3/22/2005

As duas Europas. Bolkestein ou Frankenstein?

Foram os americanos que, aquando da invasão do Iraque, seguiram a clássica táctica de "dividir para reinar". Classificaram a União Europeia em "velha" e "nova" Europa. A nova Europa concordava com a posição dos EUA, a outra opunha-se. É uma história que recorda o epíteto com que os católicos em tempos mimosearam os cristãos que deles discordavam: "protestantes".
Pois agora são os europeus que se autodividem a propósito da directiva da autoria de um ex-comissário europeu chamado Bolkestein, que recebe a denominação de "Frankenstein" pelas nações que a ela se opõem. Esta directiva visa facilitar a criação de empresas de prestação de serviços em qualquer país da União Europeia. Apesar de não ter tido origem no seu consulado, o seu actual Presidente defende-a.
Na linha da mesma lógica que tem presidido à evolução da UE, a directiva propõe a eliminação de obstáculos à prestação de serviços fronteiriços. Assim, uma empresa de carpintaria portuguesa, por exemplo, poderia instalar-se em França, praticando preços mais baixos do que os franceses, regendo-se pelo princípio do país de origem. É óbvio que isto iria retirar trabalho às empresas do ramo gaulesas, que praticam preços mais altos. A situação poderia vir a causar problemas sociais em França, caso a iniciativa portuguesa fosse seguida por empresas espanholas, polacas e checas, todas com preços altamente concorrenciais -- obrigando os franceses a andarem de cavalo para burro e a nivelarem-se por baixo. Numa outra hipótese, situação idêntica poderia ocorrer com empresas de informática originárias de países com salários mais baixos.
Como seria previsível, o patronato europeu é favorável à directiva, assim como os países do Leste. Também previsivelmente, países como a França, a Alemanha e a Suécia e respectivos sindicatos de trabalhadores estão contra.
Politicamente, dado que a aprovação da "Constituição Europeia" está agendada em vários países para datas relativamente próximas, discussões desta natureza não facilitam as coisas aos governos que pretendem ver a "Constituição" aprovada. Esta União Europeia não é de construção nada fácil.
E você, concorda ou não com Bolkestein?

Sem comentários:

Enviar um comentário