Portugal pode não possuir poços de petróleo mas, a julgar pelo que imensas pessoas dizem de si próprias, é possuidor de inúmeros outros poços: de virtude. Quantos de nós não ouvimos já alguém a falar exaltadamente de outrem e a mencionar as manias, as manhas, a má-formação, o egoísmo desse outrem. E ainda: a sua inveja, a sua incompetência, a sua secura.
O interessante é que quem fala assim de um outro ser humano está implicitamente a autoconsiderar-se juiz. Juiz a sério, com qualidades opostas aos defeitos que aponta: é um ser perfeito, impoluto, objectivo, profissionalmente competente, honesto, altruísta, solidário. Um verdadeiro modelo de virtude. Todos conhecemos pessoas assim, do Minho aos Açores e da Madeira ao Algarve. Por vezes, aliás, somos nós próprios que ocupamos essa mesma cátedra de juiz. Somos, também nós, poços de virtude. Enriquecemos o país. Virtualmente.
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