6/04/2007

Incógnito

Numa experiência inédita realizada em Janeiro deste ano, Joshua Bell, um dos mais famosos violinistas da actualidade, tocou incógnito durante 45 minutos na estação L’Enfant Plaza, do Metro de Washington. De manhã e em hora de ponta. Das 1097 pessoas que passaram por ele, só uma o reconheceu, e foram pouquíssimas as que foram atraídas pela sua música. Esta provocatória iniciativa foi da responsabilidade do jornal Washington Post, que pretendeu lançar um debate sobre arte, beleza e contextos. Ninguém notou que o violinista tocava num Stradivarius de 1713, que vale 3,5 milhões de dólares.
Três dias antes, Bell tinha actuado no Symphony Hall de Boston, onde os melhores lugares custam mais de 100 dólares. Na estação do Metro foi ostensivamente ignorado pela maioria. A excepção foram as crianças, que, inevitavelmente, e perante a oposição do pai ou da mãe, queriam parar para escutar Bell, algo que, diz o jornal, indicará que todos nascemos com poesia e esta é depois, lentamente, sufocada dentro de todos nós.
"Foi estranho ser ignorado", disse Bell, que é uma espécie de sex symbol da música clássica. Envergando jeans, uma t-shirt e boné de basebol, Joshua Bell, que tem presentemente 39 anos, interpretou Chaconne, de Bach, que é, na sua opinião, "não só uma das melhores peças musicais de sempre, mas também um inegável sucesso". Executou, ainda, Ave Maria, de Schubert, e Estrellita, de Manuel Ponce. Recebeu das pessoas que passavam um total de 32 dólares e 17 cêntimos, sem contar com os 20 dólares da pessoa que o reconheceu.
"Foi uma sensação muito estranha ver que as pessoas me ignoravam", disse Bell, habituado aos aplausos das salas de espectáculo. "Num concerto, irrita-me ouvir tosses ou um telemóvel a tocar. Mas no Metro as minhas expectativas diminuíram substancialmente. Fiquei agradecido pelo mínimo reconhecimento, mesmo um simples olhar", acrescentou.
Terá sido este um caso típico de "pérolas a porcos"? Será a beleza algo objectivo, que se pode medir, ou tão-somente uma opinião? Mark Leitahuse, director da Galeria Nacional de Arte, não se surpreende: "A arte tem de estar no seu contexto próprio. Se, por exemplo, retirarmos uma pintura famosa de um museu e a colocarmos num restaurante, ninguém lhe prestará atenção."
Para outros, como o escritor John Lane, o que aconteceu na estação do Metro não significa que "as pessoas não tenham a capacidade de compreender a beleza, mas sim que ela deixou de ser relevante".
E o que acham da experiência os meus amigos?

P.S. Este texto, que adaptei ligeiramente, foi-me enviado por um amigo. Achei interessante incluí-lo no blogue.

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