3/29/2005

Linguagem de Código

Em descontraído bate-papo à mesa do café, perguntava-me ontem o João Ratão: "Nesta história do novo Código da Estrada, por que razão não se é autorizado a empunhar o telemóvel, se se pode calmamente acender um cigarro e fumá-lo, mantendo-o sempre entre os dedos? Um não morde, o outro até pode queimar! Anda aí mão do lobby dos tabacos!" Sim ou não?
Do que não há dúvida é de que, com as novas coimas, fica muito mais caro tentar subornar um agente de trânsito.

Santos e Santas

Com tanto santo que há, a língua portuguesa criou três variantes que fazem algum sentido. Assim, para os santos cujo nome masculino começa por consoante a língua usa "São" (frequentemente abreviado para "S." na escrita); aos começados por vogal chama de "Santo" e aos femininos aplica a fórmula única de "Santa". Daqui resultam, à guisa de exemplo, São Brás, São Barnabé, São Cristóvão, S. Marcos, S. Lucas, no primeiro caso. Os iniciados por vogais incluem Santo António, Santo Antão, Santo Eustáquio e Santo Onofre. Por uma vez, às mais sagradas de entre as mulheres foi atribuído um modelo uniforme, sem as variantes que os homens apresentam, v.g. Santa Eufémia, Santa Ifigénia, Santa Iria, Santa Lúcia, Santa Maria.
Assim se chega pelo menos a duas conclusões: 1. Neste capítulo, de entre os humanos canonizados, as santas são mais constantes do que os homens -- factor que deve ter contribuído para a sua santificação. 2. Os nomes femininos que, por contracção, acabaram por produzir apelidos, v.g. "Santana", mantêm esta forma nos apelidos masculinos. É a lógica a imperar mais uma vez e a permitir concluir que "Santana nunca poderá ser São." Já se sabia, mas é sempre melhor entender porquê.

(Encontrei este pequeno apontamento perdido entre as páginas de uma revista de Dezembro de 2004. Tê-lo-ei redigido então para o blog. Hoje talvez tenha ainda algum interesse, mas apenas para os amantes da língua, e da má-língua também.)

3/26/2005

Museus

Um jornal diário publicou ontem uma curiosa análise sobre museus, na qual compara números de visitantes e a política de preços de entrada nos 28 museus do IPM (Instituto Português de Museus) com os de instituições famosas como o Prado e o Louvre. Embora haja certamente que atender a diferenças notórias, v.g. a população dos países, o número de turistas estrangeiros, a preparação cultural da população e o seu poder de compra, não pode deixar mesmo assim de impressionar que enquanto o Museu do Prado atingiu cerca de 2 milhões de visitantes o ano passado, o nosso mais emblemático, que é o de Arte Antiga, se tenha quedado pelos 76 milhares. O custo das entradas no Prado é de 6 euros vs 3 euros no Arte Antiga (MNAA). O Louvre, que recebeu mais de 6 milhões de visitantes, apresenta um tarifário de 8,5 euros. O total dos museus do IPM recebeu 900 mil visitantes em 2004, uma cifra obviamente baixa e que levanta algumas interrogações. Atentemos, por exemplo, no facto de a exposição de Paula Rego no Serralves -- não incluído no IPM -- ter excedido os 100 mil visitantes. O que se passa?
O problema é demasiado complexo para ser tratado aqui, ainda por cima por alguém que não está devidamente habilitado para o fazer. No entanto, como cidadão que conhece um número significativo de museus, permito-me listar uns tantos pontos:
1. A arte exibida em muitos dos nossos museus é predominantemente religiosa (vários museus nasceram da necessidade de albergar peças valiosas provenientes de mosteiros, conventos e igrejas). No seu conjunto, tantas peças religiosas não resultam atractivas (pelo menos para mim). É uma arte que nos fala de uma religiosidade muito diferente da dos nossos dias ou que ostenta uma riqueza que nos choca perante carências que certamente foram muito gravosas no passado.
2. A climatização da generalidade dos museus é fraca. Como exemplo, permito-me citar uma visita que fiz há um mês ao Museu Regional de Aveiro. O frio que se fazia sentir nas salas era notório. As solícitas funcionárias eram as primeiras a lamentar esse facto. Em Dezembro passado, tive ocasião de visitar vários museus e palácios em Viena, onde a temperatura interior levava os visitantes a deixarem os seus abafos nos vestiários. É evidente que a disposição com que depois se admira as obras de arte é completamente diferente.
3. O uso, obviamente pago, de guias-áudio que nos explicam as peças mais significativas pode constituir uma óptima lição cultural. É um verdadeiro valor acrescentado para o visitante. Nunca encontrei em Portugal esses guias -- o que não quer dizer que não existam. Aqui está uma óptima oportunidade de colaboração do meio universitário específico com os conservadores dos museus (ligação escola-comunidade).
4. Por último, mas não por ser o item menos importante, vem a realização de exposições temporárias com um certo nível. À guisa de exemplo, recordo uma de há alguns anos no MNAA, salvo erro intitulada "O Eterno Retorno". Foi uma exposição que pôs em animado confronto Arcimboldo e Bosch e nos mostrou pintores pouco vistos entre nós como Delvaux e Magritte, a par de numerosos surrealistas portugueses e estrangeiros. Não sei quantos visitantes a exposição teve, mas das três vezes que lá fui encontrei sempre imensas pessoas (o espaço não era muito, é verdade). Pôr as peças e as épocas e falarem umas com as outras de forma original, a dizerem-nos qualquer coisa, parece-me fundamental. E como o uso dos multimédia permite fazer maravilhas!

Dir-se-á que tudo isto custa muito dinheiro e que não há verba. Às vezes é uma questão de prioridades governamentais e de dinamismo dos curadores. Mas é um facto que quando estes requisitos não existem, só se pode esperar um certo marasmo.
Ficam de fora desta análise a promoção, os meios de acesso aos museus, a existência de um parqueamento próximo quando não há metro, as visitas de estudantes -- que felizmente não têm diminuido -- e a preparação geral dos portugueses. Uma pergunta final: para se aprender nos museus é preciso possuir uma bagagem prévia, ou obtém-se essa bagagem visitando-os? É uma eterna questão.

3/25/2005

Na quadra da Páscoa

Desejos de uma Páscoa Feliz!

3/24/2005

Presidente respeitou o princípio da prudência

Não será eticamente muito aceitável que nos citemos a nós próprios, mas sinto necessidade de relembrar um texto que apareceu neste blog com data de 18 de Outubro de 2004. Trazia como título "O Princípio da (Im)prudência" e versava sobre o Orçamento de Estado para o corrente ano. Depois de salientar a importância na Contabilidade do princípio da prudência, acentuava que o referido Orçamento se baseava em "premissas que provavelmente mostrarão não ser prudentes." Mais à frente referia que "de há muito se sabe que a política é um dos grandes adversários da economia. Estamos perante mais um caso."
Infelizmente, estamos. Não se sabia na altura que não haveria legislativas em 2006, mas o governo contava com isso. Queria ganhar essas eleições a qualquer custo, depois das autárquicas de 2005. O preço do petróleo, estimado salvo erro em 38 dólares, está acima dos 50. O assumido crescimento económico de 2,4 por cento não deverá na realidade passar de 1 a 1,2 por cento. Embora as contas da Comissão Constâncio ainda estejam por concluir, já se fala num défice de seis por cento!
Foi de facto um bem que governantes assim se tivessem ido embora. Não seria prudente continuar com homens destes ao leme do país.

3/22/2005

Lisboa está menos bonita

Há uns dias, passando na zona da Av. 5 de Outubro, reparei que os jacarandás estão amarelecidos e as suas folhas caem como se Outono fosse.
Numa altura em que deveriam estar a começar a florir, este ano, ao invés, secam.
Veio-me à memória um artigo que António Barreto escreveu num jornal há cerca de um ano (ou serão dois?), em que fazia a apologia do espectáculo que é a floração dos jacarandás de Lisboa, maravilha todos os anos repetida. Foi então zurzido por alguns, e gozado por outros.
Não adivinhava ele quanto a sua chamada de atenção era oportuna!
É que esse festival de cor e perfume que a natureza todas as Primaveras oferece a Lisboa, este ano, mercê da falta de chuva, não se repetiu.
Para tristeza de António Barreto, de muitos lisboetas e minha, seguramente.

LobbiesHomens... do Governo

E vão duas! Depois de o lobby das farmácias ter sido atingido com uma medida inesperada, eis que outro lobby, o dos juizes, vê reduzidas as férias judiciais. Como não há duas sem três, aguarde-se a próxima.
Quem vaticina qual será o próximo lobby a ser afectado?

As duas Europas. Bolkestein ou Frankenstein?

Foram os americanos que, aquando da invasão do Iraque, seguiram a clássica táctica de "dividir para reinar". Classificaram a União Europeia em "velha" e "nova" Europa. A nova Europa concordava com a posição dos EUA, a outra opunha-se. É uma história que recorda o epíteto com que os católicos em tempos mimosearam os cristãos que deles discordavam: "protestantes".
Pois agora são os europeus que se autodividem a propósito da directiva da autoria de um ex-comissário europeu chamado Bolkestein, que recebe a denominação de "Frankenstein" pelas nações que a ela se opõem. Esta directiva visa facilitar a criação de empresas de prestação de serviços em qualquer país da União Europeia. Apesar de não ter tido origem no seu consulado, o seu actual Presidente defende-a.
Na linha da mesma lógica que tem presidido à evolução da UE, a directiva propõe a eliminação de obstáculos à prestação de serviços fronteiriços. Assim, uma empresa de carpintaria portuguesa, por exemplo, poderia instalar-se em França, praticando preços mais baixos do que os franceses, regendo-se pelo princípio do país de origem. É óbvio que isto iria retirar trabalho às empresas do ramo gaulesas, que praticam preços mais altos. A situação poderia vir a causar problemas sociais em França, caso a iniciativa portuguesa fosse seguida por empresas espanholas, polacas e checas, todas com preços altamente concorrenciais -- obrigando os franceses a andarem de cavalo para burro e a nivelarem-se por baixo. Numa outra hipótese, situação idêntica poderia ocorrer com empresas de informática originárias de países com salários mais baixos.
Como seria previsível, o patronato europeu é favorável à directiva, assim como os países do Leste. Também previsivelmente, países como a França, a Alemanha e a Suécia e respectivos sindicatos de trabalhadores estão contra.
Politicamente, dado que a aprovação da "Constituição Europeia" está agendada em vários países para datas relativamente próximas, discussões desta natureza não facilitam as coisas aos governos que pretendem ver a "Constituição" aprovada. Esta União Europeia não é de construção nada fácil.
E você, concorda ou não com Bolkestein?

Povo sem sono

Os portugueses conquistaram, sem qualquer esforço e mesmo sem dormir, mais um título a nível mundial: são os que atiram a hora da deita para mais tarde. Uma sondagem através da Internet permitiu concluir que 75 por cento dos cidadãos lusos vão para a cama depois da meia-noite. Precisando melhor, 30 por cento desse número não fecha os olhos antes da uma da manhã.
Dado que em Portugal a sesta não tem a mesma popularidade que em Espanha -- outro país relativamente noctívago --, o café torna-se um elemento indispensável para manter as lusas gentes acordadas durante o dia. Um cafezinho a meio da manhã e outro a meio da tarde. Cafezinhos e conversas mais ou menos longas com colegas de trabalho igualmente cansados e sonolentos. Umas pausas na labuta diária vêm sempre a jeito.
No que respeita a estudantes, bastará dizer que as discotecas e bares não estão apenas cheios à sexta-feira à noite.
Talvez o número de horas passadas em frente aos aparelhos de televisão e o rendimento tanto no trabalho como nos estudos tenham alguma coisa a ver com isto.

3/20/2005

Algarve Gruyère

Com a falta de água que já se sente em várias partes do país, não é de admirar que os proprietários de empreendimentos turísticos do Algarve estejam preocupados. À boa maneira portuguesa do desenrascanço, fora do "rule of law", decidem abrir furos perfeitamente ilegais. Deixam depois as autoridades perante o facto consumado. Noticiaram os jornais que só no ano passado foram fiscalizados 374 furos no Algarve e levantados 158 autos. O montante da multa é mais do que irrisório: 249,40 euros. Se há anos já se dizia que o Algarve, de tão furado, mais parecia um queijo Gruyère, imagino como ele está agora.
Contudo, para evitar a existência de prevaricadores haveria um método muito simples: exigir às firmas especializadas a verificação da licença camarária respectiva antes de começar os trabalhos de perforação. Caso contrário, ser-lhes-ia automaticamente cassado o alvará. Autoridades que querem, fazem; autoridades que não querem, tapam os olhos.

O Futuro da Liberdade

Aos que se interessem por trabalhos de política, a que se junta uma dimensão histórica, económica e social, tanto à escala global como nacional, tenho de recomendar -- caso não o tenham já lido -- "O Futuro da Liberdade", de Fareed Zakaria. É um livro com várias ideias novas muito arrumadas e outras bastante provocatórias. Zakaria é um politólogo americano de origem indiana, que me parece objectivo q.b. e bem documentado nas suas análises. É presentemente o director da revista Newsweek. A tradução portuguesa saiu em Julho do ano passado sob a chancela da Gradiva. Vale francamente a pena.

3/17/2005

E agora, já eSCUTam?

Há muito que não escrevo neste blogue esquerdista. Não posso deixar de notar, no entanto, que agora, com novo governo, até estão muito pouco políticos. Sabe-se lá porquê! A minha intervenção vai ser curta. Gostaria apenas de relembrar o que escrevi em Outubro do ano passado a propósito das SCUT: "A esquerda lança atoardas demagógicas, ataca a direita, mas sofre do grande problema de não saber fazer contas." Felizmente que um socialista como Vítor Constâncio, que até é Governador do Banco de Portugal, vos veio dizer, entre outras grandes verdades, que não é com desejos piedosos que se obtém dinheiro para honrar contratos. Vocês acusam a direita de ser populista, mas quem é que arranjou um grande trinta-e-um com as SCUT? Reparem no que está por detrás da sigla: "Sem Cobrança ao Utilizador". Se não querem cobrar nas portagens directamente, que façam pagar todos indirectamente através dos combustíveis ou subindo o imposto automóvel, sugere Constâncio. Ainda se lembram que neste ano de 2005, segundo o (mau) contrato que o Estado assinou com privados, o custo das SCUT vai quintuplicar relativamente ao ano passado? E que em 2011 vai ser 14 vezes superior? Se eSCUTar a direita -- e de dinheiro ela sabe! -- a esquerda pode aprender umas coisas.

Turismo cirúrgico

Esta é uma informação especialmente destinada a senhoras interessadas em face-lifts, botox para eliminação de pés-de-galinha, aumento de seios, operações laser à miopia e tratamentos similares. O "turismo médico-cirúrgico" está bastante desenvolvido no Oriente, mais particularmente na Tailândia, na Malásia e em Singapura. Para quem pretenda fazer esse tipo de intervenção, existe a possibilidade de, em vez de ficar em casa com ligaduras durante uma semana ou duas que se tornam insuportáveis, fugir para locais de sonho onde esses tratamentos são não só correntes como executados por médicos conceituados. Juntando o útil ao agradável, poder-se-á aproveitar o tempo para fazer férias tranquilas em ambientes requintados. Os preços das mini-cirurgias são francamente mais em conta do que na Europa. Exemplos do tarifário: uma injecção de Botox para eliminação dos pés-de-galinha no Yanhee General Hospital, na Tailândia, custa 320 dólares, enquanto um face-lift médio não ultrapassa os 2000 dólares. Estes preços incluem uma estadia de duas noites, com tudo incluído. Na Malásia, local de sonho, senhoras interessadas em aumento de seios podem efectuar a operação e repousar seguidamente durante duas semanas no Eastern & Oriental, um hotel de charme de cinco estrelas, com tudo incluído, por 4500 dólares. Dado que o dólar perdeu 38 por cento para o euro, é muito possível que valha a pena.
Não será altura de os portugueses persuadirem os bons cirurgiões que possuímos a investirem também neste tipo de turismo? Criaríamos um tsunami turístico!

3/15/2005

Reciclagem que (re)compensa

Em Portugal, as sucessivas campanhas para reciclagem de produtos e separação por contentores diferentes têm produzido alguns efeitos. É, contudo, nos países nórdicos que a percentagem de produtos reciclados atinge valores mais elevados. A Noruega lidera neste campo. Um dos motivos para tal está, como é óbvio, estreitamente ligado à educação do povo norueguês. Mas outro, que representa uma verdadeira novidade, tem decerto contribuído para o aumento que se tem registado. E essa novidade é exportável para países como Portugal. Máquinas automáticas de recepção de produtos recicláveis, como garrafas, latas de sumos e outros, possuem um sofisticado sistema de identificação das embalagens. São máquinas que se encontram em super- e hipermercados. O interessante é que as referidas máquinas dão ao cliente um talão correspondente ao valor dos produtos entregues para reciclagem. Esse talão, que pode atingir valores interessantes, é totalmente dedutível nas compras efectuadas no estabelecimento.
Estou plenamente convencido de que um sistema deste tipo faria elevar substancialmente a percentagem de embalagens recicladas no nosso país.

3/13/2005

De confiança

Homens e mulheres de confiança política são, em quase cem por cento dos casos, pessoas de desconfiança para a Nação. Em vez de seres verdadeiramente pensantes e com ideias vincadamente próprias, são autênticos paus-mandados. Eticamente sem coluna vertebral, obedecem fiel e cegamente ao seu chefe ou ao partido. Alguém que se rodeia de muitas pessoas da sua confiança é sempre alguém que considera o exercício e manutenção do poder mais importante do que a sua própria missão de servir o país.

3/12/2005

A Igreja Católica


A propósito da saúde do Papa, um dos últimos números da revista Newsweek inclui um curioso artigo, do qual respigo alguns números que me parecem dignos de reflexão. Vejamos, em primeiro lugar, um quadro que nos mostra quais os países com maior número de católicos, a sua taxa percentual nos respectivos países e o que esse número nacional de católicos representa numa população total de católicos em todo o mundo, avaliada em 1.1 biliões de fiéis.





Note-se o elevado peso de nações de línguas latinas, especialmente as ibéricas: castelhano e português. O Brasil lidera. Seguem-se-lhe o México e as Filipinas - estas certamente pela antiga ocupação dos "Filipes" -, depois os Estados Unidos e a Itália. Poder-se-á dizer que, relativamente aos países de línguas latinas aqui citados, a religião católica é hegemónica. Já no que respeita aos Estados Unidos, o número de católicos, certamente incluindo muitos hispânicos, italianos, irlandeses e portugueses, pouco mais atinge do que um quinto da população do país. Por este motivo também, por serem obrigatoriamente postos em confronto com outros grupos religiosos, na sua maioria cristãos, os católicos dos Estados Unidos têm uma formação que os distingue dos da Península Ibérica, por exemplo.
Um segundo quadro leva-nos a alterações registadas nos últimos 35 anos no número de católicos, por países. Aqui, nota-se que na Europa o catolicismo tende a diminuir, por vezes fortemente como na Áustria, aumentando apenas na Polónia, fenómeno a que não será estranho o facto de o actual Papa ser polaco.



Um último quadro mostra-nos a percentagem de católicos por continente. Verificamos que os países de línguas ibéricas da América Latina quase que perfazem metade dos católicos de todo o mundo. A Europa vem em segundo lugar. A despeito da sua relativamente diminuta população, a África - largamente colonizada também por nações europeias - ocupa o terceiro lugar, com alguma tendência para aumentar. A surpresa pode vir do facto de a América do Norte, i.e. incluindo o Canadá, não representar mais do que sete por cento de todos os católicos do globo. Mas lá criou-se grande riqueza. Por outro lado, nos países mais desenvolvidos da Europa - Dinamarca, Suécia, Finlândia, Noruega, Alemanha - o número de católicos é reduzido. Terá a religião algo a ver com a formação de riqueza? (Esqueçamos Max Weber por momentos.)

Nacional

Que ninguém volte a usar no Porto o slogan "O que é Nacional é bom!". Os portistas não gostarão da piada. De facto, 4-0 foi muito!

3/11/2005

Ideograma da solidão (E. E. Cummings)

l(a

le
af
fa

ll

s)
one
l


iness

Efeitos da mini-globalização da União Europeia

A história está a ficar preta para alguns estados da União Europeia. De Portugal já aqui temos falado. Valerá agora a pena abordar um pouco a situação na Alemanha, na medida em que é não só o país mais populoso da União como também aquele que tem sido a sua locomotiva económica mais significativa. Neste momento, vemos a Alemanha a debater-se com problemas sérios no que respeita ao cumprimento do Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC), o tal que define parâmetros económicos e financeiros. Aquando da criação do euro, a Alemanha exigiu grande rigor nas contas para que a nova moeda não tivesse uma imagem inferior à da sua moeda nacional de então: o marco. Contudo, presentemente, é a Alemanha que está insistentemente a pedir aos seus parceiros da União que incluam na sua computação o esforço da unificação das duas Alemanhas. Sendo certo que esse esforço foi grande e se estenderá por mais algum tempo, a unificação deu-se há uns quinze anos, pelo que parecerá algo extemporâneo admiti-la agora como factor desequilibrante. Foi assim também que os outros Estados o entenderam e, portanto, não houve até ao momento uma reunião conclusiva sobre a reforma do PEC.
Mas quais são, entre outros, os problemas da Alemanha? De uns já aqui falámos há meses: a deslocalização de empresas germânicas para países como a Hungria, a República Checa e a China abalou bastante as finanças do Estado alemão. Aumentou a despesa -- com os subsídios de desemprego e as reformas -- e diminuiu a receita. Com uma população relativamente envelhecida -- à semelhança de outros países europeus, incluindo Portugal -- a Alemanha precisa de sangue novo. Dado que mais crianças não é coisa que se arranje de um momento para o outro, a injecção das contribuições de trabalhadores provindos dos países do recente alargamento a leste é bem vinda financeiramente. Ou seria. Só que a flagrante desproporção -- da ordem dos três para um -- entre os salários que os trabalhadores de países como a Polónia ou a República Checa estão dispostos a aceitar e os praticados na Alemanha favorece as empresas mas leva a despedimentos de nacionais, o que por sua vez conduz a subsídios de desemprego. Hoje em dia, o número de alemães sem emprego atinge a cifra impressionante de cinco milhões e duzentos mil, o que corresponde a quase treze por cento da população activa! São números que não se viam desde a grande depressão dos anos 30, que acabou por conduzir Hitler ao poder. Sabe-se que os fundamentos da União Europeia foram, em muitos aspectos, decalcados da própria unificação alemã do século XIX. A criação de uma moeda única e a abolição de fronteiras foram dois dos elementos primordiais. A Alemanha acabou por dar certo como país (fora os infelizes contextos históricos). A União Europeia, até na medida em que ela própria constitui uma mini-globalização dentro da globalização­-mãe, está a ter um parto bem mais difícil.

Pena de suspensão... suspensa

A Lei nº 30/2002 de 20.12 terá suscitado dúvidas a alguns docentes no que se refere à aplicação da medida disciplinar de suspensão. Tais dúvidas foram entretanto «esclarecidas» através da interpretação divulgada pelo Ofício-Circular nº 8 de 14.1.2005, da D.R.E.L., interpretação essa que fere de morte o espírito da referida medida, tornando-a contraditória com o seu objectivo nuclear - punir.
Com efeito, é inaceitável que a aplicação de uma medida disciplinar punitiva possa ser lida pelos discentes como um prémio, isto é, como incentivo à reiteração do comportamento reprovável que deu azo a procedimento disciplinar. Ora é precisamente isso que o prescrito no ponto 1 do mencionado Ofício-Circular objectivamente favorece quando considera justificadas as faltas dadas durante a vigência de uma eventual pena de suspensão, «não contando, portanto, para a expulsão da escola por efeito da ultrapassagem do limite das faltas injustificadas».
Será eventualmente controverso, no âmbito do ensino básico, o duplo efeito punitivo que a dita medida disciplinar na prática pode ter ao provocar nalguns casos exclusão da escola por excesso de faltas injustificadas. Já em relação ao ensino secundário, parece perfeitamente legítimo alargar o espectro da responsabilidade do aluno - é expectável que este tenha a percepção, e por ela responda integralmente, do completo alcance dos seus comportamentos e atitudes, com repercussão não apenas no seu percurso individual, mas também no colectivo/turma em que está inserido e na qualidade do processo de ensino-aprendizagem. Aliás, só mesmo uma enorme ingenuidade ousará imaginar que a pena de suspensão possa surtir, em si mesma, efeitos punitivos... Sem a temida consequência traduzida na impossibilidade de justificar as correspondentes faltas dadas, o infractor tende, isso sim, a assimilar a dita pena a uma agradável pausa lectiva. Em resumo: a medida disciplinar de suspensão é uma pena, e não um prémio, justamente e sobretudo porque as faltas dadas na sua vigência são injustificadas, desenhando um potencial cenário de exclusão da escola. Rasurada esta consequência, a medida de suspensão perderá por completo a sua eficácia disciplinar, ficando votada à condição de letra morta.
Se querem ser respeitados, devem os professores dar-se ao respeito - denunciando as arbitrariedades e inconsistências que minam as orientações administrativas cegas, mesmo que da tutela; recusando-se a aplicar passivamente medidas que deprimam a sua autoridade e autonomia e alimentem o sentimento de impunidade de alguns alunos. Neste caso concreto, é urgente que a D.R.E.L. revogue a orientação acima citada, repondo a legalidade, ou seja, devolvendo à medida disciplinar em causa o espírito que pedagogicamente a justifica: ser efectivamente punitiva.
Todavia, a manter-se em vigor esta orientação, mais valerá então imprimir um mínimo de coerência à incoerência, dela extraindo todas as consequências administrativas, a saber: considerar, já agora, igualmente justificadas as restantes faltas com moldura disciplinar, designadamente as marcadas por efeito da expulsão da sala de aula (nada as distingue, formalmente, das que são marcadas durante a pena de suspensão). Será «a cereja em cima do bolo» - os prevaricadores ficarão decerto gratos à D.R.E.L..

3/10/2005

Uma olhadela compensa

É a minha opinião apenas, mas considero que vale a pena dar uma vista de olhos pelo http://www.publicidade-off-the-record.blogspot.com Tem uma entrada com data do dia 8, sobre o reposicionamento de Portugal em termos de imagem já não como país do sul mas sim como "a costa ocidental da Europa" -- com mudança de bandeira e tudo -- que pode ser controversa mas é criativa. Não esquecer carregar no "aqui", que lá surge, para ter uma visão abrangente da proposta.
Trata-se de um assunto que já deu alguma celeuma o ano passado e envolveu o ICEP.

3/09/2005

Com o petróleo a preços malucos

Volta e meia há um assunto que torna à baila: energias alternativas. Energias não só para produzir electricidade, mas também para reduzir muito substancialmente o consumo de petróleo no mundo. Segundo alguns americanos, o elevado preço que a população do globo paga pelo petróleo -- que provém em cerca de 65 por cento de territórios árabes -- acaba por servir os interesses do terrorismo internacional. Daí resultaria que é, afinal, o mundo que receia e abomina o terrorismo que de facto o financia. Por seu lado, os países produtores de petróleo declaram que o seu produto é lançado no mercado a preços razoáveis. O problema, segundo eles, é que os governos ocidentais o sobrecarregam tanto com taxas que efectivamente ganham mais com o petróleo do que os produtores. São pontos de vista.
Algo que não é apenas um ponto de vista mas um facto real é que hoje em dia já existe a base tecnológica para fazer andar viaturas com combinações energéticas que reduzem em muito o consumo de petróleo. Já circulam numerosos carros híbridos que trabalham com uma mistura de electricidade -- acumulada em bateria -- e fuel. Existem carros com depósitos flexíveis, i.e. adaptáveis a percentagens diferentes de gasolina, etanol ou metanol. O país que conheço com maior número de veículos movidos a gás, com bilhas que se transportam na parte traseira da viatura e se recarregam nas bombas normais, é o Brasil. Quarenta por cento dos novos carros brasileiros vêm equipados com depósitos flexíveis. Se imaginarmos -- mesmo fora deste belo exemplo dado pelo Brasil -- que um carro poderá, logo que a indústria automóvel quiser, ser movido não só a gasolina ou gasóleo mas sim por uma mistura de apenas 15 por cento de petróleo e 85 por cento de etanol ou metanol, constataremos que a importância do petróleo baixará consideravelmente.
Dir-me-ão: e os lobbies das grandes companhias petrolíferas? E os lobbies da indústria automóvel?
Pois sim. Também me lembro que o petróleo do Mar do Norte saía inicialmente tão caro que a sua exploração era posta em causa. Hoje já não. Se os preços do petróleo continuarem a subir, a indústria vai ter de rever a matéria dada. A revolução acabará, afinal, por constituir uma larguíssima janela de oportunidades para as grandes companhias.

Sofrimento é virtude?

Há dias, pelas cinco da tarde, entrei numa igreja do Minho para uma mirada ao interior, que desconhecia. Estava a decorrer um serviço religioso, razão pela qual a porta estava aberta. Não pude deixar de ouvir o velho sacerdote dirigir-se simpaticamente às catorze pessoas -- contei-as -- que ocupavam apenas os bancos da frente do vasto templo. Falava-lhes "deste vale de lágrimas", repetindo várias vezes "Senhor, tende piedade de nós!" Não sou crente. Admiro, no entanto, as pessoas que têm verdadeira fé, as quais naturalmente respeito. No templo de pedra, frio, com altares laterais dedicados a santos sofredores e mártires, não pôde deixar de me ocorrer a imagem do frequente pensamento português "coitadinhos de nós". Lamúria pegada, queixas e mais queixas. Quem se lamuria, não anda contente nem motivado. Produz pouco e com pouca alegria.
Tomar o sofrimento como uma virtude é uma visão que pode considerar-se masoquista. Na generalidade, o português tem-na. Daí que gabar-se do seu sofrimento acabe por ser virtuoso também. Suponho, no entanto, que esta característica não é apenas portuguesa, mas sim das sociedades católicas, de uma maneira geral.
A atitude de comiseração -- o coitadinho, afinal -- conduz à lamúria também na televisão, uma fonte muito importante para nós. São apresentadas com demasiada frequência pessoas que estão descontentes com isto e com aquilo. Nestes últimos tempos, houve uma insistência tremenda com o frio. Pessoas do campo que estão habituadas a temperaturas baixas e que não consideravam a vaga de frio nada de especial foram quase que forçadas a dizer aos repórteres que, sim senhor, "está um frio de rachar", "não há memória de uma coisa assim". É a nossa costela árabe a misturar-se com a judaica: o Muro das Lamentações, as expectativas baixas para que não saiamos frustrados, as palavras a substituir repetidamente os actos.
Mas "é disto que o meu povo gosta", como o Perestrelo adora dizer. Será curioso notar que os cristãos não-católicos veneram a cruz do Cristo, mas não o colocam lá. É um detalhe importante. A imagem de sofrimento constante não ajuda muito. Pelo contrário. Lembra-nos o que Milton nos diz no seu Paradise Lost: Adão e Eva, expulsos do mundo perfeito do paraíso, choraram, mas só ao princípio. Cedo enxugaram as lágrimas: havia um mundo inteiro para construir e uma vida para viver!

3/07/2005

A Torre de Babel revisitada

A história bíblica da Torre de Babel inspirou mais de duzentas obras de pintura. O célebre quadro de Pieter Bruegel (1563), presente na colecção do Kunsthistorisches Museum de Viena, talvez seja a ilustração mais frequentemente reproduzida. O episódio bíblico em questão conta-nos que, num vale da rica Mesopotâmia, os descendentes de vários clãs decidiram unir esforços e construir uma torre, com milhares e milhares de tijolos sobrepostos em camadas e unidos por uma poderosa argamassa. A Jeová, que apreciou a união das pessoas para fazerem algo em conjunto, a torre não pareceu, porém, mais do que uma prova da ambição desmedida do homem. Querer chegar ao céu? Com que utilidade? Por pura soberba? Daí ter resolvido descer do seu olímpico assento até ao meio dos homens que se afadigavam a erguer aquela monumental estrutura. E, com um gesto, pôs toda a gente a falar línguas diferentes. A partir daí, biblia dixit, a comunicação entre os construtores perdeu-se, e a torre permaneceu, como as pinturas o ilustram, inacabada para todo o sempre. Assim terão, simbolicamente, nascido as diferentes línguas e as consequentes dificuldades de comunicação entre os homens.
Neste dealbar do milénio, a globalização parece, porém, dar mostras de voltar a criar uma língua comum, sobreposta aos múltiplos idiomas diferentes que se encontram no planeta. Isto não quer dizer união de esforços. Essa será sempre uma outra história.
Segundo um recente artigo da Newsweek, nunca como hoje sucedeu que uma língua fosse falada no mundo por um número maior de pessoas do que o conjunto dos que a utilizam como língua materna. Considerando o inglês a língua-mãe em países como o Reino Unido, os Estados Unidos e a Austrália, verifica-se que só na Ásia o número de indivíduos que se expressam com relativa fluência em inglês -- mais de 350 milhões -- equivale sensivelmente ao total da população daqueles três países. À sua conta, a China possui uma quantidade de estudantes da língua inglesa que ronda os 100 milhões! É claro que falam um inglês sui generis. Consegue-se à légua distinguir um indiano a falar inglês, por exemplo. Ou um chinês. Mas esse é um aspecto secundário, que faz no entanto surgir, com vocábulos e expressões próprias, um "Japlish", um "Hinglish" ou um "Spanglish". Os utilizadores estrangeiros de inglês são hoje três vezes mais do que os nativos de língua inglesa. O que interessa é que as pessoas sejam bilingues. A razão desta loucura de aprendizagem do inglês é basicamente uma: empregos! Melhores empregos. Se há umas décadas eram apenas os diplomatas e os directores executivos de firmas que necessitavam de inglês, hoje em dia essa necessidade aumentou extraordinariamente. A deslocalização de firmas, as comunicações por e-mail, a leitura de instruções em numerosas aplicações informáticas, uma grande fatia da linguagem da Internet, o atendimento de encomendas do estrangeiro, a comunicação com visitantes de outros países, a leitura de livros técnicos, a apresentação de comunicações em seminários e congressos, e um ror de outras coisas, têm levado muitos países a incluir o Inglês no seu 1º ciclo de estudos. Em Portugal iremos em princípio seguir o mesmo rumo.
Será que um dia conseguiremos de facto ter todos os construtores de uma eventual "Torre de Babel" a entenderem-se perfeitamente entre si e a trabalharem em conjunto?

3/05/2005

De peso médio

O próximo governo inclui uma série de pesos-médios, indivíduos que sabem pensar por si próprios e não são meras correias de transmissão partidária. Oxalá todos interiorizem aquilo que vão jurar quando tomarem posse em Belém: servir o país com lealdade, dando-lhe o melhor do seu saber. Por outro lado, esperemos que o Primeiro-Ministro esteja à altura de coordenar esta equipa, num momento que é particularmente difícil para Portugal. Para ele, é um verdadeiro desafio.

Rebuçados para uns, campo minado para outros

Santana Lopes não desiste de se servir da nação em vez de servi-la. Numa altura em que o seu governo está mais do que demissionário, ei-lo que continua a enviar para o Diário da República nomeações de homens e mulheres da sua confiança (ou do seu partido). Um amigo meu perguntaria, com evidente candura: "É ilegal?" Não. Ilegal não será. Mas revela uma tremenda falta de ética, absolutamente indesculpável num homem que já declarou à comunicação social que vai continuar na política, pois é praticamente só isso que tem feito e sabe fazer. Aos governantes seus sucessores deixa um campo verdadeiramente minado. Desta vez, nem mesmo Salazar ousaria dizer que era "A bem da Nação".

Parte do interior norte revisitada

Durante cerca de uma semana não pude dar a minha habitual contribuição a este blog. A razão é simples: fui fazer um pequeno périplo, digamos de saudade, pelo norte do país. Assentando arraiais no interior do distrito de Braga, mais concretamente nas Terras do Bouro, pude revisitar locais a que não ia há mais de uma década. Opinião geral: positiva. Apesar de, sem surpresa, ter encontrado uma população de faixa etária elevada, deparei-me com o mesmo sentido de labor, muitas pequenas indústrias, agricultura de esforço e abnegação. Cidades e vilas bem mais desenvolvidas, com virtudes e defeitos. Muita obra em curso, bastantes subsídios da União Europeia. Tenho ido ao Norte nos últimos anos, mas geralmente para eventos ou visitas a cidades como o Porto, Guimarães ou Viana do Castelo. As auto-estradas escondem-nos hoje o interior do país. Interessava-me rever o que está por detrás dos bastidores. Não fiquei decepcionado. Foi bom encontrar nas Terras do Bouro estradas impecáveis, embora com algumas aldeias de populações pobres e sujeitas a árduo trabalho. Gado à beira das vias, aguardando pacientemente que o levem para os pastos, vacas e bois misturados com porcos, galinhas e patos junto às casas -- não é coisa que se veja todos os dias. Algo que não existia antigamente: todo o gado bovino devidamente identificado. Mais à frente são os garranos do Gerês à solta por aqueles montes. Em grupos de três a seis ou sete, sempre com as fêmeas protegidas por um garanhão adulto, foi uma beleza ver, naqueles altos e pedregosos morros, esses cavalos pastando tranquilamente, trotando apenas, mas calmamente, quando o visitante se aproxima demasiado. Os garranos do Gerês parecem estar em grande forma. São criados em regime de liberdade total e em estado semi-selvagem. Tenho pena de o nosso blog não comportar fotografias! As paisagens continuam de sonho. Tive ocasião de subir o Gerês, atravessando a fronteira da Portela do Homem e descendo um pouco à Galiza para voltar logo a Portugal pelo Lindoso. O conjunto mais espectacular de espigueiros do país, juntamente com o do Soajo ali a dois passos, continua de boa saúde. Dar uma olhadela pela arborizada zona do mosteiro de Nossa Senhora da Abadia e outra por São Bento da Porta Aberta vale muito a pena. Com estes belos dias de sol de inverno, as árvores cobertas de musgo são um encanto. Há alguns senãos, claro: a sinalização nas estradas, apesar de ter melhorado consideravelmente, ainda apresenta sérias lacunas. Mas tudo isso faz parte do jogo, afinal. Como fazem parte do jogo as esplêndidas moradias que encontramos em dezenas e dezenas de povoações. Já no repousado regresso a Lisboa, a cidade de Aveiro e, concretamente, a ria (Torreira e S. Jacinto) recomendam-se. Aquele Portugal pareceu-me relativamente bem.