Saí de casa ajoujado com dois grandes sacos de jornais velhos e revistas para colocar no Ecoponto a trinta metros da minha porta. A tarde está muito quente e cheia de sol, com um calor que, diga-se, tem tardado a aparecer. Hoje irrompeu em força. A minha atenção recai sobre uma dezena de indivíduos em T-shirt que, junto dos seus dois ou três carros parados ao lado dos que estão mesmo estacionados espreitam curiosos um carro da polícia, que parou à sua frente. As pessoas sentadas nas duas esplanadas da rua agitam-se também, ansiosas por saber o que se passa. Por que motivo viria ali a polícia? E eis que chega um segundo carro, com mais dois agentes. Pára perto do outro. Numa rua pacata como a minha, que farão estes dois carros da polícia, que aliás entraram sem fazer soar qualquer sirene? Dois polícias, um deles muito jovem ainda, saem da última viatura a chegar. Uma moça que está à minha frente no passeio encaminha-se exactamente para o mais novo e beija-o. "Demoraste tanto! O que é que andaste a fazer?" A resposta, bem-humorada, foi a de que tinham tido de ir a um lado. E de braço dado com a rapariga, ele e a moça entraram, juntamente com o colega, na única loja aqui da rua que está aberta aos sábados à tarde: a loja dos gelados! Os polícias da outra viatura não demoraram a fazer o mesmo.
Feliz a rua que atrai os agentes da autoridade só porque tem ainda nos dias de hoje um pequeno estabelecimento que faz óptimos gelados. Aliás, nos dias quentes como o de hoje a lojinha é procurada logo de manhã pelos carrinhos dos vendedores que depois vão fazer o seu negócio por essa cidade fora. São gelados de confecção caseira. Tão bons que fazem as delícias dos polícias e dos muitos miúdos da escola primária aqui da rua. Ah, é verdade, os tais indivíduos de T-shirt, desiludidos com o desenrolar da cena, meteram-se nos respectivos carros e desandaram, com os rádios em altos berros. Eu voltei aqui num instante para escrever estas linhas e, afinal, para me felicitar por morar numa rua que ainda vai tendo uma casa que fabrica gelados à moda antiga. Baunilha, caramelo ou chocolate?
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