11/23/2007

Senha e contra-senha

Toda a gente sabe que, sempre que temos um ficheiro confidencial no computador podemos usar uma palavra secreta, de código, que geralmente designamos por password. Semelhantemente, nas Forças Armadas assuntos secretos podem exigir o uso de uma senha e respectiva contra-senha. Em casas-fortes de bancos usam-se chaves com códigos, sendo geralmente necessárias duas para a abertura dos cofres. Noutros locais, contra a senha Pássaro azul, o visitante terá de saber a contra-senha, v.g. Falcão prateado. Imitando o que se passa no mundo dos adultos, também filmes com crianças como protagonistas mostram o uso de senhas e contra-senhas, como se vê por exemplo na película alemã Emílio e os Detectives e numa das obras-primas de Manuel de Oliveira, Aniki-Bobó.
Esta série de situações com algum paralelo entre si traz-me, afinal, a uma história que no outro dia me contaram e que me levou na altura a uma sonora gargalhada pelo inesperado da cena. Contou-me uma divertida senhora, que há cerca de 35 anos estudou em regime de internato num colégio de freiras no Alentejo, que a disciplina que lá dentro reinava era rígida. Havia horas precisas para as refeições, para o estudo, a meditação, o jogo, etc. Até aqui tudo bem. Nada que verdadeiramente nos surpreenda. O interessante é o que se passava diariamente ao despertar, manhã ainda cedia: as raparigas que descansavam todas no mesmo dormitório eram pontualmente acordadas às sete horas pela freira de serviço que, após bater à porta, lançava do lado de fora como senha um sonoríssimo e vibrante Viva Jesus!. Pois do lado de dentro as estremunhadas moças tinham de responder de pronto e em coro, na voz mais alta que conseguissem, a contra-senha combinada: Morra o pecado! Assim mesmo: Viva Jesus! Morra o pecado! Diariamente.
Imagine-se a cena! Deo gratias, a sociedade está hoje livre destes rituais que, pelo menos a mim, parecem provir de uma longínqua Idade Média de profundas trevas, embora, quem sabe?, cheia de boas intenções.

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