Dum lado surge um esguio choupo, do outro uma cerejeira florida. Ali sobe o magro salgueiro enquanto uma centena de metros à frente a macieira nos traz belas maçãs. O eucalipto ávido de água contrasta com a pereira carregada de apetecíveis peras. O carvalho rijo e austero não se revê na linda ameixieira. Aquele pinheiro acolá ergue-se bem mais alto do que a sofredora oliveira. O ácido limoeiro tem alguma inveja dos frutos doces da sua vizinha laranjeira. O cedro não vê na ramalhosa figueira um membro da sua família.
As árvores são assim. Masculinas de um lado, femininas do outro. Mais frutíferas e saborosas as femininas. Mais lenhosas as masculinas. E as que são macho e fêmea simultaneamente? Por exemplo, o que tem o pinheiro manso, com a sua frondosa copa e jeito feminino, a ver com o outro pinheiro, o bravo, macho e seco? Será que o bravo tem que ser sempre o macho, como sucede entre a oliveira e o olivão? Por seu lado, faz pouco sentido que o salgueiro, tipicamente masculino na sua postura, mantenha o nome quando é salgueiro-chorão. Tão diferente, verde e coposo!
Tinha eu a minha teoria de que as árvores de frutos edíveis eram todas femininas, enquanto as outras eram masculinas. No meu enunciado mental, dizia para mim mesmo que as árvores com frutos que não são imediatamente trincados com gosto, como é o caso do limoeiro e do cajueiro, são masculinas. Então e os pessegueiros? Não dão frutos óptimos? O.K., mas esses frutos são masculinos, os pêssegos. Tal como os frutos do limoeiro são os limões. Os restantes são femininos, como as cerejas, as peras, as maçãs, as ameixas, as laranjas. Ah sim, então e os figos, que são filhos da figueira? Deveriam ser figas? Curiosamente, em alemão os figos são femininos. Seja como for, as nossas árvores – femininas na sua designação genérica - contrastam com o masculino el árbol do castelhano, o também masculino arbre francês, assim como com o alemão Baum. Razão tiveram os ingleses para tratar tudo de forma neutra. Nem masculino, nem feminino. Inventaram o cúmulo da facilidade e do pragmatismo. Creio que foi por esta prevalente noção pragmática da sua cultura e, ainda mais, por motivos políticos que não estão certamente dissociados desse mesmo pragmatismo, que o inglês se tornou uma língua fácil de usar no intercâmbio de um mundo tecnologicamente mais unificado.
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