2/07/2009

Perguntas para as quais ainda não encontro respostas convincentes

Os bancos que podiam ter sido salvos foram alvo de ajuda. O Estado introduziu-se sobremaneira na propriedade privada que era geralmente adjectivada de “excelente”. Inserido num sistema capitalista, o Estado ajudou prioritariamente o sector mais capitalista de todos: o financeiro. Argumento principal: revitalizar a economia, possibilitar empréstimos às empresas, que não sobrevivem sem o recurso ao crédito. Aqui pergunta-se: dentro da linha deste mesmo argumento, que parece em certa medida válido - até ver! - , porque não paga o Estado a empresas de toda a ordem os milhões de euros que lhes deve? Será que isso não contribuiria para uma revitalização da economia? Ou será porque o Estado não emprestou de facto dinheiro à banca e apenas lhes deu a garantia de poderem ir buscar dinheiro a outras paragens, sendo ele, Estado, portanto o avalista desses empréstimos? Mas, se sim, terá o Estado constituído as necessárias provisões, i.e. terá posto de lado, em reserva, o capital que serve como avalizador dos empréstimos contraídos ou confiado apenas na boa gestão dos bancos que terão contraído os referidos empréstimos?
A par de uma imensa descrença no sistema, o grande problema que surge desta enorme crise é o de uma economia muito parada, que tem levado a uma fortíssima onda de desemprego. O problema é que, ao dizermos "desemprego", estamos a falar de algo como o oposto de vida, uma "desvida" para milhares de pessoas. "Não ter emprego é como estar numa prisão", ouvi há tempos da boca de um desempregado que já levava vários meses sem nada fazer, desesperado.
Em face da situação, pergunta-se:
- continuarão as empresas do mundo ocidental a recorrer em massa ao uso de mão-de-obra barata de países mais pobres, de regime ditatorial se necessário, para que a sua margem de lucro seja maior - com isto condenando milhares de pessoas dos seus próprios países ao desemprego?
- continuarão os centros offshore a poder impunemente desempenhar o seu papel de fuga aos impostos devidos nos seus respectivos países pelos grandes capitalistas?
- continuarão os hedge funds a não ter controlo bolsista e a influenciar as bolsas de todo o mundo?
- continuarão os bancos a emprestar dinheiro a pessoas para comprarem casas com preços empolados, deixando essas pessoas profundamente endividadas?
- continuarão as inequidades tremendas do ponto de vista de rendimentos que foram criadas pelo sistema capitalista?
- continuarão os bónus e os extras pagos aos administradores dos bancos socorridos com o aval do Estado? É vital que não se deixe criar a ideia de que os principais ganhadores e especuladores do passado recente são premiados em vez de punidos. A trafulhice não pode compensar!
- continuarão as multinacionais a ditar as suas leis aos Estados e a decretar o primado da economia de mercado sobre todo o resto?
- continuará na maioria das escolas a não se desenvolver o espírito crítico nos alunos, a ensinar o "just do it!" e a desprezar disciplinas como Filosofia? Estaremos a caminho de uma sociedade de executantes não-pensantes?
- continuará a hipocrisia de se dizer uma coisa e fazer o seu oposto, tal como discursar em congressos e assinar artigos nos media sobre os deveres sociais das empresas e depois não os cumprir? Ou realçar o mérito dos trabalhadores enquanto há lucros chorudos e depois encerrar as fábricas ao primeiro sinal de prejuízo, antes que seja tarde!?
- continuará a definir-se a felicidade como o prazer de consumir?

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