11/17/2008

O questionário

Que os tempos não estão bons para arranjar emprego já todos nós sabíamos. Que era tão difícil ingressar nos lugares de topo do governo de Obama é que já pode causar alguma surpresa.
Quem quiser candidatar-se a um desses lugares terá de responder a 7 páginas de um questionário que se arrisca a ser dos mais extensos de sempre. Este inclui um total de 63 (sessenta e três) perguntas sobre aspectos pessoais e profissionais dos candidatos, sendo que algumas das questões colocadas abrangem também os cônjuges e os filhos adultos. Num dos pontos, os candidatos devem responder se eles ou alguém da sua família são detentores de armas. Terão de incluir notícia de e-mails que possam causar embaraços a Obama, juntamente com posts de blogs e links às suas páginas do Facebook. Outra questão que é formulada inquere sobre os pseudónimos que eventualmente possam ter usado nas suas comunicações na Internet.
Não é de agora, segundo a edição do Herald Tribune de onde retiro a notícia, que os sucessivos governos colocam obstáculos deste tipo a fim de evitar a repetição de erros do passado, mas nunca uma exposição tão detalhada foi exigida aos candidatos, o que terá também certamente sido ocasionado pelas mudanças tecnológicas entretanto ocorridas no mundo. Todo o questionário levanta alguma controvérsia, mas pretende impedir que aquilo que Obama propugnou na sua campanha - o não ao lobbying e ao banco de favores tão comum em Washington - venha a ocorrer com membros e técnicos superiores do seu governo.
Para dar uma ideia mais pormenorizada das questões, note-se por exemplo que, na rubrica "Auxílio doméstico", o questionário indaga qual é a condição de imigrante de cada um dos empregados que o candidato possa ter na sua casa, de governantas a amas, de motoristas a jardineiros. Mais: pergunta se os próprios candidatos têm em dia os impostos devidos pelas pessoas que empregam.
O item que inicia o questionário não se limita a pedir aos candidatos um curriculum vitae, mas sim todos os c.v. que tenham tido necessidade de apresentar durante os últimos dez anos. Os candidatos têm ainda de fornecer informação sobre as firmas em que eles/elas e os seus respectivos cônjuges tenham exercido actividade, e ainda se detêm interesses nessas firmas superiores a 5 por cento. Por outro lado, todos os presentes de valor superior a 50 dólares que os candidatos ou seus cônjuges tenham recebido de pessoas que não sejam amigos íntimos devem ser identificados.
Eis a transcrição literal de dois dos 63 itens do questionário:

(13) Electronic communications: If you have ever sent an electronic communication, including but not limited to an email, text message or instant message, that could suggest a conflict of interest or be a possible source of embarrassment to you, your family, or the President-Elect if it were made public, please describe.
(14) Diaries: If you keep or have ever kept a diary that contains anything that could suggest a conflict of interest or be a possible source of embarrassment to you, your family, or the President-Elect if it were made public, please describe.


Como estamos em Novembro, lembremos que quem não quer que as castanhas lhe rebentem na boca tem que lhes dar um bom corte antes de as assar. Quem não quer ter no seu governo ministros ou chefes de gabinete que possam um dia ser alvo de escândalos negativos para a imagem da Administração, precavê-se com questionários deste tipo. Ninguém poderá dizer que este questionário não é altamente metediço e espiolhante da vida dos candidatos!

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