12/27/2008

Accionista à força

Se houve acções do mercado bolsista português que nunca me interessaram foram as de bancos. Não digo que, indirectamente, através de fundos de investimento eu não tenha estado minimamente ligado ao bom ou mau desempenho de uma ou outra instituição bancária de que nunca soube o nome. Mas agora é diferente. Agora, o Estado fez-me estar de olhos bem abertos para a maneira como a banca portuguesa está a ser gerida. Empresta ou não empresta dinheiro, engorda ou não engorda, resolve as suas dívidas ao estrangeiro ou não? O que paga aos seus administradores é consentâneo com o trabalho destes e com a situação financeira da instituição? Todas estas coisas me vão interessar imenso no ano que agora vai entrar. 2009 vai ser o ano em que todos os contribuintes portugueses, comigo incluído, vão estar bem atentos!
Se tudo correr bem, embora seja accionista à força como contribuinte líquido do Estado com os meus impostos indirectos e directos, não irei receber nada mas posso dormir mais sossegadamente. Se a coisa andar para o torto, porém, é sinal de que o dinheiro que os meus compatriotas e eu fomos obrigados a dar não foi suficiente. Então teremos a situação bem preta, porque não são só os bancos que ficam na mó de baixo mas também o próprio Estado.
À custa de tanto ouvir dizer que "o Estado somos nós" começo a perceber que há algo de verdade nisso, principalmente quando me vejo forçado a subsidiar a banca, a correr riscos e, ainda por cima, a não ter eventualmente outros benefícios do que o retorno à situação que vivemos no passado. Ora, como confessei acima, nunca coloquei o meu dinheiro voluntariamente para comprar acções da banca portuguesa. Esta cena, inimaginável há uns tempos, faz-me lembrar uma história que se contava no tempo de Salazar, em que este chegava à janela, fazia o seu discurso e, no final, dizia para a multidão que o ouvira mais ou menos atentamente cá em baixo: “Obrigado, meu povo!”. E o bom povo respondia: “Obrigados somos nós!”

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