O alemão Sinkewitz, Patrick de nome próprio, personalizou o caso mais recente de confissão pública de doping no mundo do ciclismo. Admitiu há dias que começou a dopar-se em 2003 quando ingressou nos quadros da Quick Step: "Quando entramos numa nova equipa como profissionais, encontramos um sistema montado. Os mais velhos ensinam-nos como é que a coisa funciona. A nossa ambição e a dureza do treino fazem com que nos desenvolvamos, mas ainda não o suficiente. Aí arranjamos uma ajuda extra, os resultados melhoram, começamos a ser mais conhecidos e todos gostam de nós. É assim que o doping se torna normal. " Acrescenta: "Quando soube que uma dose de EPO era detectável durante um período de cinco dias, deixei de usar esse dopante seis dias antes das provas. Era raro naquela altura que se fizessem controlos-surpresa nos treinos." Mais tarde, Sinkewitz passou para a T-Mobile, onde usou, para além de testosterona, cortisona e outras drogas dopantes, e ainda auto-transfusões de sangue. Num controlo antes da última volta a França, foi-lhe detectada testosterona sintética. Não pediu contra-análise e, obviamente, não participou no Tour.
Têm sido inúmeros os casos de doping noutras modalidades, como no atletismo, onde a atleta americana Marion Jones, grande campeã dos Jogos Olímpicos de Sydney 2000, protagonizou o episódio mais célebre.
Mas de longe o caso mais grave de todos, creio, foi a dopagem contínua a que antigos atletas da República Democrática Alemã foram submetidos para alcançarem os fantásticos resultados que atingiram e assim realçarem estrondosamente o valor das repúblicas socialistas face ao ocidente. Muitas pessoas se recordarão de que era sempre uma sensação impressionante encontrar a RDA entre as nações que mais medalhas recolhiam. Hoje, cerca de 200 desses atletas viram reconhecidos pelo actual governo alemão muitos dos males físicos de que padecem e que os incapacitaram para um sem-número de tarefas. Vão receber as indemnizações que o tribunal considerou adequadas. Não hesito em classificar toda a situação como uma exploração deplorável do nacionalismo, com uso e abuso de indivíduos, desprezando as consequências futuras. Louvo, entretanto, o que se está oficialmente a fazer na Alemanha. É claro que existem conotações políticas, mas o gesto é de humanidade. Por outro lado, a atitude das autoridades já conduziu a mais de uma dezena de confissões públicas de dopagem actualmente.
É mais do que natural que nos questionemos hoje em dia se o que iremos ver nos próximos Jogos Olímpicos de Pequim serão apenas pessoas bem treinadas que darão o seu máximo, ou se serão indivíduos treinados sim, mas fortemente dopados também - e de maneiras ardilosas. Dificilmente se voltará a acreditar naqueles atletas que são vistos como verdadeiras forças da natureza, capazes de arrasar tudo e todos. E sabem quem está já a preparar fórmulas mágicas para esticar o mais possível a capacidade dos atletas nos anos futuros, para que consigam atingir marcas hoje tidas como inatingíveis? Os homens e as mulheres da genética! Investigadores de vários países trabalham nesse sentido. Mais bandeiras nacionais a tremularem nos mastros, mais pódios, mais hinos. Tudo com essas máquinas por detrás. Afinal, o espelho de uma sociedade que se desejaria muito mais sã!
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