12/12/2008

Dúvidas que naturalmente se levantam

Como quase todos sabemos, a sigla inglesa SWOT é a expressão de um conjunto de quatro elementos considerados essenciais numa análise de boa gestão. Os quatro componentes referem-se a Pontos Fortes (Strengths), Pontos Fracos (Weaknesses), Oportunidades (Opportunities) e Ameaças (Threats).
A actual crise financeira não é mais do que do que a tradução prática da crise de valores de que há muito se fala. Quando a mentira prevalece sobre a verdade, o embuste sobre a transparência, a vigarice sobre a honestidade, o que se poderia esperar? Quando os fluxos financeiros entram (profundamente) no reino do virtual e circulam em quantidades muito superiores aos gerados pela economia real, poderia mais tarde ou mais cedo deixar de ocorrer o que ocorreu?
Pois sim, dir-se-á: "aqui está mais um profeta do passado". Até concordo que se diga isto no que respeita ao parágrafo atrás. Só que não foi ele que me levou a escrever estas linhas. O que me preocupa é o ponto 3 do SWOT: estará a aproveitar-se realmente a "oportunidade" para corrigir o sistema? Pelo que vejo, até ao momento não há diferenças substanciais. Nem a verdade prevalece sobre a mentira, nem a honestidade sobre a vigarice. As bolsas continuam com a sua mais do que inquietante volatilidade, que permite aos grandes investidores lucros consideráveis. Os hedge funds mantém-se a funcionar praticamente com a mesma falta de controlo de anteriormente. Os paraísos off-shore não abrandam a sua actividade, embora o valor dos fundos neles geridos tenha baixado muito consideravelmente. Porque se tarda tanto a tomar medidas neste campo?
Veja-se que os diversos Estados se colocaram inegavelmente do lado da banca, i.e. dos grandes investidores institucionais, que por acaso são também, muitos deles, os grandes especuladores internacionais. Aliás, como é que se consegue ganhar tanto dinheiro tão rapidamente? Só fazendo-o fluir dos bolsos dos que têm menos para os daqueles que possuem bolsos tão grandes que até se vêem forçados a escondê-los nos “paraísos fiscais” para dar menos nas vistas e por outras razões consabidas. Às palavras dos governantes sobre a (justificada) razão das garantias estatais que oferecem – fazer movimentar a economia, permitir empréstimos a firmas em dificuldades – muitos banqueiros têm feito ouvidos de mercador. Querem primeiro ver os seus prejuízos reduzidos, depois pensarão no resto. Primum vivere, deinde philosophari, como aprendi a dizer nos meus tempos de liceu.
Entretanto, gostaria de chamar a atenção para um vídeo, já não totalmente recente, sobre a crise financeira, que está no YouTube com legendas em português. Dêem uma vista de olhos, se fazem favor. Além do mais, é bem-humorado. http://www.youtube.com/watch?v=CmGTnveyG7E . (Se por acaso não se vir ou ouvir bem aqui devido à hiperligação, vale a pena copiar o website e ouvir fora do blog.)

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