4/15/2011

Os donos do mundo


O título da notícia da BBC, de onde retirei a foto aqui inserida, não deixa margem para dúvidas: Gaddafi must go! É a troika que o decide. A propósito, talvez seja bom lembrar que, originalmente, a palavra troika se aplicava a um meio de transporte russo que era puxado por três cavalos postados lado a lado. Hoje, troika é um vocábulo muito usado noutros contextos, podendo ser sinónimo de tríade, de trio e de trindade. E que trindade, neste caso! Obama, dos Estados Unidos, Cameron, por parte do Reino Unido, e Sarkozy, pela França, decidiram atacar com mais poderio militar.
Em larga medida, este reforço dos ataques para derrubar Khadafi vai contra a resolução das Nações Unidas, a qual permitia apenas uma intervenção com a finalidade expressa de poupar a vida a civis. Infelizmente, cedo se viu que a resolução da ONU não passava de mais uma jogada hipócrita por parte de alguns países. Recordando Talleyrand, foram utilizadas palavras como democracia, liberdade e ética, essencialmente para dissimularem o pensamento dos países-membros em questão.
Khadafi tem de ser despachado! Entretanto, não é impossível, pressente-se, que se houvesse agora eleições na Líbia, Khadafi viesse a ganhá-las. Afinal, os bravos rebeldes não são assim tão poderosos nem influentes na sociedade líbia.
Aquele que é o desejo fulcral das grandes potências ávidas de petróleo e de tudo o mais que a Líbia possa produzir e que renda bom dinheiro é a possibilidade de gozarem de total liberdade de movimentos. Tal como noutros casos, tanto lhes faz que o líder local seja comunista ou capitalista, honesto ou desonesto para com o seu povo. O que fundamentalmente lhes interessa é que ele "colabore" e consiga manter a lei e a ordem no seu território. Khadafi terá servido para estes propósitos até agora, mau grado os seus muito defeitos. Presentemente, porém, tem de fazer as malas.
É triste e humilhante para pessoas com réstias de ética ver esta prática por parte de países do Ocidente que se consideram civilizados. É o poder militar que conta, mais nada. A palavra "coerência" faz parte da langue de bois dos políticos. Todavia, a incoerência que eles revelam na aplicação dos seus princípios é total. Irónico e satírico, o óptimo comediante que foi Groucho Marx costumava dizer: "Estes são os meus princípios; mas, se quiserem, tenho outros."
Que Khadafi não é grande peça sabemo-lo todos. Mas que direito têm os Estados Unidos, a França e o Reino Unido de bombardear e invadir um país soberano que não os atacou? E por que razão adoptam uma atitude tão diferente relativamente ao Bahrein, por exemplo, onde aliás os Estados Unidos possuem uma base militar? Ou perante a Síria?
Só se espera que da acção da troika não surja o início de mais uma katastroika. É hipótese que não pode nem deve ser arredada.

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