São onze e meia da manhã. Dia de eleições. Acabo de chegar a casa de volta do local em que fui colocar o meu voto. Encontrei, como seria de esperar, longas filas de pessoas que aguardavam a sua vez. E, como seria previsível também, deparei com muitas cabeças brancas, um número apreciável de pessoas apoiadas nas suas bengalas, mulheres e homens que procuravam o descanso de um caridoso banco de madeira que estava ali à mão. Mesmo atrás de mim, acompanhado pela esposa, estava um indivíduo de setenta e tal anos, entubado, que cuidadosamente arrastava consigo um pequeno saco com rodas contendo o oxigénio de que carecia. (Alguém que o viu deu-lhe justificadamente prioridade.)
Se fôssemos calcular o número de reformados, i.e. gente que já não entra na contagem dos trabalhadores activos, encontraríamos decerto uma percentagem bastante elevada.
Toda a cena me impressionou. Porquê? Não tanto pela idade avançada e eventual decrepitude física e mental de muitos dos votantes, mas pelo simbolismo da sua presença ali. É que voto é voz. Ora, era isso que tantos dos que passam isoladamente em casa todos os seus dias, que sentem com agrura algum desprendimento dos filhos, que sabem ser vistos mais como um peso do que uma ajuda – estavam ali a dizer: “Eu conto tanto como qualquer outro!” Aquele voto era para muitos uma prova de vida e (ainda) de alguma influência no país que é o seu.
Para além de todo o significado político do acto, foi humanamente interessante ir votar.
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