Pouco passava das oito da manhã. Temperatura amena, a rondar os 18º C., que os habitantes locais consideravam baixa. De Inverno, embora ensolarado. Pacificamente, dois cães buscavam restos de comida nos sacos que se acumulavam junto de um grande contentor. Um homem dos serviços municipais ia varrendo o espaço à volta, limpando o mais que podia. O asseio nunca é muito nas ruas de Jaipur, mas uma varridela sempre melhora as coisas. Os cães farejavam tudo. A certa altura, um deles deu com um saco de plástico, fechado e ainda com restos de comida. Antegozou decerto um lauto pequeno-almoço. Sem olhar para o colega de ofício - amigos, amigos, negócios à parte - abocanhou o saco e correu velozmente dali para fora. O outro olhou e, por breves momentos, ensaiou uma corrida no encalço do felizardo. Ter-lhe-á passado depois qualquer coisa pela cabeça ou ter-lhe-ão faltado as forças e, na pacífica e resignada Índia, desistiu da corrida. Voltou sozinho para o contentor. O primeiro prémio já não apanharia, mas talvez tivesse ainda direito a alguma terminação.
Só vi a cena nesse dia, mas não me custa imaginar que ela é algo recorrente. Os baldes de rua, as latas e os contentores são, a determinadas horas, os locais preferidos de cães, cabrinhas e até das consagradas vacas, que cheguei a ver comer sacos de plástico vazios. A luta pela sobrevivência é grande.
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