10/02/2010

Turista em Lisboa




Para atirar para trás das costas conversas sobre a crise e as politiquices do costume, vesti este fim-de-semana a pele de turista na (minha) cidade de Lisboa. O tempo continua magnífico e esta luminosidade, embora frequente entre nós, está longe de ser comum por essa Europa fora. Nos finais de Setembro e durante grande parte do mês de Outubro, Lisboa e o seu casario costumam adquirir uns tons especiais, que são uma maravilha para os olhos. Para todos os olhos que param para a admirar.
Uma primeira impressão foi a de que Lisboa está cheia de turistas estrangeiros. Espanhóis são em grande número, mas também italianos, suecos, holandeses, suíços, franceses, ingleses. Com a presença dos muitos imigrantes que cá vivem e trabalham, o cosmopolitismo da cidade aumentou enormemente. Por vezes é preciso escutarmos com atenção para ver que língua as pessoas perto de nós estão a usar. Eu não diria que o português se tornou língua rara por estas paragens, mas chega a ser já saudada com alguma satisfação pela alma lusa que percorre as ruas, anda no metro, salta para o autocarro ou mesmo para o eléctrico. A propósito, se o eléctrico for o 15, que percorre a zona ribeirinha até Algés, eu diria que ao fim-de-semana cerca de 50 por cento dos passageiros são estrangeiros. E se for o 28, que começa nos Prazeres e dá a volta pela Baixa e sobe as encostas do Castelo, atrevo-me a dizer que a percentagem é ainda superior.
Isto de transportes na cidade não é pura conversa. Para sermos turistas lisboetas mais a sério, devemos deixar o carro estacionado algures e não pensar nele uma única vez. Os transportes da cidade são muito razoáveis. Não só as estações do Metropolitano são quase todas muito apelativas, como também tanto os autocarros como a maioria dos eléctricos possuem ar condicionado e assentos confortáveis. A rede do Metro é já suficientemente ampla para nos levar rapidamente a diversos sítios, onde poderemos tomar outro meio de transporte ou deambular pelas ruas.
Algo que se nota ultimamente no turismo estrangeiro de Lisboa é uma forte dose de juventude. Digamos que todas as idades estão, naturalmente, representadas, mas a camada jovem parece-me sobressair. Os voos low cost contribuem poderosamente para isso. Mas não admira que haja tantos jovens. Tal como se oferece, com a sua variada vida nocturna contrabalançada com calma e sossego durante o dia, a sua cor e os seus altos e baixos de onde tão depressa se vê o rio como temos que adivinhá-lo, Lisboa tem um encanto muito próprio. Para a juventude, é especialmente atraente deixar-se perder num bairro pitoresco, escadinhas abaixo ou acima, ainda com um certo cheiro à vida do antigamente. Os mais idosos não se aventuram por esses lados, que as pernas já lhes pesam e as bengalas não dão muito jeito num empedrado como o das calçadas de Alfama ou vielas da Mouraria. Para os mais jovens, porém, é toda uma descoberta. A baixa criminalidade da cidade ajuda. E os costumes portugueses no geral. Não é por coincidência nem devido a cunhas que Lisboa acabou de conquistar ontem pela segunda vez consecutiva o título de Melhor Destino para City Breaks na Europa, numa cerimónia que decorreu na Turquia. Entre outros destinos nomeados estavam Londres, Madrid, Paris, Praga, Roma, Veneza, Istambul, Oslo e Tallin.
Também no dia de ontem, depois de uma breve saltada ao meu bem conhecido Parque das Nações com um passeio à beira-rio, fui visitar uma das várias exposições que celebram o centenário da República. Fui ver a Viajar, para ter uma ideia mais concreta de como o turismo atravessou estes últimos cem anos, com especial incidência nos seus primórdios. Sem ser uma exposição excelente, dá alguma informação. Realce-se o facto de serem oferecidos tantos dados informativos num espaço bastante exíguo (nada que se compare com o da Cordoaria). No regresso, por ruas animadas, uma paragem para um repousado batido na esplanada da Suiça, do lado da Praça da Figueira, e uma meia-de-leite com torrada para quem estava comigo. A encosta de casas do lado do Castelo recebia todo o sol do fim-de-tarde. A cidade mais tradicional era mais uma vez a grande artista de strip-tease que sempre foi: só a pouco-e-pouco é que se vai despindo e revelando. Arrelia e atrai o turista que, para a conhecer melhor, tem de ir vê-la de perto, mergulhar nela. A cidade não facilita. É exigente.
Entretanto havia música no Rossio. Perto de minha casa já está igualmente montado um enorme palco para a noite de 4 para 5 de Outubro. Aliás, a cidade está cheia de música, desde as estações do Metro até à rua.
Hoje, sábado, foi um dia obviamente diferente, mas com novas cenas de cidade. O amigo autor das Sugestões que este blog regularmente inclui escreveu-me a falar de uma regata de canoas no Tejo. E ainda de um concerto dado em frente ao Museu de Marinha pela Banda da Armada. Não resisti. Com a tarde ensolarada e uma temperatura amena, foi um prazer dar um salto à zona de Belém, onde havia centenas e centenas de pessoas. Imensos estrangeiros também. O Tejo estava lindo. As canoas que participaram na regata não têm, infelizmente, muita cor, mas estão aparentemente bem conservadas e com isso ofereceram um espectáculo atraente, até porque no mesmo Tejo velejavam vários barquinhos mais pequenos, creio que da classe Optimist, a cirandar por ali e a rasar as canoas que competiam em festa amigável incluída nas comemorações do 5 de Outubro.
O clima era de festa, a juventude imperava, embora junto à Banda da Armada houvesse muitos cabelos brancos, de saudade. Não se falava de coisas que fossem menos alegres, gozava-se o momento. O contrário seria ofender o óptimo clima e todo o ambiente de que desfrutávamos. Não ouvi ninguém discutir, mas vi crianças a correr e a andar de bicicleta, casais jovens a passearem bebés nos seus carrinhos, e também um ou outro casal de mais idade sentado a gozar o sol.
Lisboa ficou bem na fotografia. Passou no teste com nota elevada. Amanhã há mais.

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