próprio que aquela era, possivelmente, mais uma T-shirt made in China por uma multinacional que grafara o nome em inglês para assim conseguir mais vendas. A pergunta surgiu-me como normal: por que razão escrevem os ingleses o nome dessa antiga colónia portuguesa com um -z- quando os portugueses o escrevem com um -s-?
A resposta, não difícil, é porventura linguisticamente interessante. No século XVII, por alturas de 1640, a velha aliança entre Portugal e a Inglaterra foi reforçada com novas cláusulas que, como se sabe, incluíram a ajuda militar para que Portugal pudesse manter a sua independência relativamente a Espanha, o casamento da princesa Catarina com Carlos II de Inglaterra e um dote que era um senhor dote. Entre outros pontos, aos navios de Sua Majestade britânica era garantido o livre acesso ao Brasil para trocas comerciais. Como é natural, os ingleses não desaproveitaram essa cláusula e fizeram largo comércio com a colónia portuguesa que derivava o seu nome das árvores visíveis ao longo de grande parte da sua costa atlântica. Essas árvores, que refulgiam como fogo (brasa) ao sol, produziam uma bela madeira, que de tanto explorada pode hoje ser encontrada mais em jardins botânicos do que noutros locais. O pau-brasil deu, assim o nome ao país.
Acontece que, na língua portuguesa, o -s- intervocálico lê-se como se fosse -z-. Assim sucede em casa, casino, fuso, luso, atraso, brasa e, naturalmente, Brasil. Ocorre o mesmo em inglês ou não? A resposta, que a minha experiência de professor me diz que muitos portugueses não sabem exactamente, é "umas vezes sim, outras vezes não". Muitas vezes não, de facto. Vejamos alguns dos muitos exemplos em que o -s- entre duas vogais se pronuncia como se fossem dois ss: basic (que muitas pessoas ligadas à informática lêem bázíque), case, casino, crusade, decrease, house, increase, lease, mason (reproduz o maçon francês), mouse, release, research, resources e used (quando significa "dantes" ou "costumava"). Ora bem: se os portugueses liam o -s- como -z, o melhor, pensaram os ingleses, seria grafá-lo como -z- para evitar problemas e impedir que aparecessem pessoas a lerem Brassil (em francês, língua em que o -s- intervocálico se lê como em português, o problema não se colocou, e a escrita é Brésil). Admitamos que foi uma solução pragmática.
Pragmática, mas diferente da solução arranjada para Brasil, foi também a maneira de os ingleses resolverem o problema da grafia de Açores e Moçambique, duas partes do império português com as quais igualmente comerciavam. Como no seu abecedário não possuem o c cedilhado, pespegaram-lhe com um -z-. Foi assim que apareceram Azores e Mozambique.
Ah, é verdade! O tal brasileiro com a T-shirt celebrava a escolha oficial do Brasil como país organizador do Campeonato do Mundo em 2014.
A resposta, não difícil, é porventura linguisticamente interessante. No século XVII, por alturas de 1640, a velha aliança entre Portugal e a Inglaterra foi reforçada com novas cláusulas que, como se sabe, incluíram a ajuda militar para que Portugal pudesse manter a sua independência relativamente a Espanha, o casamento da princesa Catarina com Carlos II de Inglaterra e um dote que era um senhor dote. Entre outros pontos, aos navios de Sua Majestade britânica era garantido o livre acesso ao Brasil para trocas comerciais. Como é natural, os ingleses não desaproveitaram essa cláusula e fizeram largo comércio com a colónia portuguesa que derivava o seu nome das árvores visíveis ao longo de grande parte da sua costa atlântica. Essas árvores, que refulgiam como fogo (brasa) ao sol, produziam uma bela madeira, que de tanto explorada pode hoje ser encontrada mais em jardins botânicos do que noutros locais. O pau-brasil deu, assim o nome ao país.
Acontece que, na língua portuguesa, o -s- intervocálico lê-se como se fosse -z-. Assim sucede em casa, casino, fuso, luso, atraso, brasa e, naturalmente, Brasil. Ocorre o mesmo em inglês ou não? A resposta, que a minha experiência de professor me diz que muitos portugueses não sabem exactamente, é "umas vezes sim, outras vezes não". Muitas vezes não, de facto. Vejamos alguns dos muitos exemplos em que o -s- entre duas vogais se pronuncia como se fossem dois ss: basic (que muitas pessoas ligadas à informática lêem bázíque), case, casino, crusade, decrease, house, increase, lease, mason (reproduz o maçon francês), mouse, release, research, resources e used (quando significa "dantes" ou "costumava"). Ora bem: se os portugueses liam o -s- como -z, o melhor, pensaram os ingleses, seria grafá-lo como -z- para evitar problemas e impedir que aparecessem pessoas a lerem Brassil (em francês, língua em que o -s- intervocálico se lê como em português, o problema não se colocou, e a escrita é Brésil). Admitamos que foi uma solução pragmática.
Pragmática, mas diferente da solução arranjada para Brasil, foi também a maneira de os ingleses resolverem o problema da grafia de Açores e Moçambique, duas partes do império português com as quais igualmente comerciavam. Como no seu abecedário não possuem o c cedilhado, pespegaram-lhe com um -z-. Foi assim que apareceram Azores e Mozambique.
Ah, é verdade! O tal brasileiro com a T-shirt celebrava a escolha oficial do Brasil como país organizador do Campeonato do Mundo em 2014.
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