9/08/2009

ELOGIO


Nada é perfeito, como todos sabemos, mas creio que neste caso as eventuais falhas residem mais em quem procura encontrar a perfeição do que no produto em si. Vem isto a propósito de um jornal diário ainda recente (publicou há dias a sua edição número 100). Tem o nome mais curto que conheço numa publicação diária: i. Assim, pisanamente inclinado como o i que conhecemos dos postos de informação nas cidades.
É um jornal bem feito sob muitos aspectos. Tendo como base gente inteligente - uns formados na Católica e já com experiência jornalística, outros jornalistas de profissão com bom nível, docentes portugueses no estrangeiro, colaboradores que sabem escrever e escolher temas interessantes, jornalistas desportivos diferentes do tradicional no modo de abordagem dos seus artigos e entrevistas - o jornal não assenta necessariamente em temas do dia, embora os forneça também. Com tanta fonte informativa que hoje existe - no computador, na rádio que ouvimos no carro, no telemóvel, na televisão, em outros jornais, nas estações do Metro e sei lá mais onde - as notícias da queda do avião, da derrota (imerecida) do nosso clube, de mais um atentado no Iraque que vitimou 40 pessoas, etc. é aquilo que se sabe primeiro. No i a notícia é incluída, mas por via de regra sem extraordinário pormenor. É depois o conjunto de temas actuais do diário, o qual se apresenta com um bom formato e possui dois fortes agrafes que não permitem que as folhas se soltem, que constitui a pièce de résistance. E os assuntos abordados debatem ideias e práticas apelativas, ocupam o mínimo de uma página inteira e são frequentemente ilustrados por fotografias e também por desenhos, o que os torna mais pessoais. Aliás, graficamente, o jornal é inovador em vários aspectos.
Fui leitor do Público durante cerca de 20 anos. A sua leitura deu-me geralmente prazer e ensinou-me um número grande de coisas. Contudo, tanto a presença do actual director como o abandono de uns habituais colaboradores de peso afectaram negativamente o jornal. Desgostou-me ver o apadrinhamento demasiado fiel da linha Bush pelo director do jornal antes, durante e após a invasão do Iraque. Desgosta-me agora ver a forma como certas figuras portuguesas são tratadas, sem conta, peso e medida. Mais com eubjectividade do que com objectividade. Em face da situação, o aparecimento do i constituiu para mim um alívio. Continuo a comprar o Público ao domingo, o único dia em que o i não se publica, mas nos restantes dias da semana pretiro-o relativamente ao novo periódico.
Não concordo com tudo na orientação do i, mas isso seria impossível. Às vezes parece-me favorecer a direita, mas admito que, de forma inteligente, esse favorecimento não é excessivo. Até ao momento tem conseguido ser razoavelmente fair no seu tratamento de notícias políticas.
A separata de sábado - edição de fim-de-semana - sobre características dos portugueses, é não só um exemplo de bom planeamento como é geralmente alvo de um tratamento refrescante.
Por este conjunto de razões, esta pareceu-me ser uma notícia digna de elogio.

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