A primeira parte do título roubo-a, como todos sabem, ao Fernando Pessoa poeta. A segunda deduz-se de um documento do Conselho Pontifício Justiça e Paz, aprovado pela Secretaria de Estado do Vaticano. Conforme o jornal Público informa e aqui se transcreve quase literalmente, o Vaticano aponta a existência dos chamados paraísos fiscais - centros financeiros offshore -, como uma das causas principais da presente crise financeira internacional. Porquê? Porque através deles se forja e implementa uma complexa trama de práticas económicas e financeiras, de que são exemplos "fugas de capitais de proporções gigantescas" motivadas por objectivos de evasão fiscal, facturação fraudulenta e reciclagem de actividades ilegais.
Segundo o Vaticano, a utilização dos paraísos fiscais produz um efeito negativo duplo, beneficiando os rendimentos mais elevados, que assim conseguem escapar ao controlo fiscal nos seus respectivos países, e simultaneamente penalizando os mais baixos rendimentos dos trabalhadores e das pequenas empresas. Com isso, logram desviar a tributação do capital para o trabalho. A fuga fiscal é calculada em 255 mil milhões de dólares, i.e. mais do triplo do montante da ajuda pública ao desenvolvimento por parte dos países da OCDE.
"A crise financeira expôs uma profunda crise espiritual e um conjunto de valores mal orientados. Na luta generalizada pelo lucro, o sentido e o valor do trabalho humano foram relegados para segundo plano”, afirmam os bispos.
E afirmam muito bem. Como se sabe, as grandes fortunas têm privilegiado os centros offshore. O que isso significa de sonegação de pagamento de impostos devidos ao Estado está expresso no documento. No seu todo, esta prática espelha uma ética virada do avesso, que depois tenta lavar a face através da formação de associações de ética empresarial, onde se mostra o contrário do que se pratica. Portugal conhece bem o sistema.
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