11/26/2008

Gerações em foco

A Fundação Gulbenkian acaba de organizar mais um interessante colóquio, que teve, como é habitual, a participação de oradores de vários países do mundo. Tendo como base a revolução demográfica que se tem operado em múltiplos países da Europa e noutras partes do globo, as sessões abordaram várias questões relacionadas com essa revolução.
"Na Europa, o século XX foi o último em que os mais jovens foram maioritários" foi, provavelmente, a frase que mais me impressionou. Condensou em breves palavras aquilo que parece ser uma realidade de que nem sempre nos damos conta. Nomeadamente graças ao desenvolvimento da medicina e de cuidados relacionados com a segurança social, a esperança média de vida tem aumentado significativamente. Ultimamente, essa esperança de vida tem subido cerca de um ano em cada quatro a cinco anos que passam. Como é evidente, isso transporta-nos a um panorama de idosos que hoje já é bem visível mas que será ainda muito mais acentuado nas próximas décadas. Em muitos países europeus, por volta de 2060 os indivíduos com mais de 60 anos estarão em maioria. É por isso que o século XX terá sido o último século em que aqueles que têm menos de 60 anos predominaram.
Com o já tradicional eufemismo terminológico, a situação demográfica começou por ser designada como "um problema", passou depois a constituir "um desafio" e é hoje vista como "uma oportunidade". Basicamente a situação não se altera, mas dá-se-lhe pelo menos um cunho mais positivo, o que sempre é preferível a uma visão dramaticamente pessimista. Procura-se criar a ideia, optimista, de que "não é verdade que ao sermos velhos deixamos de ter sonhos e aspirações; quando deixamos de ter sonhos e ambições é que nos tornamos velhos."
Muito tem mudado na nossa sociedade. Se há um número muito maior de idosos, há por outro lado uma quantidade menor de bebés a nascer. No princípio dos anos 70, a média da idade em que uma mulher tinha o seu primeiro filho andava pelos 24 anos; hoje ronda os 30.
Nesta altura, no Reino Unido há cerca de 10 mil pessoas com 100 anos ou mais. Cálculos apoiados em dados reais projectam este número para 250 mil nos meados do século. Impressionante! Em princípio, irá haver mais crianças com avós e bisavós vivos do que no passado. E se não houver mais é também porque as crianças nascem aos pais cada vez mais tarde.
Estatísticas das Nações Unidas dizem-nos que em 1950 havia no mundo apenas 205 milhões de pessoas com mais de 60 anos, o que significava qualquer coisa como uma em cada doze pessoas. Havia então apenas três países que tinham mais de 10 milhões de pessoas com essa idade: a China (42 milhões), a Índia (20 milhões) e os EUA (20 milhões). Hoje em dia, o número dessas pessoas triplicou! Presentemente, há doze países com mais de 10 milhões de pessoas de idade superior a 60 anos. Só a China e a Índia combinados ultrapassam os 205 milhões que existiam nos anos 50. Na Europa, 20 por cento da população conta com mais de 60 anos! (Lévi-Strauss, que há dias celebrou o seu 100º aniversário, admitiu que este mundo tão diferente já não é o seu!)
Pense-se no que este panorama significa em termos de sustentação do modelo de Segurança Social. Dos 3 ou 4 activos que agora existem para cada reformado, não é ousado afirmar que se passará para dois activos para cada pessoa que passou à situação de reforma. Muita coisa terá que mudar, evidentemente!
Por que motivo serão os senior citizens tão importantes? Em primeiro lugar, porque se estima que três-quartos de todos os activos financeiros do planeta sejam propriedade de indivíduos com mais de 50 anos. E, depois, porque muitos deles, nestes novos tempos, não se importam de gastar o seu dinheiro. Os americanos chamam SKI-ing (spending the kids’ inheritance) à disponibilidade dos mais velhos de gastarem o seu dinheiro. Entretanto, esta atitude de gastar hoje (já!) a futura herança que se legaria aos filhos deve ter sofrido um golpe muito rude com a actual crise financeira que, aliás, surgiu com a ideia de empregar todo o dinheiro para fazer a economia girar. Pelo contrário, nota-se agora, é fundamental que se aumente de novo a proporção do que se reserva para uma poupança. É mais do que natural que ela venha a ser uma parcela necessária. Só aparentemente é que as economias individuais estarão contra a economia global!

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