12/02/2008

Mulheres imigrantes fazem pela vida

Algures numa gaveta, juntamente com um monte de agendas antigas, ainda mantenho um cartão de visita a que achei bastante graça quando mo deram nos meus anos de liceu. O cartão tem um nome - Madame Inocência -, uma indicação-tipo-slogan (Best girls in town) e uma morada junto à Rua do Alecrim (Cais do Sodré, Lisboa). A prostituição era então ainda uma actividade legal nesta cidade, as prostitutas possuíam um cartão de identidade e eram obrigadas a consultar regularmente o médico, o qual verificava e atestava o seu estado de saúde.
Quando visitei pela primeira vez as ruínas de Pompeia e pude ver com algum detalhe os eróticos frescos nas paredes dum edifício circular que outrora albergara um lupanar, confirmei – como se isso fosse necessário - a milenaridade daquela actividade das "lobas".
Em Portugal não se pode dizer que tenha havido propriamente proibição, mas entre os anos 60 e a revolução de Abril de 74, já sem as inspecções médicas obrigatórias de antigamente, a situação mudou substancialmente para a prostituição. Após 1974, dentro da onda de liberdade que se criou, os governos deixaram de se interessar concretamente pelo assunto. A prostituição propriamente não é crime. Crime é o lenocínio, isto é, a exploração de prostiputas.
Há pouco tempo foi noticiado que na Indonésia as massagistas eram agora obrigadas a andar com um cadeado nas calças para impedir a prostituição nas casas em que davam as massagens. Foi uma medida forte. As autoridades da Indonésia deviam dar uma saltada ao nosso país nos tempos que correm. Com a imigração e consequente entrada de muitas mulheres sem ocupação definida em Portugal, abriram, como todos sabemos, numerosas casas ditas de alterne. O caso das mães de Bragança tornou-se famoso, há anos, devido a uma reportagem feita por uma revista americana. As mães de Bragança acusavam essas mulheres de desviarem os maridos das suas legítimas camas.
Presentemente, pelo menos na cidade de Lisboa tornou-se relativamente frequente o aluguer de andares em prédios residenciais para efeitos de prostituição. Esses andares são preferencialmente os do rés-do-chão, a fim de incomodarem o mínimo possível os restantes inquilinos do prédio. As marcações são feitas por telemóvel e, à chegada ao edifício, os clientes devem telefonar de novo para verificarem se há luz verde para entrarem. Está absolutamente fora de hipótese que esperem no hall dos edifícios. Nesse caso, deverão aguardar nas redondezas o tempo necessário e sem dar nas vistas. Para não se enganarem na campainha do lado de fora, o botão respectivo está pintado de baton. Quanto a nacionalidades, há de tudo - ucranianas, brasileiras, africanas, moldavas, russas -, geralmente com alguma rotação entre diversas casas, trabalhando assim em rede como mandam as regras da boa gestão.
Existe, sem dúvida, uma diferenciação nítida relativamente ao passado, sinal dos novos tempos em que vivemos.

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